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terça-feira, 30 de abril de 2013



  • Escape da armadilha de se tornar refém do próprio ciúme

    Heloísa Noronha
    Do UOL, em São Paulo



    Orlando/UOL
    Quando as cenas de ciúme são constantes, mesmo que um dia você tenha razão, ninguém leva a sério
    Quando as cenas de ciúme são constantes, mesmo que um dia você tenha razão, ninguém leva a sério
Quem sente ciúme em excesso, e não se acanha em demonstrá-lo publicamente, acaba se tornando uma figura folclórica socialmente. De tão acostumados aos barracos e ataques de insegurança, amigos, familiares e colegas de trabalho passam a encarar as crises como triviais. Ou seja: ninguém leva a pessoa ciumenta a sério nem mesmo quando ela está coberta de razão.

Exemplos? Situações tensas como o amado não tirar o olho da garota da mesa ao lado no barzinho ou quando a namorada não faz nada para cortar um paquera insistente. Todo mundo teria o direito de reclamar, mas, como os muito ciumentos colecionam situações constrangedoras, qualquer indício de manifestação de insegurança é tido como exagero, chilique ou fruto de uma imaginação fértil.

Se você se identificou com esse padrão, saiba que para mudá-lo não adianta trocar de parceiro, mudar a turma de amigos ou ignorar os comentários dos parentes. Cabe a você refletir e tentar modificar não a relação com os outros, mas o modo como se relaciona com o ciúme. Mesmo porque não há como mudar a imagem sem primeiro realizar uma transformação interna.

"As pessoas interpretam o que veem e não há nada fazer. Dar bronca no parceiro em público é tido como sinal de destempero. Quem não se coloca como refém do ciúme chamaria o namorado para conversar a sós, depois, e só então perguntaria o que quer saber", diz a psiquiatra e psicanalista Helena Masseo de Castro.

Para a psicanalista, quem não é ciumento talvez nem cogite a hipótese de uma traição, muito menor armaria um escândalo. "Se a pessoa apenas viu o par olhando para outra, poderia pensar que por tê-la achada bonita ou feia, por conhecê-la de algum lugar ou qualquer motivo que não necessariamente interesse", completa.

Controle seu ciúme
O ciumento precisa tentar decifrar os próprios sentimentos para aprender a controlá-los –com muito esforço e vontade de exercer o autoconhecimento ou à base de terapia, se necessário.

Segundo os especialistas, os ciúmes ocorrem em quem é inseguro e que não enxerga ou não valoriza suas qualidades.

"Para combater o próprio ciúme, assuma sua existência e trace as condições que o sucederam. Será que tem a ver com deficiência de estruturas emocionais sólidas? Ou é fruto de uma experiência ruim com traição, daí a dificuldade em estabelecer uma relação madura, baseada na confiança?", pergunta Alexandre Bez, psicólogo especializado em relacionamentos pela Universidade de Miami.

Até mesmo a história dos pais, como o fato de um dos dois sentir muito ciúme do outro, pode levar a pessoa a aprender a se relacionar de maneira possessiva.

Para o psicólogo Rafael Higino Wagner, a reflexão sobre o sentimento pode levar à descoberta de que não são as atitudes do outro que provocam o ciúme, mas problemas de ordem pessoal. Ao ter consciência disso, fica mais fácil prestar atenção no próprio comportamento e evitar se deixar levar pela emoção e perder o controle.

"Principalmente em público, pare, respire, inspire e reflita sobre a situação que te incomodou. Pergunte-se se realmente algo está acontecendo e se existem motivos concretos para os pensamentos que tem", fala Rafael.

Se algo lhe incomoda, converse tranquilamente, exponha seu ponto de vista, proponha um posicionamento e diga que não aceita deslealdade. Mas tudo isso a sós, em casa, e só depois de ter certeza de que sua reclamação tem fundamento.

Analisar os motivos que levam a se relacionar com a pessoa também costuma funcionar: faça uma lista das situações boas que viveram, do que ela é capaz de fazer por você e dos pontos fortes do romance. Tudo isso vai deixando o ciúme em segundo plano.

Outra sugestão é colocar-se mais vezes em primeiro lugar. "Pense nas coisas que gostaria de aprender e experimentar. Invista mais em você, na sua imagem e no seu aprendizado. Essas são situações que demonstram amor próprio e que, aos poucos, vão mudando a imagem que os outros têm de você", afirma Rafael.



Moda consciente: marca holandesa vende acessórios em prol do combate à violência doméstica

Vendendo peças em forma de coração, a SeeMe conseguiu auxiliar mulheres na Turquia que sofreram com este mal

por Mariana Di Pilla


IMAGEM DA CAMPANHA E FOTO DE ALGUMAS DA PEÇAS DA MARCA (Foto: Divulgação)
Que o amor nunca sai de moda, a gente já sabe.E que a paixão pelos acessórios em formato de coração, também. A marca SeeMe não só preenche estes "dois requisitos", como também é engajada em causas mais profundas. Criada a partir de projetos financiados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês, ela busca com a renda ajudar a melhorar as condições das mulheres nas favelas de Ankara, capital da Turquia e segunda cidade maior do país (perdendo apenas para Istambul). A SeeMe fornece hoje apoio no país a mais de 1.500 mulheres e encontrou emprego para mais de 350.
O foco principal é combater a violência doméstica, como mostra a foto da campanha. A SeeMe trabalha em parceria com a organização norte-americana Dove Ltd, focada no assunto, e ainda criou a associação Keid, com o mesmo fim. Além disso, a marca ajudou a reformar o sistema turco de prestação de serviços para as vítimas de violência doméstica, com o apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros holandês, da organizações holandesa Federatie Opvang e da UNFPA (United Nations Population Fund).
A Seeme está à venda em badaladas multimarcas europeias, como a parisiense Colette e Luisa Via Roma, de Firenze. Você também pode adquirir as peças online, através do site oficial da marca.

Governo negocia mudanças em projeto de lei antidrogas

O governo federal negocia alterações no Projeto de Lei 7.663/2010, que trata do combate às drogas e está em fase final de tramitação na Câmara. A votação estava prevista para abril, porém, por falta de acordo foi adiada. A expectativa de seu autor, o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), é vê-lo em pauta no dia 8 de maio. As informações são do jornal Valor Econômico.

O objetivo dos articuladores do Palácio do Planalto é evitar que a presidente Dilma Rousseff seja forçada a vetar trechos considerados polêmicos da proposta. De acordo com deputados,  o governo já teria sinalizado ser contrário à descriminalização das drogas e a favor da internação involuntária de dependentes químicos.

Na última quinta-feira (25/4), a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, coordenou uma reunião com Osmar Terra, o relator da proposta na Câmara, deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL), integrantes do grupo parlamentar que trata do assunto e representantes de diversos ministérios. Uma nova reunião com Gleisi está prevista para esta terça-feira (30/4). À tarde, os parlamentares devem se encontrar com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para discutir um dos pontos que o governo tenta alterar antes de o texto ser colocado em votação. A proposta eleva as penas de traficantes, inclusive os de pequeno porte. O governo, porém, argumenta que a medida tende a aumentar a ocupação das já superlotadas cadeias brasileiras.

"Não dá para abrir mão do aumento da pena para o tráfico, porque é uma questão de diminuir a epidemia. Tem que retirar quem passa a droga", sublinhou Terra. O relator da proposta reforçou: "Ninguém abre mão [governo e deputados], mas abrimos uma conversa".

Por desagradar o governo, o relator Givaldo Carimbão retirou do projeto o artigo que determinava às instituições de ensino o cadastramento de suspeitos e usuários confirmados de drogas. Para alas do governo federal, a iniciativa poderia fomentar a marginalização e formação de estereótipos, além de transformar as escolas num espaço "inquisidor" em vez de ser um local acolhedor e onde se cria uma relação de confiança entre estudantes e educadores.

Outro ponto que pode ter mudança é a internação involuntária de dependentes de drogas. O projeto permite a internação a pedido da família ou de qualquer "servidor público" que constatasse a existência de motivos que justificassem a medida, a qual seria tomada após a decisão de um médico responsável. Um acordo deve ser fechado, autorizando servidores das áreas de saúde e assistência social a tomarem a decisão nos casos em que os usuários não estiverem em contato com seus parentes. Antes, segmentos do governo federal insistiam que a internação compulsória não deveria ser a primeira opção de tratamento.

O parecer de Givaldo Carimbão também prevê incentivos à atuação das chamadas comunidades terapêuticas, ao prever que o tratamento dos dependentes químicos será custeado pelo poder público ou pelo Sistema Único de Saúde quando não houver vagas em programas governamentais de atendimento ou acolhimento. Num primeiro momento, alas do governo alertaram o Palácio do Planalto para o risco de ser criado um sistema paralelo ao SUS. Mas, segundo os deputados, tais resistências não teriam se confirmado nas mais recentes reuniões.

Revista Consultor Jurídico
http://www.conjur.com.br/2013-abr-29/governo-negocia-mudancas-projeto-lei-combate-drogas

Lista virtual mostra fila por vagas em creches e escolas de Campinas

Banco mostra situação das crianças que estão na lista de espera.
Sistema será disponibilizado a partir desta quarta-feira (1°). 

Do G1 Campinas e Região

A Secretaria de Educação disponibiliza a partir desta quarta-feira (1°) um banco de dados pela internet com a posição das crianças na fila por uma vaga em creche e escolas de Campinas (SP). O sistema permite acompanhar de forma virtual o déficit de 6.791 vagas, para crianças entre zero a 3 anos. No entanto, a expectativa para diminuir esta defasagem é para o próximo ano, com a conclusão do processo de licitação para as construções de oito naves-mãe.
O serviço também possui informações com nomes de crianças que estão na fila de espera e também um mapeamento indicando as escolas infantil, fundamental e entidades conveniadas. A busca pode ser feita pela página da internet da prefeitura na categoria de educação.
Segundo a responsável pela educação infantil Flávia Leão, o objetivo é proporcionar aos pais o acompanhamento da fila e garantir transparência. “O sistema tem uma legenda e por esse motivo é autoexplicativo, determinado com as faixas etárias. Os pais podem buscar pela escola ou por endereço da escola ou do trabalho”, explica.

Para conseguir atender à demanda por novas matrículas, a secretaria pretende contratar 176 novos monitores que irá gerar 600 vagas até maio.


Aluna de 13 anos de colégio particular denuncia assédio sexual praticado por colegas


ELIANE TRINDADE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

A vítima tem 13 anos. Os agressores, 14. Todos são alunos de uma tradicional escola particular paulistana. No último mês, são o centro de um enredo que põe à prova o papel de pais, educadores e da própria instituição e que abre o debate sobre violência sexual entre adolescentes.
A garota, do oitavo ano, diz ter sido assediada sexualmente por três meninos do nono ano. Segundo ela, os meninos mandaram uma mensagem de celular falsa, em nome de um amigo dela, marcando um encontro para depois da aula de inglês.
Chegando lá, em uma praça perto do colégio, na zona oeste, ela conta ter sido cercada e agarrada contra a vontade pelos três. Conseguiu se desvencilhar e foi direto à escola fazer a denúncia.
A instituição suspendeu os meninos por sete dias e se viu na obrigação de debater o fato, já que versões aumentadas ganharam os corredores. Uma orientadora percorreu as turmas do quinto ao nono ano esclarecendo 500 alunos.
"É grave, mas não se trata de estupro", informou a direção da escola. Para não expor os envolvidos, a Folha preservou o nome da instituição.
"Não houve violência física, mas desrespeito. Estamos trabalhando a questão e acreditamos ser possível reverter a situação dentro da escola", disse a coordenação.
A família da garota decidiu não levar o caso à polícia. "Estamos tomando as decisões com o colégio", diz a mãe da menina, que é professora na mesma instituição.
Os pais dos meninos não quiseram se manifestar. A garota também não quer mais tocar no assunto. Sua mãe diz respeitar a decisão, mas afirma: "Escolhemos viver a situação, e não esquecê-la. Estamos atentos às consequências e abertos ao diálogo".

BRINCADEIRA BOBA
Há duas semanas, em outra escola particular na mesma zona oeste, dois meninos de 12 anos foram suspensos por terem feito "uma brincadeira" com alunas da mesma idade. "Eles chegam por trás, põem a mão no ombro das meninas fingindo que vão abraçar e descem até os seios", descreve a orientadora. Só que uma reclamou. "Chegou com olhos cheios de lágrimas, disse que pegaram no seu peito."
Um dos garotos assumiu e quis pedir desculpas à colega, que não aceitou. Os pais foram chamados e os meninos, afastados por um dia.
Situações como essas são, sim, violência sexual, segundo a psicóloga Renata Coimbra Libório, pesquisadora da Unesp. "Não precisa consumar o estupro. O toque sem consentimento é abuso."
Tempos atrás, um aluno distribuiu na sua escola um vídeo em que ele fazia sexo consensual com uma colega de 13 anos. Ele foi separado da turma até a conclusão do semestre e, depois, convidado a se retirar do colégio.
Casos de adolescentes que passam dos limites são frequentes e não acontecem só na escola, mas em festinhas e baladas, lembra a psicóloga Rosely Sayão, colunista da Folha. "A sexualidade desses jovens está muito exacerbada e eles não têm noção de respeito. Acham normal passar a mão nas meninas e beijar não sei quantas", diz.
A fase dos 13 anos é a pior, segundo Sayão. É quando a efervescência hormonal se junta à hiperestimulação.
"Há estímulos o tempo todo, na TV e na música", diz Neide Saisi, psicopedagoga e professora da PUC-SP.
Muitos desses estímulos não são positivos, segundo Antonio Carlos Egypto, psicólogo especialista em orientação sexual. Basta assistir a um programa de humor ou a peças publicitárias para perceber que "a imagem da mulher-objeto é usada de maneira escancarada", diz ele.
"Os adolescentes falam que vão 'pegar' alguém. A gente só pega objetos", complementa Sayão.
A desvalorização da mulher é reforçada pela família e pela escola mesmo sem saber, segundo Renata Libório: os pais valorizam o comportamento garanhão dos meninos e a escola pensa estar prevenindo a violência aconselhando as meninas a usar roupa larga e saia comprida.
"Por que não ensinar o menino a respeitar a menina, não importa a roupa que ela use?", pergunta.

PREVENÇÃO
A prevenção da violência sexual nessa faixa etária depende de uma discussão sobre papéis e gêneros, segundo Egypto. E isso é responsabilidade da escola e da família. "Não tem só que discutir a prevenção de gravidez na adolescência. É preciso falar do prazer, de como conter os impulsos. Não podemos fingir que o desejo não existe."
Dá para contar nos dedos as escolas particulares de São Paulo que têm projetos específicos de sexualidade, de acordo com Maria Helena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, entidade que faz trabalhos em educação sexual.
O tema está previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais. "Não é o que acontece. A sexualidade deve estar em palestras e no dia a dia dos professores, na forma como tratam todos os temas."
No Gracinha (Escola Nossa Senhora das Graças), a professora de ciências e a orientadora são responsáveis por falar com as turmas sobre sexo.
"Tenho uma aula por semana e falamos de sexo, internet e outros assuntos", diz Nausica Riatto, orientadora do sexto ao nono ano. Ela considera que o colégio faz um trabalho de prevenção, mas, mesmo assim, todo ano acontece uma polêmica relacionada a sexo na escola, como casos de exibição de imagem na internet.
No Colégio Bandeirantes, a bióloga Estela Zanini coordena há 16 anos um programa de educação sexual que inclui aulas semanais. "Eles têm muita informação sobre sexo, o problema é que nem sempre essa informação é contextualizada, muitas vezes é cheia de preconceitos."
O que falta talvez não seja educação sexual, mas o ensino de valores morais.
De acordo com a pedagoga Luciene Tognetta, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral, o tema é alvo de um jogo de empurra entre escola e pais. "Não cabe só à família ensinar respeito e regras de convivência", afirma.
Os pais deveriam passar valores ligados ao espaço privado. A escola deveria ensinar regras da vida pública. "É no relacionamento com pessoas de fora da família que desenvolvemos princípios éticos apurados e aprendemos a respeitar qualquer um."
Para Tognetta, o ensino moral deve ser espalhado por todas as disciplinas e servir de vacina contra a violência.
"Ainda pensam que a moral é ensinada em aula de religião. É preciso debater, fazer com que o aluno pense nas suas atitudes. A escola tem esse dever."
Mas a instituição sozinha não faz tudo, lembra Sayão. "A escola precisa de apoio, está acuada e impotente, e que apoio a sociedade tem dado? Não vejo ninguém como vítima ou culpado nesse caso. A sociedade é cúmplice dessa história."


Lanche infeliz

"É hora do lanche!". Essa frase, que era dita quase aos gritos pelas crianças quando soava o sinal na escola anunciando o intervalo, costumava ser uma alegria.
Depois de mais ou menos duas horas estudando ou brincando com os colegas e sendo conduzidas pelos professores, tomar o lanche trazido de casa e feito com carinho e dedicação pelos pais ou pelos avós, às vezes pela empregada da casa, era tudo o que as crianças precisavam.
O lanche na escola faz mais do que alimentar a criança ou matar sua fome. É ao fazer aquela refeição que o aluno relaxa e se lembra, nem sempre de modo consciente, da segurança de sua casa e da presença e do afeto dos pais. E é isso que refaz a energia da criança e permite que ela retome o seu período de trabalho escolar com mais coragem e mais confiança.
Eu tenho observado o tipo de lanche que os alunos tomam atualmente nas escolas.
Bem, primeiramente temos de lembrar que hoje há dois tipos de escola: aquelas que ainda preservam a tradição de a criança levar seu alimento de casa e aquelas que já oferecem o lanche para os seus alunos.
Por que tantas escolas privadas assumiram mais esse encargo em seu trabalho? Bem, pelo que sei, por dois motivos bem diferentes.
Algumas poucas dessas instituições se preocuparam com a qualidade da alimentação das crianças e assumiram a responsabilidade de educar seus alunos também nesse quesito.
Essas escolas, que atendem principalmente os menores de seis anos, preparam o lanche em seus próprios espaços e não se preocupam apenas com a refeição balanceada e/ou com a oferta de alimentos saudáveis para as crianças. Elas incentivam os alunos, ensinam a experimentação e oferecem uma merenda saborosa, bonita e com um aroma que dá água na boca de qualquer adulto! E as crianças se deliciam nessa hora. Dá para perceber a alegria delas na hora do lanche.
Há outras escolas que decidiram oferecer o lanche por solicitação dos pais. Elas contrataram nutricionistas ou empresas que levam os lanches para a escola e, sinto informar: as opções que conheci não pareciam muito apetitosas, não. Tampouco saudáveis do jeito que se fala.
Certamente há nutricionistas por trás desses lanches, mas pode ser que esses profissionais se preocupem mais com o aspecto nutricional dos alimentos do que com as crianças e com sua educação.
Por fim: tenho observado lanches que os alunos levam de casa e tenho ficado impressionada com o que tenho visto. Sucos industrializados, bolos, bolachas recheadas, salgadinhos, bisnagas etc.
De vez em quando, consigo ver alguns alunos comendo frutas ou um bolo caseiro no intervalo. Mas essa cena tem sido cada vez mais rara, tanto quanto a alegria das crianças no momento de comer o lanche.
Preparar o lanche de um filho é um ato amoroso. Nestes tempos em que os pais declaram tantas vezes seu amor pelos filhos, por que é que as lancheiras que vão de casa para a escola têm sido assim tão pouco amorosas?
Não vale justificar o problema com a falta de tempo dos pais. Talvez a explicação esteja mais para falta de disponibilidade, não é?
Afinal, preparar qualquer refeição para os filhos exige isso: disponibilidade e amorosidade. E dá trabalho.
Mas ter filhos pressupõe mesmo muito trabalho. Inclusive na hora de preparar o lanche que ele irá comer longe de casa. E amor aos filhos se declara dessa maneira: cuidando deles, fazendo-se presente na ausência e, de vez em quando --de vez em quando!--, demonstrando esse sentimento com beijos, frases e abraços. E isso, de preferência, quando eles aceitarem essas manifestações de bom grado.
Rosely Sayão
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. http://folha.com/no1270512



 
Chorar faz bem, todo mundo sabe disso, mas agora os japoneses estão fazendo isso de forma organizada, em eventos exclusivos para quem quer derramar lágrimas. Os encontros têm acontecido mensalmente em Tóquio, reunindo dezenas de homens e mulheres entre os 20 e os 40 anos, como informou o "Asahi Shimbun", um dos jornais mais importantes do Japão. Tem leitura de contos tristíssimos e exibição de vídeos emocionantes. Tudo feito para a plateia chorar copiosamente e, assim, aliviar o estresse. No final, os participantes podem subir ao palco e contar suas próprias histórias, desde que também tenham elementos para encher os olhos d'água. 

O perfil do assassino

Após homicídios em massa, busca do público por explicações oscila entre loucura e ideologia

Por Francisco Carlos Teixeira
O atentado de Boston, em 15 de abril, chocou a opinião pública. Após breve hesitação, o FBI e a presidência dos EUA classificaram-no como um ato terrorista. Tratava-se, claramente, de uso de violência, com armas de destruição em massa, contra civis, com objetivo de atingir o poder constituído. Terrorismo clássico. Quando, por meio das onipresentes câmeras de vigilância, surgiram os primeiros retratos dos suspeitos, os irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, de 26 e 19 anos, irrompeu uma nova vaga de espanto: eram membros “incluídos” da comunidade local, com acesso à universidade — engenharia e medicina —, além de histórico esportivo e de participação coletiva, incluindo uma disputada bolsa de estudos. Os testemunhos de amigos, colegas e vizinhos davam conta de jovens comuns, sem qualquer indício de uma breve explosão de violência, sendo Dzhokhar considerado inclusive “popular” — referência ambicionada entre jovens americanos.

Apenas no caso de Tamerlan — o irmão mais velho, ex-estudante de engenharia, esportista, casado e com uma filha de três anos — havia uma única frase, em um meio eletrônico, na qual dizia “não ter amigos, não entender os americanos”. Havia, ainda, notas ruins seguidas — mas, naquele ponto, ainda não se sabia que ele estivera longo tempo fora dos EUA.


Este foi o ponto de partida para a criação rápida e superficial de um diagnóstico de “inadequação” ou “incapacidade adaptativa” para explicar o comportamento de Tamerlan. Em seguida, o tio dos suspeitos, enquanto falava à imprensa chocado e colérico, chamou os sobrinhos de losers, fracassados, um forte adjetivo desabilitante nos meios norte-americanos. Assim, o “perfil psicológico” de ambos — incluindo o “popular” Dzhokhar— foi montado para explicar a ação dos irmãos Tsarnaev.


De ‘inadequação social’ a ‘radicalismo político’

A mídia americana — tanto a conservadora quanto a “liberal” — rapidamente construiu um caso sobre a patologia social dos irmãos Tsarnaev. Na mesma esteira, a mídia brasileira abraçou tal análise, trazendo os brutais atentados de Boston para o âmbito do terrível tiroteio de Sandy Hook/Newtown, Connecticut, em dezembro de 2012. Assim, tratar-se-ia de um caso de inadequação social, possivelmente de alguma psicopatologia. Tal versão, rapidamente aceita entre nós (“claro, quem mata inocentes só pode ser louco!”), foi divulgada por vários comentaristas, jornalistas e cientistas sociais.

Sob essa ótica, Sandy Hook, em 2012, e Boston, em 2013, deveriam ser examinados sob a mesma luz, bem como o duplo ataque de Anders Breivik, na Noruega, em 2011. Neste caso, um jovem educado, branco, de pouco mais de 30 anos, com recursos e trabalho, decidiu matar seus conterrâneos e destruir a sede do governo democrático e transparente de Oslo. Deveria haver algo errado com o jovem, já que a Noruega estaria acima de quaisquer suspeitas (mesmo que abrigue uma ativa comunidade de extrema-direita racista). Da mesma forma os quatro jovens alemães de Zwickau, cidade industrial próspera e de pleno emprego na Alemanha, deveriam ser doentes por planejar e executar o assassinato de 11 pessoas, sendo 10 de origem turca.


No entanto, as respostas fáceis logo desabaram, como desabaram nos casos de Oslo e de Zwickau, na Alemanha. Sem dúvida, em Sandy Hook, em 2012, e em Realengo, no Rio, em 2011, estávamos em face de uma crise pessoal e psicológica profunda, da qual não temos, no momento, material de qualidade para examinar. No caso dos jovens assassinos de Realengo e de Sandy Hook podemos ver um surto psicótico em desenvolvimento. Porém, nos casos de Beate Zschäpe e seus dois parceiros de Zwickau, dos irmãos Tsarnaev e de Anders Breivik, temos claros objetivos e envolvimentos políticos, cobertos ou não por ideologias bem especificas.


Beate e seus amigos Uwe Mundlos e Uwe Bohnhardt compunham uma rede que se intitulava “Clandestinidade Nacional-Socialista“ (ou seja, nazista). Anders Breivik nutria claro ódio contra negros, árabes e mestiços e acusava-os de conspurcar a raça nórdica de seu país, além de advogar uma forte islamofobia. Por fim, a imprensa americana relatou que Dzhokhar teria declarado às autoridades que o atentado foi uma resposta à ação americana no Afeganistão e no Iraque. Em suma, a área de conforto da explicação fácil desabou. Nada provaria um “problema pessoal” e, sim, uma “questão social e política”, como diferenciaria o sociólogo Wright Mills.


Ruía também um último esforço do “politicamente correto” — “não devemos falar que eram muçulmanos ou supor ligações com redes terroristas” —, esquecendo, contudo, que, com seu diagnóstico de psicopatologia, retratavam pessoas caladas, diferentes e casmurras como potenciais terroristas. A “zona de conforto” agradava a todos: o FBI (que deixara escapar uma preciosa informação dos russos), a presidência dos EUA, a família Tsarnaev e a população em geral, posto que “problemas pessoais” e “pessoas que surtam” — numa psicologia prêt-à-porter que explica tudo no caso “do outro” — são sempre possíveis.


Contudo, depois de idas e vindas, uma junta médica declarou Breivik capaz e determinou que ele deveria submeter-se a um julgamento comum. Beate Schäpe, a única sobrevivente da “Clandestinidade Nacional-Socialista”, começa a ser julgada na Alemanha. E Dzhokhar foi formalmente indiciado ainda no hospital.


Motivações políticas, ideológicas e religiosas são, sim, capazes de mobilizar indivíduos e mesmo massas para o mal. Este se banaliza, como já foi descrito, e existe no cotidiano, ao nosso lado. Instituições e entes poderosos cultivam o ódio e imprimem em pessoas — em qualquer uma ou precisamos de um contexto e de uma história de vida singular para isso? — a vontade de matar. Por isso são redes, materiais ou imateriais, mas sempre redes com objetivos e métodos. Devemos mudar o nosso lugar de observação, enxergar no outro uma dor que não vemos do nosso próprio lado de conforto, e lutar contra isso. Se possível, contra a causa da própria dor. Caso seja impossível, deve-se utilizar a lei, penalizar o ódio e sua pregação e qualificar os crimes daí decorrentes.


Francisco Carlos Teixeira da Silva é historiador, autor de “Vox, voces“


http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/04/27/o-perfil-do-assassino-494652.asp

segunda-feira, 29 de abril de 2013


Antropólogo fala sobre a importância da educação sexual

Qual a importância da educação sexual na vida de crianças, adolescentes e jovens e como ela pode ser importante no enfrentamento à violência a que essa parcela da população tem sido exposta? Em entrevista à Childhood Brasil, o antropólogo Felipe Areda fala sobre o desafio que a sociedade tem em aprender a falar sobre o assunto COM e não simplesmente PARA crianças e adolescentes, contribuindo para que eles tenham condições de fazer suas próprias decisões e se defenderem de situações de risco.

Além de antropólogo, Felipe Areda, também é pesquisador do Núcleo de Estudos da Diversidade Sexual e de Gênero da Universidade de Brasília (UnB) e educador social da Diretoria de Serviços Especializados a Famílias e Indivíduos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do Distrito Federal.
Childhood Brasil - Por que falar ainda encontramos resistência ao falar de sexualidade?
Felipe Areda - Em nossa sociedade, a sexualidade é o eixo sobre o qual construímos nossa concepção sobre as pessoas. Dou um exemplo: ao ver uma mulher grávida, qual a primeira pergunta que lhe fazemos? O sexo do bebê. Só a partir dessa informação que conseguimos imaginá-lo. Ao sexo, logo adicionamos um conjunto de expectativas, que vai da cor do seu quarto até com quem e como ele se relacionará sexualmente. Observe que até então a criança nem nasceu. Crianças e adolescentes são bombardeados com informações sobre sexualidade. Informações que ditam como eles e elas devem ou não agir. É um discurso de controle construído desde antes do nascimento: um conjunto de expectativas sobre o desejo e o comportamento de uma pessoa. É preciso que as crianças e adolescentes tenham o espaço de encarar seu corpo e seu desejo como um campo de descoberta e de criação, e não um espaço de temor frente às expectativas e coerção dos outros.
CB – Qual a relação entre esse “não-falar” abertamente sobre a sexualidade e a violência sexual?
Areda – Em nossa sociedade, o espaço onde ocorre com mais frequência a violência sexual é o espaço familiar. Segundo a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 38,2% dos agressores homofóbicos são da própria família. Há outras violências ainda mais naturalizadas. Podemos citar como no Brasil é comum que familiares obriguem os meninos a terem contato com material pornográfico desde a pré-adolescência ou que mesmo os levem a profissionais do sexo para que sejam “iniciados” sexualmente. O quadro geral é assustador. Precisamos introduzir nas reflexões sobre a infância e adolescência um conceito que, apesar de polêmico, é fundamental: o da liberdade sexual. Liberdade sexual, como define a World Association for Sexology (WAS), diz respeito à possibilidade dos indivíduos expressarem seu potencial sexual, compreendendo que esse potencial envolve necessidades humanas básicas de contato, intimidade, prazer, expressão emocional, carinho e amor. Para que haja liberdade é preciso que excluam em qualquer época ou situação de vida todas as formas de coerção, exploração, abuso e de qualquer forma de discriminação. Essa transformação de paradigma é revolucionária, pois em nossa sociedade a sexualidade é diretamente ligada ao controle e à violência. Construir uma compreensão da sexualidade que não se distingue da liberdade é abalar as estruturas de opressão da nossa sociedade, por isso é urgente que o façamos.
CB – Como você avalia o Estatuto da Juventude, atualmente em trâmite no Senado? Quais os avanços que ele apresenta e as limitações?
Areda - No texto original, o Estatuto da Juventude buscava garantir o direito à educação sexual por meio da inclusão de temas relacionados à sexualidade nos conteúdos curriculares. Esse artigo foi alvo de profunda resistência. Como resultado das negociações na Câmara, uma ressalva foi acrescida ao sétimo parágrafo do artigo 20: os temas relacionados à sexualidade deveriam respeitar a diversidade de valores e crenças. Foi um retrocesso. Sob a égide do conceito de “valores e crenças” muitas opressões são realizadas. O Estatuto da Juventude é fundamental para fortalecer um conceito e expandir o conceito de sujeito de direito que foi inaugurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Entender que crianças, adolescentes e jovens são sujeitos de direitos e que não são sujeitos-problemas ou sujeitos-menores. Ele enfrenta a compreensão de juventude com algo que deve ser vigiada, controlada e ter sua posição na sociedade cerceada. Considero que esse debate não pode ser realizado sem uma defesa radical dos Direitos Sexuais, sendo que o tema da sexualidade é um dos principais meios pelos quais erguem força de controle e vigilância com os jovens.
CH - Qual a importância de se politizar a sexualidade para a garantia da integridade e da segurança das crianças e adolescentes?
Areda - Os principais agentes transformadores da realidade são aqueles e aquelas explorados, coagidos e expropriados. É assim na luta de classe, nas luta feminista e na luta antirracista. Não seria diferente nos direitos das crianças, adolescentes e jovens. Eles devem aprender desde cedo a conhecer e reivindicar seus direitos. O mundo hoje é profundamente violento com crianças, adolescentes e jovens e essa violência não está alheia ao espaço familiar. Os conservadores gostam muito de dizer que precisamos proteger as famílias, como se a violência viesse de fora. Precisamos, sim, fortalecer a função protetiva da família e, para isso, precisamos enfrentar as violências que ocorrem dentro dela.

"Mães não podem ser infalíveis nem precisam ser", diz psicanalista

Thais Carvalho
Do UOL, em São Paulo

Betty Milan resgata em "Carta ao Filho" sua história
e tenta descobrir seus erros e acertos como mãe
Autora de mais de 20 obras literárias, a psicanalista e escritora Betty Milan, 68 anos, está lançando neste mês o livro "Carta ao Filho" (Record). Para se reaproximar e reinventar a relação com o filho, Mathias, 30, com quem se desentendeu e ficou rompida por cerca de seis meses, escreveu um texto reflexivo sobre a sua jornada como mãe.

No intuito de ajudar outras mães com seu exemplo, Betty afirma que errar também é normal para aquelas que têm filhos e que as falhas podem ser revertidas.

"Quis 'desculpabilizar' as mães, que não podem ser infalíveis nem precisam ser. A mãe só aprende a ser mãe com o filho, pois cada filho é um. Isso significa que a mãe erra. Freud, aliás, disse que a mãe sempre erra", declarou em entrevista ao UOL Gravidez e Filhos.

Confira a entrevista completa com a autora:

UOL Gravidez e Filhos: A chamada do livro diz que não há ensinamentos para ser mãe. Como as mulheres devem fazer com a avalanche de informações e palpites que aparecem desde o momento em que descobrem que estão grávidas até a maturidade dos filhos? É preciso filtrar, absorver ou fechar os ouvidos e deixar que a maneira de cada uma ser mãe apareça com o tempo?

Betty Milan: Há ensinamentos relativos aos cuidados básicos, claro. Mas até na maneira de amamentar, limpar ou dar banho na criança é preciso levar em conta a sua particularidade. Estar informado é importante, mas a informação deve ser filtrada. Não se trata de fechar os ouvidos, mas de ouvir escutando, ou seja, deixando-se surpreender e levando em conta o que o filho diz. Escrevi "Carta ao Filho" para escutar o que eu ouvia desatentamente e reinventar a relação com meu filho. Acredito que possa ajudar outras mães.

UOL Gravidez e Filhos: Você acha que "Carta ao Filho" é uma leitura tanto para as mães quanto para os filhos, para que eles consigam enxergar o valor das mães (se isso ainda não aconteceu)?

Betty Milan: Também escrevi o livro na esperança de que fosse lido pelos filhos, que frequentemente culpam as mães disso ou daquilo. Quis "desculpabilizar" as mães, que não podem ser infalíveis nem precisam ser. A mãe só aprende a ser mãe com o filho, pois cada filho é um. Isso significa que a mãe erra. Freud, aliás, disse que a mãe sempre erra.

UOL Gravidez e Filhos: Mesmo com todos os conflitos que mostra no livro, você se considera uma boa mãe?

Betty Milan: O modelo da boa mãe surgiu no século 19 e, a partir daí, as mães quiseram se encaixar nele. Acho que sou uma boa mãe por ter dito ao meu filho que não existe modelo de mãe e mãe modelo também não. Por ter ousado dizer isso em vez de fazer de conta que podia ser o que não sou. Acho mesmo que nada me importa mais. Ser livre não significa dizer o que passa pela cabeça. Sou muito contida e fiz questão de dizer em outras entrevistas que não tenho nada a ver com a mãe licenciosa. No livro eu falo dos meus sentimentos, mas não falo de sexo, por exemplo.

UOL Gravidez e Filhos: Acha que os "erros" cometidos durante a maternidade podem ser revertidos pela própria mãe?

Betty Milan: Com certeza. Desde que ela possa admiti-los. Para tanto, precisa se expressar claramente e foi o que eu tentei fazer no livro. Meu filho se surpreendeu com o texto mas, em carta que escreveu para mim a pedido de uma revista, disse que gostou do texto por ter descoberto uma mãe capaz de olhar a vida com a lente do otimismo. O texto nos apaziguou.

UOL Gravidez e Filhos: A mãe normalmente se culpa e, quando o filho comete erros, acha que o erro foi dela em "deixar tudo". Como lidar com isso?

Betty Milan: Verdade que dar limites é fundamental e os pais que não conseguem fazer isso acabam sofrendo muito. Agora, a tendência é de culpar a mãe, como mostra a expressão "filho da mãe". Uma expressão que não deveria mais ser proferida e denota o ódio de certos homens pelas mulheres.

UOL Gravidez e Filhos: O livro é uma carta sua ao seu filho. Por qual motivo esse livro foi feito? Essa conversa, com os assuntos abordados no livro, existiu com ele ou ele, assim como nós, soube por meio da obra?

Betty Milan: A escrita do livro foi provocada por um desentendimento entre nós e o afastamento dele. Escrevi para estar com ele e descobrir o motivo do desentendimento. Percebi que era demasiadamente apegada e entendi que a mãe um dia precisa dizer "vai", ou seja, cuidar pode ser sinônimo de se separar. Quando acabei de escrever, ele pediu para ler e eu submeti o texto a ele antes de publicar. Inclusive reescrevi certos trechos em função das questões que ele colocou. Foi um grande momento na minha vida e acredito que tenha sido na dele.

UOL Gravidez e Filhos: Qual conselho você daria para uma mãe que está vivendo um momento de conflito com o filho?

Betty Milan: Nunca fui de dar conselho porque não adianta. Mas sei que a escuta é o grande recurso que nós temos. Quando não é possível escutar, como no meu caso, a escrita ajuda porque nos leva a reavaliar a situação e mudar de estratégia.


Maternidade versus carreira: dá para ser feliz?

Roberta Lippi

Paola Saliby;UOL

  • Se você está infeliz no trabalho, há grandes chances de levar essas dificuldades para dentro de casa
    Se você está infeliz no trabalho, há grandes chances de levar essas dificuldades para dentro de casa
O bom e velho dilema entre carreira e maternidade atormenta praticamente todas as mães que eu conheço. A cobrança vem da sociedade e de nós mesmas seja qual for a decisão: continuar trabalhando e deixar o filho com terceiros ou parar de trabalhar para ficar em casa e estar mais perto das crianças.

Em uma entrevista recente ao Mamatraca, a psicóloga Cecília Troiano, autora do livro "Vida de Equilibrista", lembrou que se cobrarmos uma performance nota dez em todos os pratinhos que temos de equilibrar, ficaremos absolutamente frustradas.

Não vou entrar aqui no mérito dos pais ausentes que não se preocupam com os filhos e terceirizam todas as suas responsabilidades, porque esse perfil familiar merece uma discussão à parte. Falo aqui de gente como a gente, que está sempre preocupada em acertar, se informa, se frustra e procura qualidade na relação com a família em primeiro lugar.

Para quem trabalha fora, é inevitável que a culpa apareça em alguns momentos dessa dicotomia entre vida pessoal x carreira, às vezes com maior ou menor intensidade. Os dois primeiros anos dos filhos, por exemplo, devem ser muito doloridos para quem não teve o privilégio, como eu, de poder trabalhar em casa. Outros fatores também tendem a tirar uma mãe do eixo como filhos doentes ou quando passam por uma fase difícil na família ou no trabalho.

Em resumo, não há como se livrar totalmente da culpa. Mas será que não é possível lidar melhor com ela?

No fundo, o que concluo a partir de tantas discussões sobre carreira que acompanho é que os filhos precisam de pais felizes, independentemente de suas necessidades e escolhas profissionais ou pessoais. Quando as crianças se sentem acolhidas e amadas, por mais que os pais passem o dia trabalhando, elas tendem a aceitar a situação e conviver bem com ela sem grandes frustrações.

Se você está infeliz no seu trabalho de uma maneira geral e se mantém por lá apenas porque precisa pagar as contas, há grandes chances de transportar essas dificuldades para dentro de casa, gerando estresse em todas as suas relações.

Agora, se estiver segura das suas decisões e contar com o apoio da família, sem abandonar seus valores, acredito de verdade que uma mulher possa se sentir realizada na carreira e como mãe ao mesmo tempo, mesmo que não seja perfeita nesses seus papéis –e quem é?

Acho curioso que muitas mães de filhos pequenos tenham receio de dizer que trabalham porque gostam, como se isso fosse um demérito. Falo por mim: eu não seria uma pessoa feliz se fosse dedicada à maternidade e à casa 100% do tempo. Amo minhas filhas, e a minha relação com elas é prioritária e inquestionável na minha vida, mas tenho muito prazer em trabalhar. E, fazendo o que gosto, também sou uma mãe melhor pra elas, mais leve, mais realizada.

É comum que as mães achem que tudo o que acontece de ruim com os filhos é porque elas trabalham fora e se martirizam por isso, mas uma boa indicação da psicóloga que entrevistamos é observar o comportamento dos filhos e perceber o quanto isso faz sentido. Eles devem ser o nosso maior termômetro.

Eu sempre tive em mente, mesmo antes de me casar, que eu preferia ser uma profissional "média" do que me tornar presidente de uma empresa ao custo de sacrificar minha vida familiar. Faço questão de ver as meninas crescerem e optei por não abrir mão disso. E eu me sinto infeliz na carreira por isso? Não, ao contrário. Sou a melhor profissional que eu poderia ser? Talvez não. Sou a melhor mãe que eu poderia ser? Não sei. Mas sou uma profissional que adora o que faz e, acima de tudo, uma mãe que dá muito amor e busca ser uma grande referência para as suas filhas.


'No passado, brincar na rua ensinava valores', diz autor de livro sobre brincadeiras

RAFAEL BALAGO
DE SÃO PAULO

O jornalista João Fortunato, próximo a
seu escritório no bairro do Paraíso
Após observar o modo de brincar de três gerações, João Fortunato escreveu o livro "Linha de Pipa - Histórias Infantis de um Tempo Sem Internet" (Clube de Autores, R$ 32,68, 65 págs.) para mostrar aos pequenos de hoje como era a infância há algumas décadas.
O jornalista passou a infância brincando nas ruas do Jabaquara, zona sul. Depois, na adolescência, viveu na Vila Mariana. Lá seus filhos mais velhos, hoje com 26 e 30 anos, cresceram durante os anos 1980, época em que, para ele, os videogames e a TV começaram a dominar a atenção das crianças.
Hoje, Fortunato se esforça para que a filha Maria Luísa, 9, passe mais tempo com a família e com os amigos.


sãopaulo - Do que você brincava na infância?
João Fortunato - A gente se divertia com o que tinha, pois os brinquedos eram raros e caros. Pião, bolinha de gude, futebol, taco. No verão, eu jogava queimada até de noite na rua.

O que a rua tinha de tão especial?
Era o palco das brincadeiras coletivas, não individuais. No passado, brincar na rua ensinava às crianças valores como respeito, solidariedade e amizade.

Quando começou a mudança?
Tenho dois filhos que, nos anos 1980, já brincavam com videogames, como o Atari. Foi o início do isolamento, que cresceu com a tecnologia. A criança hoje joga pela internet com adversários na China ou nos EUA, dividindo aventuras sem contato pessoal. Continua sozinha.

E os celulares?
Minha filha, que não tem um, não pode ver o meu que quer pegar e jogar. Mas imponho limites. Não sou contra a tecnologia, mas a favor dos baratos de antigamente: a convivência e a amizade.

Na periferia, brincar na rua ainda é comum. Você prevê mudanças?
À medida que mais crianças acessem a tecnologia, a tendência é que passem mais tempo no computador e nos celulares e abram mão de outras atividades.

Qual o papel dos pais no processo?
Não há mais vias tranquilas, exceto as que têm cancela. A insegurança faz com que muitos pais retenham a criança em casa e as encham de atividades, como balé e futebol. Elas vão à escola em horário comercial e, de segunda a sexta, interagem com coleguinhas no recreio. No fim de semana, porém, acabam isoladas.

Como usar bem a tecnologia?
A Maria Luísa pediu um videogame portátil, mas não ganhou, pois favorece o isolamento. Temos só uma televisão, na sala. A mãe gosta de novela, o pai de futebol e a filha de desenho; isso cria ilhas em casa. Que tal vermos TV juntos para brincar, conversar e conviver? Sua filha pequena logo terá 20 anos. É importante criar histórias juntos.