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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Vídeo que ironiza culpa da mulher em caso de estupro faz sucesso na Índia

Moncho Torres

Nova Déli, 27 set (EFE).- "O estupro foi culpa da mulher, porque vestia uma roupa sexy e estava fora de casa em horários estranhos". Para refutar argumentos como estes, foi lançando na Índia um vídeo que com bastante ironia procura combater o conservadorismo em alguns setores no país.

Em um espaço branco e vazio, acompanhado por música típica de televendas, a gravação de três minutos mostra duas indianas que sorridentes explicam, sem dramas, que tipo de atitude feminina provocam para que os homens as estuprem.

"Sejamos sinceras, meninas, os estupros são culpa nossa. Estudos científicos sugerem que as mulheres que usam saia são a principal causa de estupro. Sabe por quê? Porque homens têm olhos", afirma a atriz Kalki Koechlin no início do anúncio.

O vídeo, "It's your fault", já teve mais de dois milhões de visualizações no Youtube desde que foi publicado, há uma semana, e viralizou nas redes sociais, em geral acompanhado da frase: "É culpa minha".

Por trás da campanha está o coletivo de humoristas de Mumbai "All India Bakchod" (Os charlatões da Índia), formado por Gursimran Khamba, Tanmay Bhat, Rohan Joshi e Ashish Shakya.

O coletivo decidiu fazer um vídeo porque sabiam que com ele poderiam chegar a mais gente e chamar assim a atenção sobre os "estúpidos e odiáveis comentários" que alguns fizeram após o bárbaro estupro coletivo de uma estudante dentro de um ônibus em Nova Déli, em dezembro do ano passado.

"Não sabíamos como o público ia reagir. Tínhamos medo de que as pessoas não captassem a ironia e pensassem que estávamos trivializando um tema tão sério, mas sabíamos que tínhamos que fazer algo", explicou a Agência Efe um dos comediantes, Gursimran Khamba.

A atriz Koechlin aceitou participar do projeto junto com a estrela da televisão indiana Juhi Pande porque, segundo ela, "o humor é uma maneira fantástica de enfrentar um tema sério", mas também disse ter ficado "preocupada com a possibilidade de não ser entendida".

A morte de uma estudante em decorrência do estupro por vários homens dentro de um ônibus em dezembro do ano passado causou uma onda de protestos na Índia, mas algumas pessoas culparam a jovem por ser vítima de um crime desses, e foi isso que motivou os comediantes.

O popular guru indiano Asaram Bapu, por exemplo, disse que a vítima também teve culpa, embora em menor medida que os agressores, já que em vez de resistir "devia ter rezado para Deus e pedido aos estupradores, chamando-os de 'Bhaya' (irmão), que a deixassem em paz".

O vídeo, que parodia a reunião, mostra uma das atrizes sendo atacada por vários homens e como consegue se livrar do estupro ao conseguir pronunciar a palavra 'Bhaya'.

"Sempre funciona", afirma sorridente a jovem, que pede às mulheres "que deixem de seduzir aos homens para que as estuprem".

A reação nas ruas ao vídeo tem sido muito positiva, contou a entusiasmada Pragya Varma, de 21 anos, classificando o vídeo de "incrível", e revelou que já teve de enfrentar mais de uma vez a mesma situação.

"Compartilhei no Facebook para que meus amigos vejam. Não é culpa nossa, não podemos ser culpadas por usar uma saia curta", sentencia Varma.

Simranjeet Kaur Walia, de 19 anos e estudante de jornalismo, também gostou do vídeo, e ressaltou que "ninguém pode nos culpar (pelos estupros) por sair de casa depois das oito da noite ou por nos vestir de uma determinada maneira. Mas como isso acontece!", lamentou.

A polícia não escapou da paródia no vídeo, acusada em várias ocasiões de incompetente e insensível diante das agressões sexuais, e de transformar as delegacias, como denunciou a organização Human Rights Watch, em "lugares que inspiram temor".



Arábia Saudita aprova lei contra a violência doméstica




AFP


RIADE, 29 Ago 2013 (AFP) - A Arábia Saudita aprovou uma lei contra a violência doméstica, que habitualmente atinge mulheres e crianças, o que foi comemorado pelos ativistas de direitos humanos, que pediram nesta quinta-feira sua aplicação imediata. 

A lei, aprovada pelo gabinete segunda-feira, busca proteger as pessoas de "todas as formas de abuso" e oferece refúgio e "ajuda social, psicológica e médica", segundo o texto. 

De acordo com a lei, os agressores vão incorrer em penas que vão de um mês até um ano de prisão e multa de até 50.000 riyals (13.300 dólares). 

A medida, sem precedentes neste reino ultraconservador, inclui "todo tipo de violência física e psicológica", indicou o ministério dos Assuntos Sociais em sua página na internet. 

As mulheres são as principais vítimas da violência doméstica, já que "98% da violência física" é exercida por homens contra mulheres, nota. 

A Arábia Saudita, que aplica uma estrita versão da sharia (lei islâmica), impõe muitas restrições às mulheres, baseadas em leis e tradições que fortalecem o poder dos homens. 

No domingo, as autoridades sauditas libertaram uma mulher de 50 anos que era mantida em cativeiro por parentes há três anos. 

Os ativistas de direitos humanos sauditas comemoraram esta nova lei e exigiram sua rápida aplicação.

"A lei representa um ponto de viragem em matéria de proteção dos direitos humanos no reino e, principalmente, oferece proteção às mulheres", considera Mufleh Qahtani, presidente da Sociedade Nacional de Direitos Humanos da Arábia Saudita.

"A violência doméstica tem que ser tratada de uma maneira especial... já que a vítima e o agressor muitas vezes vivem sob o mesmo teto".

"O que importa é a aplicação da lei e encontrar mecanismos legais para a sua implementação, uma vez que o objetivo final é preservar a família", disse.

Outro ativista, Shaieb Jaafar, acredita que a lei é "um passo importante" para acabar com a "escalada da violência em famílias ou até mesmo contra as trabalhadoras domésticas", a maioria das quais são mulheres asiáticas.

Mas aplicar a lei "vai levar tempo devido a atrasos administrativos", ressalta Shaieb.

O defensor dos direitos humanos Walid Abuljair também expressou dúvidas quanto a aplicação da lei devido a "mentalidade burocrática, especialmente entre os conservadores radicais".

O ministério dos Assuntos Sociais prometeu que os mecanismos para a execução da presente lei serão publicados antes do final do ano.

Xeque saudita afirma que dirigir prejudica os ovários das mulheres

EFE

Em Riad

O xeque saudita Saleh al Lohaidan, conselheiro judicial do Ministério da Justiça, afirmou que dirigir pode prejudicar os ovários das mulheres, em declarações publicadas neste domingo (29) pelo jornal local "Al Sabq".

O religioso alegou que a medicina estudou este assunto e concluiu que, quando as mulheres conduzem, seus quadris se elevam, o que pode afetar seus ovários.

Segundo seu raciocínio, isto faria com que as motoristas possam dar à luz a crianças com algum tipo alteração, motivo pelo qual pediu às mulheres que sejam "razoáveis" e usem "mais a mente que o coração" na hora de levar em conta a parte negativa de dirigir um carro.

Mesmo assim, ressaltou que há circunstâncias justificadas nas quais uma mulher pode conduzir um veículo, como no caso de doença de seu marido durante uma viagem.

As mulheres estão proibidas de dirigir na Arábia Saudita, país regido por interpretação estrita do islã.

Um grupo de ativistas do reino lançou recentemente uma campanha para exigir que as sauditas possam conduzir e pediu às mulheres que saiam às ruas com seus carros no próximo dia 26 de outubro para desafiar a proibição.

Esta prática foi vetada em 1990, quando o já falecido mufti da Arábia Saudita, xeque Abdulaziz bin Baath, emitiu um édito religioso neste sentido que levou o Ministério do Interior a impor essa restrição.

Em setembro de 2007, um grupo de mulheres intelectuais sauditas criou a primeira associação no reino para reivindicar o direito a dirigir.

O habitual é que as autoridades detenham as motoristas e apreendam o veículo, até que um tutor --um homem da família-- se apresenta na delegacia e assine um documento no qual garanta que a infração não vai se repetir.

Crianças são destaque do Dia Mundial do Coração 2013

Data é marcada neste domingo, 29 de setembro, com um alerta de que as doenças cardiovasculares começam a se desenvolver na infância; alimentação saudável e atividades físicas regulares são essenciais.
Importância da alimentação saudável
Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.
Crianças sem hábitos alimentares saudáveis ou que não praticam atividades físicas têm mais chances de desenvolver problemas cardiovasculares na idade adulta.
Por isso, a saúde infantil é o foco do Dia Mundial do Coração 2013, celebrado neste domingo, 29 de setembro. A campanha é da Federação Mundial do Coração, em parceria com a Organização Mundial da Saúde, OMS.
Mortes
Segundo a federação, as doenças cardiovasculares, como derrames, infartos, diabetes e hipertensão, causam 17,3 milhões de mortes por ano no mundo.
Em entrevista à Rádio ONU, de São Paulo, o médico da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Carlos Alberto Machado, explicou que a prevenção deve começar nos primeiros 10 anos de vida.
Mudanças
"Porque a doença que leva depósito de gordura na parede da artéria, que no final vai entupir a luz do vaso e vai levar o indivíduo a ter um evento cardiovascular, um infarto, um derrame, isso começa na primeira década de vida. Quanto mais precoce nós fizermos o diagnóstico e mais adequado for o tratamento, melhor é o resultado lá na frente. Aí você vê a importância do início precoce de trabalhar com essas crianças, mantê-las dentro do peso normal, que elas façam alimentação saudável e que elas pratiquem atividade física regular."
Machado lembra que a atitude dos pais é fundamental para que crianças e adolescentes não passem tanto tempo na frente do computador ou da TV e comam mais frutas e verduras.
Para mudar esses hábitos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia está realizando campanhas educativas em escolas, promovendo a merenda saudável e conscientizando alunos e professores.

Era digital criou nova dimensão para exploração e abuso de crianças

Segundo Unodc, com a internet, um único abusador pode ter uma coleção de 150 mil imagens de menores; agência da ONU nota perigos do uso de computadores e celulares por crianças e jovens.
O uso de computadores e celulares por crianças e jovens deixa-os mais expostos aos abusadores. Foto: Banco Mundial/Charlotte Kesl
Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.
O Escritório da ONU sobre Drogas e Crime, Unodc, está chamando a atenção para os efeitos das novas tecnologias de informação no abuso e na exploração de crianças.
Com especialistas de vários setores, a agência discutiu em Viena a prevalência do abuso infantil online.
Sem Precedentes
Com o custo cada vez menor de celulares e computadores, e a facilidade de acesso à internet, os criminosos têm um "acesso sem precedentes a materiais para manter seu comportamento abusivo", afirma o Unodc.
A agência da ONU alerta também para o uso cada vez mais cedo da internet e de celulares por crianças e jovens, o que os deixa expostos aos abusadores.
Tráfico e Bullying
O Unodc cita alguns dos riscos que a era digital levou a crianças de todo o mundo: abuso sexual de motivos comerciais e privados; tráfico de menores; bullying online e tentativas de amizade online com segundas intenções.
O diretor da agência, Yuri Fedotov, lembra que a exploração infantil não é um novo fenômeno, mas a era digital exacerbou o problema e criou mais vulnerabilidade às crianças.
Coleção de Fotos
Segundo o psicólogo forense Joe Sullivan, que participou da reunião do Unodc, antes da internet, um abusador poderia ter uma coleção com cerca de 150 imagens de crianças. Mas agora, o padrão é uma coleção de 150 mil fotos de menores.
Os criminosos têm acesso rápido e em grandes volumes a esse material por meio de salas de bate-papo, emails, jogos online e redes sociais. As meninas são a maioria das vítimas.
O diretor assistente da Interpol, Michael Moran, destaca que antigamente, "os pais agiam como uma barreira" em relação a quem teria contato com seus filhos, mas com a internet, essa barreira é praticamente inexistente.
Os especialistas ressaltam a importância da educação e da conscientização na proteção de crianças. Além disso, pais e professores devem entender como os abusadores atuam e assim, tentar garantir um uso mais seguro da internet.

A amiga


Adital



Esta é a história de duas mulheres radicalmente distintas, na qual prevalece acima de tudo a amizade. Durante a obscura etapa da ditadura militar argentina, instaurada em 1976, o filho mais velho de uma delas é sequestrado. A terrível desgraça une as duas amigas, mas, ao mesmo tempo, surgem certas diferenças entre elas. Raquel terá que exilar-se e Maria conseguirá transformar a dor e o medo em força e coragem para enfrentar a ditadura. Anos depois voltam a se encontrar.

Ano: 1988
Duração: 110 minutos
Direção: Jeanine Meerapfel
País: Argentina
Fonte: FILMAFFINITY

Carta ao SOS Ação Mulher e Família

Caras,

Neste mês de Outubro faz um ano que tomei posse como Conselheira Tutelar. Neste período, foram inúmeros atendimentos, incontáveis relatórios, centenas de aplicações de medidas de proteção, muita cobrança e participação na rede. Apesar de ter demorado um pouco para assimilar o ritmo de tudo isso, não teria conseguido de forma alguma se em minha formação profissional eu não tivesse tido a honra de ter participado da excelência da metodologia de atendimentos do SOS Ação Mulher e Família.

Tenho plena convicção de que a sobrevivência dentro do ritmo árduo do atendimento do Conselho só é possível porque passei por inúmeros atendimentos no SOSAMF, aprendendo a escutar famílias, aprendendo a respeitar e entender questões que permeiam relacionamentos em que impera a violência de gênero, aprendendo que a justiça social se baseia no equilíbrio dos membros da família, bem como em sua proteção.

Várias famílias atendidas pela Instituição fazem parte dos atendimentos do Conselho, demonstrando que o problema social não é estanque em um único membro familiar, mas que afeta a todos... E todos devem ser acolhidos, atendidos, respeitados; à família são necessários inúmeros apoios, não só sociais, mas também no que tange à saúde, à educação, ao lazer...

No Conselho tenho tido a visão mais voltada à infância e à adolescência, mas sei que só consigo me focar com calma no assunto por já ter tido a visão voltada à mulher, muitas vezes base única da família, com sua força de Gaya, sustentando situações insustentáveis, desdobrando em sofrimentos, às vezes em glória, mas sempre lutando...

E a todo esse sentimento que levo no peito, agradeço demais ao SOSAMF. Pela sensibilidade, pelo olhar cauteloso, pela aprendizagem no atendimento, pela chance de ter atuado interdisciplinarmente, pelas discussões saudáveis, pelo respeito, pelo entendimento da rede. Enfim, é de coração que mais uma vez agradeço à Instituição SOS Ação Mulher e Família. Somente um trabalho sério como o desenvolvido aí pode refletir como um eco na atuação em rede.

Obrigada, sempre, a cada uma que me apoiou neste sonho de ser Conselheira. Que o SOSAMF possa cada vez mais fazer a diferença na vida das pessoas e das famílias, e possa continuar a construir dia a dia uma sociedade com maior equidade e respeito.

Lucia Helena Octaviano, ex-advogada e ex-coordenadora do SOS Ação Mulher e Família. 

[Gênero e Comunicação] A primeira pedra


Idania Trujillo
Adital


Estamos vivendo tempos de mudança. Caíram uns muros, mas levantaram-se outros: os da violência sem freio, da homofobia, do racismo, das dominações; o império do ter acima do ser e o mercado continuam fazendo das suas e ampliando as barreiras entre os que muito têm e quem nada ou quase nada têm, que não é o mesmo, mas dá no mesmo, como diz o poeta. São redefinidas regras da comunicação social. E, em meio a tudo isso, mudam atores, metas, espaços, fontes de financiamento, modos de ser e de fazer na vida internacional, nacional, local, comunitária
Tradução: ADITAL


Imagem: trama.org.ar
Desenvolver a comunicação própria e o protagonismo dos sujeitos sociais é, hoje, um propósito essencial para comunicadoras/res. O desafio que se apresenta é mais amplo e complexo porque requer que nos abramos seriamente aos destinatários, a atores e espaços, e a temas novos de transformação social.
Semear pluralismo nos meios de comunicação para que desenvolvam suas funções informativas mediadoras e a favor do diálogo social continua sendo um desafio para os que se formam na comunicação ou para quem exerce essa profissão e, a partir de diferentes espaços, tentamos desconstruir padrões, papeis e estereótipos cunhados pela cultura patriarcal e capitalista. Esse desafio tem dois aspectos essenciais: satisfazer as necessidades comunicacionais próprias dos atores sociais, comunitários e competir no exigente mundo da cultura de massas que esses setores populares "consomem”.
É preciso colocar a primeira pedra: promover uma mudança e mostrar outras maneiras possíveis de conceber a comunicação como alternativa frente aos meios androcêntricos. Para qualquer comunicador, é imprescindível apreender ferramentas profissionais e metodológicas que sirvam para desmistificar padrões culturais e de comportamento presentes em esferas e espaços da vida cotidiana nos quais os meios de comunicação exercem mediações diversas e complicadas.
Porém, acontece que estamos acostumados, mal acostumados, a pensar em sentido matemático, quando afirmamos que comunicação é igual a meios de comunicação e esses a grandes meios. Esquecemos um segredo: o ser humano necessita inter-relacionar-se e partilhar: comunicar-se é consubstancial ao desenvolvimento. Em reiteradas ocasiões esquece-se que "nunca deixamos de comunicar”. E o fazemos mediante gestos, palavras, pelo modo como nos vestimos, nos comportamos e até nos expressamos em silêncio...

Os meios são os culpados?
Um dos mitos de nossos dias é como os meios constroem o paradigma de homem e de mulher. Porém, será que os discursos midiáticos são os únicos responsáveis por moldar muitos desses mitos?
Se tudo comunica e a comunicação é mais do que uma mensagem emitida poderíamos perguntar-nos: em que nível se desenvolve a ação comunicacional? Quem e como se beneficiam dela? Temos que considerar que não é o mesmo dirigir-se ao espelho ou à almofada que a um grupo, falar ao público, se comunicar com uma comunidade, ou, inclusive, tecer uma rede de intercâmbio com pessoas de outros âmbitos.
Talvez um dos "descobrimentos” mais interessantes da educação e da comunicação popular na década dos 80 foi a valorização que fizeram da vida cotidiana. Quem primeiro fez tal achado foi o movimento de mulheres e dos jovens. Por isso, ainda ressoam lemas como "Democracia no país e em casa”, "O direito à recreação de crianças”. Mais recentemente, o 15 M e Occupy Wall Street desencadearam um interessantíssimo movimento de rebeldia popular, utilizando as redes sociais e a Internet como canais para mobilizar a opinião pública e auto organizar-se desde o ponto de vista político.
De modo que situar a análise de gênero a partir da perspectiva da vida cotidiana nos põe em melhores condições para entender essa dimensão em todo o complexo fenômeno de mediações que constituem o ato de comunicação. Como dizia o educador popular brasileiro Paulo Freire, "Como posso educar sem estar envolvido na compreensão crítica de minha própria busca e sem respeitar a busca dos demais? Isso tem que ver com a cotidianidade de nossa prática educativa como homens e mulheres. Sempre digo homens e mulheres porque, há muitos anos trabalhando com mulheres, aprendi que dizer somente homens é imoral”. (Paulo Freire. El grito del manso, Siglo XXI, Argentina, 2006, p. 112).

A partir da organização comunitária
Muitas são as arestas a partir das quais se podem abordar as relações entre o gênero e a comunicação que se realiza para e com a comunidade e as organizações populares: indígenas, camponesas, afrodescendentes e de migrantes na América latina.
Durante muito tempo, os debates acerca de incorporar o enfoque de gênero a projetos de desenvolvimento comunitário tiveram como base o fato de reconhecer a importância das mulheres como força de trabalho para alcançar o êxito de determinado projeto comunitário, o que significava melhorar suas condições de vida e a de suas famílias; outros davam ênfase nas contribuições culturais que as mulheres podiam fazer ao desempenho de papeis tradicionalmente femininos, a partir de seus conhecimentos e saberes específicos.
Como bem aponta Francisca Rodríguez, integrante do coletivo de mulheres camponesas da organização chilena Anamuri, "o desafio para nós é bem grande porque lutar pela soberania alimentar não só representa defender um valor ético, mas também dar sentido a uma comunicação que visibiliza às mulheres camponesas, indígenas e as suas lutas. Proteger a terra, as sementes e o território faz parte de um esforço maior, o do sumak kawsay ou bem viver, propugnado pelos povos e nacionalidades indígenas do continente”; concepção que está em sintonia com os princípios de economia feminista que também põem no centro do modelo: o bem estar de todas/os, a busca de uma visão de sustentabilidade humana mediante o reconhecimento da diversidade dos povos e sua integração.
A comunicação como ferramenta de aprendizagem e socialização de sentidos políticos tem sido uma aliada estratégica para visibilizar as lutas do movimento de mulheres na América latina. Muitas mulheres aprenderam a re-contextualizar e descolonizar a palavra para fazer outra comunicação, que dialogue com suas necessidades, interesses e aspirações. Daí que já comecem a apreciar-se de modo crescente suas contribuições a partir dos meios próprios, deixando para trás certos mitos como o de que elas "não se encaixam” com as novas tecnologias.
Desde as mais diversas experiências e práticas concretas, elas começaram a colocar a primeira pedra no caminho.

[Original em espanhol, publicado em PERSPECTIVAS].

A adolescência acaba aos 25 anos?

Psicólogos infantis estão trabalhando com uma nova faixa etária, que vai de 0 a 25 anos
Psicólogos britânicos especializados no tratamento de jovens estão sendo orientados a considerar que hoje a adolescência vai até os 25 anos.
"Estamos nos tornando mais conscientes e valorizando o desenvolvimento que vai além (de 18 anos) e eu acho que é uma boa iniciativa", diz a psicóloga infantil Laverne Antrobus, da Clínica Tavistock de Londres.
"A ideia de que de repente aos 18 anos você é adulto não parece real," diz Antrobus.
"Na minha experiência com jovens eu percebi que mesmo depois dos 18 anos eles ainda precisam de muito apoio e ajuda."
Psicólogos infantis estão trabalhando com uma nova faixa etária, que vai de 0 a 25 anos, e não mais de 0 a 18 anos.

Desenvolvimento contínuo

A ideia por trás da nova orientação é ajudar a garantir que, ao completar 18 anos, os jovens possam usufruir do mesmo amparo e tratamento que vinham tendo dos sistemas públicos de saúde e educação.
A mudança acompanha os desenvolvimentos em relação à nossa compreensão sobre maturidade emocional, desenvolvimento hormonal e atividades específicas do cérebro.
"A neurociência tem feito esses enormes avanços que mostram que o desenvolvimento não para em uma determinada idade, e que há evidência de evolução do cérebro além dos vinte e poucos anos e que, na verdade, essa pausa no desenvolvimento acontece muito mais tarde do que pensávamos", diz Antrobus.
Existem três fases da adolescência — a adolescência inicial, que vai dos 12 ao14 anos; a adolescência intermediária, dos 15 ao17 anos; e adolescência final, dos 18 anos para cima.
A neurociência tem mostrado que o desenvolvimento cognitivo de um jovem segue adiante neste último estágio, e que sua maturidade emocional, autoimagem e julgamento serão afetados até o córtex pré-frontal do cérebro se desenvolver totalmente.
Juntamente com o desenvolvimento do cérebro, a atividade hormonal também continua até os vinte e poucos anos, diz Antrobus.
"Eu encontro crianças e jovens entre 16 e 18 anos com uma atividade hormonal tão grande que é impossível imaginar que esta vá se estabelecer no momento em que completarem 18 anos", diz Antrobus.
Ela diz que alguns adolescentes podem querer ficar mais tempo com suas famílias porque eles precisam de mais apoio durante esses anos de formação, e que é importante que os pais percebam que nem todos os jovens se desenvolvem no mesmo ritmo.

Jovens infantilizados

Há algum indício de que poderíamos estar criando uma nação de jovens que relutam em deixar a adolescência para trás?
Programas de televisão estão repletos desses estereótipos de jovens adultos que não querem assumir as responsabilidades da vida adulta.
E há aqueles personagens que querem romper com seus pais ou responsáveis autoritários e super protetores e virar adultos, mas têm dificuldade em cortar os laços familiares.
Frank Furedi, professor de sociologia na Universidade de Kent, diz que temos jovens infantilizados e que isso levou a um número crescente de homens e mulheres que aos vinte e poucos anos ainda vivem em casa.
"Questões econômicas são normalmente usadas como desculpa, mas na verdade não é esse o real motivo", disse Furedi.
"Há uma perda da aspiração por independência e um medo de viver sozinho. Na época em que fui para a faculdade, ser visto com os pais significava uma morte social, enquanto que hoje é uma norma."
"Então temos hoje esse tipo de mudança cultural que significa, basicamente, que a adolescência se estende em seus vinte e tantos anos, e que isso pode prejudicar você de várias maneiras. Eu acho que o que a psicologia faz é, inadvertidamente, reforçar esse tipo de passividade, impotência e imaturidade e normaliza essa situação. "
A série de TV americana 'Girls' fala sobre as dificuldades do início da vida adulta
Furedi diz que essa cultura infantilizada intensificou a sensação de "dependência passiva" que pode dificultar as relações adultas.
"Há um crescente número de adultos que estão assistindo filmes infantis no cinema," disse Furedi. "Se analisarmos os canais infantis de televisão nos Estados Unidos, veremos que 25% da audiência são adultos, e não crianças."
Ele não concorda que o mundo moderno seja mais difícil para os jovens viverem.
"Eu não acho que o mundo tenha se tornado mais cruel, mas a questão é que temos protegido demais as nossas crianças desde cedo. Quando elas têm 11, 12, 13 anos, não as deixamos sair sozinhos. Quando elas têm 14, 15 anos, nos metemos tanto na vida deles que os privamos de uma experiência de vida real. Tratamos estudantes de universidade da mesma maneira que tratávamos alunos de escola, e é esse tipo de efeito cumulativo de infantilização que eu acho ser o responsável por isso."

Rito tradicional

Mas será que os pais devem realmente incentivar mais os adolescentes a traçar o seu próprio caminho no mundo?
A série de televisão Girls — em que a personagem central Hannah Horvath luta com a vida adulta — capturou o zeitgeist (espírito da época). Os pais de Hannah não a ajudam mais financeiramente e ela tem que morar sozinha e cometer seus próprios erros.
Um dos ritos tradicionais de passagem para a vida adulta foi sempre sair de casa, mas a apresentadora de televisão, especialista em propriedades, Sarah Beeny, diz que os adolescentes não precisam sair da casa dos pais a fim de aprender a ser independentes, e que há enormes vantagens quando gerações diferentes vivem juntas.
"A solução para não se ter jovens inúteis de 25, 30 anos de idade vivendo com os pais não é colocá-los para fora da casa, e sim fazê-los lavar sua própria roupa, cuidar de seus gastos, pagar as contas, assumir a responsabilidade pela limpeza de seu quarto e não deixar que eles se acostumem é ter tudo feito para eles", diz Beeny.
Ela diz que os pais devem desempenhar um papel no ensino de responsabilidades-chaves, e que os jovens, em troca, podem manter seus pais atualizados.
"Eu sei que soa como um sonho utópico, mas é provavelmente o que deveríamos estar buscando. Para mim, esse é o Santo Graal... nem todo mundo que vive sozinho, em sua própria casa, está pensando: ótimo, eu estou pagando uma hipoteca."
Com tamanha atividade hormonal, e com a adolescência durando mais tempo do que se pensava, como saberemos quando realmente atingimos a idade adulta?
Para Antrobus, é quando a independência "parece algo que você deseja muito e pode adquirir".
Mas para aqueles adolescentes eternos entre nós, talvez a definição de Beeny seja mais apropriada.
"Para mim, a vida adulta é perceber que não há adultos e que todo mundo está sendo levado pela vida", diz Beeny.

Criança argentina ganha direito a modificar sexo em documentos

Lulu | Foto: Reuters
Pais tiveram a ajuda de ONGs para lidar com a situação de Lulu
A psicóloga argentina que atendeu a criança transgênera que terá o nome e o sexo modificados na certidão de nascimento e no documento de identidade disse que ela "deixou de ser um menino triste para ser uma menina feliz".
Nos documentos, ela passará a figurar sexo feminino e não mais masculino, segundo informaram autoridades de Buenos Aires.
A psicóloga Valeria Pavan, coordenadora da área de saúde da ONG Comunidade Homossexual Argentina (CHA), disse à BBC Brasil que a criança, que hoje tem seis anos, chamou a atenção dos pais para sua condição sexual assim que começou a dizer as primeiras palavras, aos dois anos e meio.
"Ela já demonstrava gostar de coisas de menina e quando começou a falar melhor dizia que queria ser chamada de Lulu e de brincar como menina e não como menino", disse.
Lulu tem um irmão gêmeo e é filha de um casal da província de Buenos Aires. Eles foram orientados pelo Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) e pela CHA sobre como proceder no caso de Lulu.
A CHA orientou os pais da criança no pedido de mudança de nome e sexo nos documentos, a partir da Lei de Identidade de Gênero e acordos e direitos sobre a infância, segundo Marcelo Suntheim, ativista da organização.
"Os pais contaram que ela dizia que era uma princesa e 'uma bebê', não 'um bebê' como seu irmão gêmeo", disse Suntheim.
Quando Lulu completou quatro anos, os pais passaram a procurar psicólogos que os orientassem na educação da criança, até que foram aconselhados a procurar a equipe de saúde da ONG.
Valeria Pavan afirmou que a "menina transsexual", como ela a definiu, chegou ao seu consultório com características de tristeza.
"Ela se escondia, chorava o tempo inteiro e quando brincava pegava um lenço e colocava na cabeça, para parecer que tinha cabelos compridos."
"
É a primeira vez que alguém tão pequeno tem seus direitos sexuais reconhecido e sem ter ocorrido uma disputa judicial para isso."
César Cigliutti, presidente da ONG Comunidade Homossexual Argentina
Segundo a psicóloga, os pais de Lulu contaram, ao longo de uma série de consultas em cerca de dois anos, que especialistas anteriores recomendaram terapias para "reforçar a masculinidade" da criança.
"A novidade aqui é que pessoas simples decidiram ouvir, prestar atenção no que a criança dizia e eles foram muito democráticos ao respeitá-la e ao escutá-la", afirmou.
Pavan diz que, para o pai da criança, "no inicio foi mais difícil" aceitar a sua identificação com outro gênero. "Mas com o tempo, ele também foi vendo que ela realmente se entendia como menina."

Novos documentos

Na última quinta-feira, as autoridades do governo da província de Buenos Aires e do governo nacional responderam aos apelos, feitos por escrito, dos pais e deram a autorização para que Lulu tenha uma nova certidão de nascimento e uma nova carteira de identidade.
Os documentos, informaram, terão o mesmo numero que os primeiros emitidos, quando a criança nasceu, mas com modificações no sexo e na identidade.
"É a primeira vez que alguém tão pequeno tem seus direitos sexuais reconhecido e sem ter ocorrido uma disputa judicial para isso", afirmou César Cigliutti, presidente da CHA.
Na primeira vez que foram ao Registro Civil de Buenos Aires, os pais tiveram o pedido rejeitado.
A decisão foi revista depois que a mãe de Lulu, identificada como Gabriela, escreveu ao governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, e às autoridades da Secretaria Nacional da Infância, Adolescência e da Família (Senaf).
Na quinta-feira, o chefe de gabinete da província de Buenos Aires, Alberto Pérez, disse que o governo "toma a decisão, neste caso particular, por uma questão humanitária e para que os direitos de todos os cidadãos sejam atendidos".
Atualmente, segundo a Valeria Pavan, Lulu já frequenta um jardim de infância com roupas de menina, mas a mudança no documento evitará "constrangimentos" para ela.
"Na escola, ela é chamada de Lulu, mas no documento, ela tinha nome masculino. O mesmo ocorria, por exemplo, quando ia a um hospital para tomar vacinas. A aparência e o comportamento dela são de menina, mas quem a atendia via o nome de um menino", disse a psicóloga.
A criança terá os novos documentos a partir da semana que vem.

'Caçadores de amor' chineses buscam esposas para bilionários exigentes

Peng Tai | Foto: Lucy Ash / BBC
Peng Tai aborda garotas em shopping em busca da 'esposa ideal' para bilionários
A China está crescendo em um ritmo supreendente, mas um "artigo" vital está em falta - mulheres jovens. Homens em idade de se casarem são confrontados com um número cada vez menor de parceiras do sexo feminino em potencial - e a competição para encontrar uma noiva é feroz.
Décadas de abortos seletivos de mulheres criaram um grande desequilíbrio na proporção de homens e mulheres no país. Até o fim da década, a China terá 24 milhões mais de homens do que mulheres.
Segurando seu café gelado, Peng Tai anda pela rua e desaparece dentro de um shopping. Subindo na escada rolante, ele observa a cena abaixo.
"E aquela garota de vestido amarelo?", eu arrisco. "Não, muito baixa", diz ele.
E a garota de shorts saindo da loja de sapatos? "De jeito nenhum. Muito magra."
"Estou procurando por garotas com a pele bonita e branca. Elas não devem ser muito magras nem muito cheias, com um jeito normal de andar."
Um minuto depois ele se aproxima de uma moça bem vestida de 20 e poucos anos, que experimenta perfumes.
"Você está solteira? Está procurando um amor?", diz suavemente. Ela balança a cabeça rapidamente e sai.
Ele leva o mesmo fora de outras jovens - algumas parecem envergonhadas, outras impacientes.
Peng Tai | Foto: Lucy Ash / BBC
Agências cobram caro para atender exigências de solteiros ricos
Peng Tai me encontra novamente perto da entrada e bebe, rejeitado, o drink. "As meninas não podem ser emburradas. Não queremos uma com a cara feia."
De repente ele avista sua presa - uma garota muito jovem com uma camiseta e sapatos de plataforma.
Ele se aproxima dela com cuidado, todo sorrisos. Ela ouve sua apresentação com os olhos arregalados e parece interessada quando ele explica os detalhes.
Em seguida, com o iPhone na mão, ele dá o bote e tira uma foto dela na porta do shopping.

'Adequadas'

Peng Tai tem uma cota de três "garotas adequadas" por dia. Ele é o que se conhece como "caçador de amor".
Ele trabalha para a Agência Diamond Bachelor's (Solteiros de Diamante, em tradução livre), uma empresa de Xangai que tem centenas de homens solteiros ricos procurando esposas entre seus clientes.
As taxas de inscrição vão de R$ 54 mil a mais de R$ 3 milhões por ano, a depender do nível de serviço que se contrata.
Peng Tai e outras dezenas como ele me lembram barcos de pesca, agarrando o que conseguem em suas redes.
Mas os peixes, depois de capturados, precisam ser preparados especialmente para os clientes e os bilionários chineses são conhecidos por serem muito exigentes.
Um deles insistiu em conseguir uma garota idêntica à atriz chinesa Zhang Ziyi, estrela do filme O Tigre e o Dragão.
Zhang Ziyi | Foto: AFP
A atriz Zhang Ziyi é referência de beleza para homens chineses
Outro, um magnata do ramo imobiliário, pagou a agência para procurar em nove cidades e entrevistar 10 mil mulheres até encontrar a certa.
Claro que ela tinha que ser lindíssima, mas também tinha que ter entre 22 e 24 anos de idade e um mestrado em uma das melhores universidades de Pequim ou Xangai.
Peng Tai é pago por sua performance, mas as gratificações podem ser enormes. Os melhores "caçadores" podem ganhar bônus de dezenas de milhares de reais.
Mas eu pergunto: ele se incomoda de tratar as mulheres como produtos?
"Não me importa o que as garotas pensam. É meu trabalho e estamos oferecendo um serviço em alta demanda", diz ele.

Situação oposta

Enquanto os homens mais ricos da China podem contratar pessoas para buscarem suas esposas e tem muitas opções, o lado oposto da sociedade - os mais pobres - não tem escolha.
O crescimento econômico do país fez com que o casamento fique fora do alcance de muitos homens.
Hoje em dia, espera-se que os noivos tenham um carro, um bom salário e propriedades.
Um jovem engenheiro que eu conheci em um parque de Pequim, Zhang Junfei, me disse que teria que economizar durante 200 anos para poder comprar um apartamento de um quarto - isso se ficasse sem comer e beber.
Zhang Junfei e sua mãe | Foto: Lucy Ash / BBC
Aumento do custo de vida no país faz com que solteiros mais pobres não consigam casar
Homens nas regiões mais pobres e menos desenvolvidas sofrem mais com a diferença da proporção de homens e mulheres por causa de outra tendência na China moderna - a migração em massa.
Na última década, 300 milhões de pessoas deixaram o campo pelas cidades e para muitas jovens mulheres é um caminho só de ida: casar-se com pessoas mais ricas e nunca voltar para casa.
Há 700 pessoas no vilarejo de Tanzhen, na província montanhosa de Guangxi. Cerca de 60 deles são homens solteiros - e a maioria deles deve morrer solteiros.
Sentado no pátio de casa, Wei Tianguang, de 30 anos, diz que praticamente todas as mulheres jovens solteiras estão trabalhando em fábricas na região costeira.
Eu pergunto se ele tem uma mulher ideal em mente. Alguma exigência?
"Nenhuma exigência. Eu me casaria com qualquer mulher preparada para viver aqui comigo. Qualquer uma", diz ele.

Cinemas para mães e bebês já chegam a 31 cidades no Brasil

Além de desafios "tradicionais" como as poucas horas de sono, mães de bebês pequenos costumam enfrentar dificuldades menos conhecidas, como a falta de vida social e cultural.
Motivadas pela vontade de sair de casa e pela saudade de assistir a um filme, um grupo de mães resolveu "invadir" um cinema de São Paulo com seus bebês no colo.
A experiência acabou dando certo: as crianças ficaram quietinhas e até dormiram durante o filme, deixando as mães e as outras pessoas verem o filme tranquilamente.
Foto: BBC
Ideia de sessão de cinema especial para mães começou com 'invasão'
Da primeira "invasão" até hoje se passaram mais de cinco anos e o que era apenas ideia "maluca" acabou se transformando em um projeto bem sucedido, que se espalhou para as cinco regiões do país.
Com o patrocínio de marcas de produtos infantis, de shoppings e cinemas, o ONG Cinematerna faz atualmente 62 sessões por mês de filmes que estão em cartaz no momento.
Mães e pais votam pelo site em que filme vão assistir na próxima sessão, em cidades como São Paulo, Rio, Belém, Goiânia, Blumenau, Fortaleza e Ribeirão Preto (SP).
A iniciativa vem crescendo ano a ano: pulou, por exemplo, de 23 cidades em 2012 para 31 até o momento. Apenas no ano passado, foram quase 500 sessões frequentadas por 33 mil pais e filhos sendo 21 mil adultos e 12 mil bebês de até um ano e meio.
Embora haja projetos semelhantes em cidades como Nova York e Londres, uma das cofundadoras, Irene Nagashima, explica que o Cinematerna tem uma rede de apoio nas sessões, com voluntárias que ajudam as mães e pais, além de incentivar a troca de experiências sobre maternidade em bate-papos realizados após o filme.
"É uma fase maravilhosa, mas também cheia de desafios, angústias e insegurança. Por isso, nosso objetivo é fazer com que as mães retomem - ainda que aos poucos - sua vida social e com que, ao conversar com outras mulheres, percebam que todas enfrentam desafios semelhantes e, assim, se sintam normais", explica Irene.