filme 300x300 Diversidade e inclusão tratadas com respeito e sensibilidade
por Leno F. Silva*

Dois temas sensíveis da adolescência em um mesmo personagem: a descoberta da sexualidade a e deficiência visual. Somam-se a esse duo os desafios naturais do relacionamento familiar, o preconceito de parte da turma da classe, os desejos comuns da idade, a conquista da autonomia e a vontade conhecer outro país; o enfrentamento dos dilemas interpessoais e, no meio disso tudo, a confirmação de que os verdadeiros amigos são poucos e que suportam as surpresas da vida.

“Hoje eu quero voltar para casa sozinho” é um filme sobre adolescentes que precisa ser assistido por jovens e adultos; pais e mães; professores e educadores em geral, e por todos aqueles que apreciam uma boa diversão cinematográfica brasileira sobre situações que praticamente todos irão se identificar.

O diretor Daniel Ribeiro, que também responde pelo roteiro, acertou em tudo, com destaque para os diálogos, que são bacanas, convincentes, engraçados; e a escolha dos atores principais, que estão à vontade nos respectivos papéis. Léo (Guilherme Lobo) é o jovem cego de nascença, que enfrenta os pais para ser autônomo e, nesse caminho, se depara com a descoberta dos seus sentimentos. Giovana (Tess Amorim), a melhor amiga de Léo, o apoia nas diferentes situações, e é a responsável pelas tiradas mais engraçadas dessa estória. Já Gabriel (Fabio Audi), o novo aluno da escola, rapidamente se junta à dupla, formando o trio de amigos e, aos poucos, muito mais.
A abordar dois temas relacionados à valorização da diversidade – a inclusão de pessoas com deficiência numa escola convencional e o homossexualismo – a fita não apenas joga luz nessas questões pouco debatidas nesse universo educacional. O faz de forma madura, cuidadosa, crível e com leveza.
Merecidamente, no dia em que fui ao cinema, ao final da exibição expressiva parcela do público bateu palmas, manifestando a imediata empatia com essa obra de ficção, mas que muito tem a ver com os desafios que, como sociedade, necessitamos enfrentar.
“Hoje eu quero voltar para casa sozinho” foi premiado com o Fipresci (Prêmio da Crítica Internacional) do Festival de Berlim e o Teddy Bear, que destaca filmes com temática ou personagens GLBT. Bons reconhecimentos para o primeiro longa-metragem de Daniel Ribeiro, que está há poucas semanas em cartaz no Brasil e que, tomara, fique no circuito por muito tempo. Agende-se para ver e, se gostar, ajude na divulgação. Por aqui, fico. Até a próxima.
Serviço:
Hoje eu quero voltar sozinho, Brasil, 96 min., classificação 12 anos
Direção: Daniel Ribeiro
Elenco: Guilherme Lobo, Fábio Audi, Tess Amorim, Eucir de Souza, Selma Egrei, Laura Romano
Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.