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segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Feitas para vencer

Representadas pela primeira vez em todas as delegações, as mulheres conquistam marcas históricas e são as grandes estrelas da Olimpíada de Londres


ROGÉRIO SIMÕES E FELIPE PONTES, DE LONDRES

A ESTRELA D’ÁGUA Ye Shiwen na piscina. A nadadora chinesa de 16 anos ganhou  dois ouros, bateu recordes e nada mais rápido que os homens mais rápidos  (Foto:  Adam Pretty/Getty Images)
A ESTRELA D’ÁGUA
Ye Shiwen na piscina. A nadadora chinesa de 16 anos ganhou 
dois ouros, bateu recordes e nada mais rápido que os homens mais rápidos 
(Foto: Adam Pretty/Getty Images)
"Impraticável, desinteressante, antiestético e inapropriado.” As palavras do barão Pierre de Coubertin já fazem parte do folclore das Olimpíadas. Ele listou os quatro adjetivos para descrever, no apagar do século XIX, a ideia de uma Olimpíada com mulheres. Mais de 100 anos depois, a passagem da jovem nadadora chinesa Ye Shiwen pelos Jogos de Londres desperta conceitos opostos. Ye realizou algo não apenas possível, mas também emocionante, belo e adequado. Conquistou duas medalhas de ouro com apenas 16 anos, nas duas provas que disputou, baixou o recorde mundial dos 400 metros medley em mais de um segundo e nadou os últimos 50 metros da prova em 17 centésimos a menos que um consagrado campeão da atualidade, o americano Ryan Lochte.
A tímida Ye foi a mais brilhante estrela do início dos Jogos de 2012, o primeiro da história com mulheres em todas as delegações participantes. Como se não bastasse a marca histórica, a Olimpíada viu a primeira negra campeã da ginástica artística, a americana Gabrielle Douglas, também de 16 anos. Dias antes, o mundo conhecera uma campeã ainda mais jovem que as duas, a lituana Ruta Meilutyte, de 15 anos, ouro nos 100 metros peito. Na Olimpíada das mulheres, a história é escrita por meninas.
A inédita participação feminina nos Jogos de 2012 foi repetidamente festejada pelo comando do Comitê Olímpico Internacional. Na cerimônia de abertura, o presidente do COI, Jacques Rogge, disse em seu discurso que a nova edição dos Jogos representava “um grande incentivo para a igualdade de gêneros”. Dois meses atrás, ainda não era certo que Arábia Saudita, Catar e Brunei enviariam mulheres para as competições, algo que nunca haviam feito devido a seus costumes religiosos e culturais. A dias da Olimpíada e diante da possibilidade de ser excluídos dos Jogos, os sauditas relutantemente se juntaram aos outros dois países e anunciaram o envio de duas atletas, a corredora Sarah Attar e a judoca Wojdan Shaherkani.

As mulheres participaram pela primeira vez das Olimpíadas na segunda edição dos Jogos, realizada em Paris em 1900. Jogaram apenas em tênis e golfe, esportes em que a força não era considerada essencial. De lá para cá, a participação feminina subiu de 3,5% dos eventos para mais de 45%. As 269 mulheres atletas dos Estados Unidos formam em Londres, pela primeira vez, um contingente maior que o dos homens (261). Os russos também levaram mais mulheres que homens, fenômeno que ainda não ocorreu no Brasil. Nada mais apropriado que, na Olimpíada que marca a emancipação das mulheres, as maiores estrelas estejam entre elas.


VITÓRIA FEMININA Sarah Menezes na luta contra a romena Alina Dumitru, em que conquistou o ouro no judô. “Meus pais achavam que judô  era masculino”  (Foto: Alexander Hassenstein/Getty Images)
VITÓRIA FEMININA
Sarah Menezes na luta contra a romena Alina Dumitru,
em que conquistou o ouro no judô. “Meus pais achavam
que judô era masculino”
(Foto: Alexander Hassenstein/Getty Images)
Algumas brasileiras engrossaram a lista das vencedoras. Foi o caso de Sarah Menezes. Aos 22 anos, a piauiense de Teresina conquistou no dia 28 a primeira medalha de ouro do judô feminino brasileiro. “Quando comecei, meus pais falavam que o judô era um esporte masculino”, disse Sarah, já com a medalha no peito. Dias depois, Mayra Aguiar, de 21 anos, obteve o bronze, a terceira medalha do esporte para o Brasil. Nos esportes coletivos, o grande destaque brasileiro tem sido o handebol. Depois de três vitórias e uma derrota, o time sonha com uma medalha.
As conquistas femininas não impediram que a velha discussão sobre o corpo feminino surgisse na primeira semana dos Jogos. Pelo menos na quadra de areia instalada ao lado do Parque de St. James para as partidas de vôlei de praia. A imprensa esbaldou-se com as imagens de atletas de biquíni e transformou o uso da vestimenta em questão central do esporte. Com a perspectiva de vento e chuva em alguns dias do torneio, tabloides britânicos pediam a suas atletas que mantivessem o corpo à mostra. As jogadoras americanas prometeram manter o espírito do vôlei de praia californiano, com pouquíssima roupa. Mas as campeãs olímpicas Misty May e Kerri Walsh renderam-se ao frio do verão londrino e jogaram uma partida com o corpo coberto. O mesmo fizeram as brasileiras Talita e Maria Elisa. O tabloide The Sun chegou a pedir que chovesse nos jogos de vôlei de praia, o que aumentaria o apelo sensual do esporte. Para as mulheres atletas, a vestimenta é o que menos importa. Elas estão na Olimpíada para vencer.

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