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terça-feira, 9 de outubro de 2012


As meninas da 'hidro'


Dois anos atrás, quando o ortopedista me recomendou hidroginástica para que eu me recuperasse de uma cirurgia no ombro, minha mulher me ajudou a visualizar como seria minha nova turma aquática.
Ela é a mais jovem da sua turma de "hidro", formada por uma dúzia de mulheres na casa dos 70 ou 80 anos, em sua maioria. Eu, então com 60 anos, hesitei em entrar naquela turma, por uma razão tola e vaidosa.
Pensei que estar na companhia de idosas faria com que eu me sentisse mais velho --e eu queria me sentir mais jovem. É por isso que homens mais velhos se casam com mulheres que têm menos da metade de suas idades.
Por isso tenho amigos de 40 e poucos anos. Com eles, me sinto mais jovem. Mas não pelos motivos que imaginei. Esses cariocas, criando seus filhos e trabalhando muito para pagar contas, são tão estressados que eu, livre dessas pressões, sou mais descontraído que eles.
As velhinhas na minha aula de hidro fizeram com que eu me sentisse mais idoso pela mesma razão. São bem mais descontraídas que eu, jornalista com prazos de fechamento a cumprir.
E mais curiosas. Sim, elas já tiveram seu devido quinhão de sofrimento. Muitas são viúvas e algumas já perderam filhos. Mas a vida ainda as fascina.
Essas aposentadas fazem trabalho voluntário ou têm passatempos, vão ao teatro ou a shows e enfrentam viagens longas. Uma delas tinha visitado o Cazaquistão, simplesmente porque nunca tinha estado lá antes. Duvido que um dia eu tire férias em qualquer país com o nome terminando em "istão".
A curiosidade e a boa forma física --bem melhor que a minha-- as rejuvenescem. Por isso eu as chamava de meninas: "Poxa, meninas, reduzam o ritmo. Vocês estão me matando".
Eu as chamava de meninas também porque, ao trombar com elas de propósito na água ou quando as atingia com meu "macarrão" --um tubo de espuma que dá suporte na água--, elas riam como garotas. Ou então diziam carinhosamente: "Ué, menino!", talvez porque se lembrassem de seus filhos.
As "meninas" se mostraram muito diferentes dos velhinhos que conheço, que são pouco curiosos, fora de forma e sempre cansados. Homens que raramente fazem hidroginástica, vão ao teatro ou a shows. Voluntariado, então, nem pensar.
Quando parei de fazer a aula, depois de meu ombro se recuperar, senti falta das "meninas".
Sim, elas fizeram com que eu me sentisse mais velho --porque me mostraram que somos apenas tão velhos quanto nos sentimos.
Michael Kepp
Michael Kepp, jornalista americano radicado há 28 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos - crônicas de um gringo brasileiro" (Ed. Record). Mantém o site www.michaelkepp.com.br

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