quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Assédio na porta de escolas públicas preocupa pais de alunos e gestores

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Diretores de escola afirmam que, do portão para fora, não é mais obrigação da escola vigiar
AMILCAR JÚNIOR

Um sério problema preocupa pais de alunos e gestores de escolas públicas de Boa Vista. Após denúncia, a Folha apurou e constatou esta semana que estudantes, menores de idade, estão matando aula para fazer programa sexual. O mais grave: os clientes vão buscar as alunas na porta da escola.

Os indícios do crime são fortes. Por três dias intercalados, na semana passada, a reportagem notou que, mesmo em horário de aula, algumas alunas não entraram na escola observada, no bairro Mecejana. Elas aguardavam ao lado de fora a chegada de possíveis clientes em carros importados, quase todos peliculados.

Era 15h30 de quarta-feira da semana passada quando uma delas, fardada, não entrou na escola e foi ao encontro de uma picape Ranger verde. As amigas que também mataram aula ficaram em uma lanchonete nas imediações do colégio. Às 17h20 da mesma tarde, com os cabelos molhados, a aluna retornou no mesmo carro e reencontrou as colegas.

Abordada pelo repórter, uma das alunas topou falar sobre o assunto, desde que não fosse identificada, nem fotografada. “Eu não faço isso, mas minha amiga faz. Como o cara é casado, ela só tem esse horário pra sair com ele”, revelou a aluna, que curso o Ensino Médio.

Sobre a possível prostituição, a jovem disse que também não fazia aquilo, mas tinha colegas suas que topavam. “A Ana [nome fictício] saiu com um coroa cheio da grana e ganhou um celular top, que custa mais de R$ 1 mil. E toda vez que ela quer alguma coisa, liga pro coroa”.

Durante a permanência da reportagem na frente da escola, muitos carros luxuosos pararam nas imediações. Alunas desciam, mas a equipe de reportagem não conseguiu confirmar se eram os pais ou não. O público da escola é formado em sua maioria por alunos da periferia.

Um ambulante que estava presente na quarta-feira passada conversou com a reportagem. “É direto isso aí. Tem vez a gente vê até beijinho de despedida. As jovens enganam os pais, dizem que vêm estudar, mas na verdade fazem o que não devem”, comentou o vendedor que, ao saber do teor da reportagem, preferiu o anonimato. “É só carrão que vem aqui”, justificou.

As denúncias também recaem a outras escolas públicas na periferia da Capital onde o público é mais carente. Além da suposta prostituição, há também o tráfico de drogas e a briga entre gangues, mais conhecidas como galera. A violência também está presente em comunidades escolares no Centro. Alunos de uma escola estadual no Centro Histórico já foram denunciados por estarem usando droga e fazendo sexo em horário de aula, atrás do colégio.

Neste caso, a Folha apurou que a informação realmente procede. Alguns alunos matam aula e descem as trilhas até chegar às margens do rio Branco, nas imediações da escola. Lá, usam drogas e fazem sexo. Na Orla Taumanan é comum ver estudantes fardados namorando em horário de aula.

‘Pais devem acompanhar a frequência escolar dos filhos’

Na tarde de ontem, a Folha conversou com a diretora da escola onde a Folha apurou a denúncia. Ela deu detalhes de como funciona a entrada e saída dos alunos no colégio. Disse que, após o portão fechar, às 13h45, com tolerância de 15 minutos, os alunos entram e só saem no horário de aula com a autorização dos pais.

“Quando há um imprevisto com o aluno, ligamos para os telefones que os próprios pais nos fornecem. Então, a partir da liberação dos responsáveis, informamos que o aluno deixará a escola naquela hora. E do portão para fora não nos responsabilizamos mais”, explicou.

A diretora também informou que algumas alunas podem realmente sair de casa com destino à escola, mas acabarem desviando o caminho. Para evitar a falta em sala de aula, a diretora orienta os pais a acompanharem a frequência dos filhos. “Temos o total controle dos alunos aqui dentro da escola. Registramos tudo, horário de saída e de entrada, por exemplo. Mas do lado de fora, os pais também devem ficar atentos”, orientou.

Sobre a possibilidade de alunas estarem se prostituindo em horário de aula, a diretora rebateu dizendo que ela também já havia recebido uma denúncia de uma aluna que chegava em um carro importado e ficava namorando na frente da escola. “Então fomos verificar e descobrimos que se tratava do marido dela. Mesmo assim, pedimos para que ela entrasse no horário previsto e evitasse o namoro nas imediações”, explicou.

Outra situação colocada pela diretora, que também poderia justificar a permanência de alunos fora da escola em horário de aula, diz respeito aos estudantes que fazem aula de reforço em horário alternado. “E até neste caso, nas aulas de reforço, os pais recebem um cronograma com o horário de aula dos filhos”, ressaltou.

Ainda para combater a violência na comunidade escolar, a diretora afirmou que os educadores trabalham com o projeto “Qualidade de Vida”. Com frequência, a escola realiza ciclos de palestras com temas sobre prevenção às drogas, anabolizantes, DST/Aids e prostituição. 

“Para reforçar, orientamos aos pais que acompanhem a frequência dos filhos na escola e que fiquem atentos”, frisou. (AJ)

Secretaria diz que está implantando o Proerd

A Assessoria de Comunicação Social da Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Desportos informou que o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), desenvolvido pela Polícia Militar de Roraima em parceria com a SECD, está em fase de implantação nas escolas.

O Proerd tem como objetivo principal contribuir para que as crianças na faixa etária dos 09 aos 16 anos (consideradas as mais vulneráveis) adquiram conhecimento sobre o uso indevido das drogas e seus riscos.

Além disso, a gestão da unidade de ensino tem sensibilizado a comunidade escolar sobre o consumo de entorpecentes por intermédio de projetos educacionais. Entretanto, é necessária a efetiva participação da família no combate desse problema social.

Esclarece ainda que há controle de entrada e saída de alunos na unidade de ensino. No caso de saída em horário de aula, é feito contato com pai ou responsável para informar o fato.

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