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terça-feira, 9 de outubro de 2012


Separar alunos entre 'burros' e 'espertos' define o desempenho escolar


JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


Espere que uma criança vá mal na escola e ela não o desapontará. A partir dessa certeza, o educador Robert Pianta, reitor da Escola de Educação Curry, da Universidade da Virgínia, nos EUA, acaba de publicar sua pesquisa baseada em um estudo da década de 1960 com alunos de nível fundamental.

Aquele trabalho provara que a opinião do professor sobre a capacidade de um aluno interfere em seu desempenho. Agora, Pianta, 57, revisitou a conclusão para defender que professores sejam treinados a ocultar suas crenças em relação aos alunos.

Professores tratam melhor estudantes tidos como mais inteligentes, o que favorece o desempenho escolar desses.

O reitor criou um método que promete amenizar a influência da opinião do educador sobre o aprendizado. Nesta entrevista à Folha, ele diz como isso pode ser feito.
*

Folha - O que faz um professor achar que determinado aluno não tem potencial?
Robert Pianta - Em geral, o "histórico" do estudante. O fato de ele não ter demonstrado bom rendimento em anos anteriores faz com que o novo professor já o encare como alguém que não tem muito a oferecer. Se esse aluno tirar notas medíocres o professor já se dá por satisfeito.

Essas crenças são moldadas ao longo do percurso escolar?
Sim, mas, mesmo quando a criança é nova demais para ter um histórico, outros preconceitos do professor se manifestam. Alguns acham que meninas têm dificuldade em matemática, por isso exigem menos delas nessa disciplina. Outros acham que filhos de pais divorciados se saem pior. Somos todos cheios de preconceitos e não fazemos por mal, só precisamos tomar atitudes para impedir que esses preconceitos envenenem o desempenho da classe.

De que forma o professor desestimula os alunos que considera menos capazes?
De todas as formas possíveis. Sorrindo menos para eles, mostrando impaciência, não levando suas dúvidas a sério. Na pesquisa, gravamos muitas aulas e há um comportamento recorrente: se um aluno tido como inteligente não entende um assunto, o professor toma aquela dúvida como um "feedback" do trabalho dele. Pensa em fazer uma revisão da matéria, por exemplo. Se um estudante considerado difícil tem dúvida, o professor age como se só ele não tivesse entendido.

Editoria de Arte/Folhapress

O senhor diz que treinar o comportamento do docente é mais eficiente que tentar mudar suas crenças. Fingir que crê no potencial de alguém é suficiente?
Fingir é um termo muito forte. Desde os anos 1960 sabemos que a expectativa dos professores é decisiva no processo de aprendizagem, isso é senso comum. Acontece que as tentativas de fazer os docentes mudarem suas expectativas se provaram insuficientes. Nossas crenças não são construídas de modo racional. Não basta mostrar dados dizendo que meninas são boas em matemática para que o professor altere seu sistema de crenças.
No fim, descobrimos que ter conceitos bons sobre os estudantes é muito importante, mas agir corretamente em relação a eles é mais eficaz.

Como agir bem em relação ao aluno do qual se espera pouco?
É isso que o treinamento desenvolvido durante minha pesquisa procura ensinar.
Imagine que acabo de fazer uma pergunta em sala de aula e um garoto começa a berrar que sabe a resposta. Se sou do tipo que acha que meninos são bagunceiros, meu impulso será o de controlar aquele começo de confusão. Vou mandar o aluno sentar no seu lugar e abaixar o tom de voz. Essa resposta só confirmará o que o garoto já sabe: que o professor o vê como alguém que atrapalha.
Uma resposta mais adequada seria: "Por que você não me conta o que acha dessa pergunta? Enquanto isso, sente-se em seu lugar para que eu consiga entender melhor".

Editoria de Arte/Folhapress

Os pais também influenciam os filhos com suas crenças...
Certeza. Não posso falar em relação ao Brasil, mas nos Estados Unidos nós lutamos contra o hábito de certos pais que insistem em fazer trabalhos escolares pelos filhos. Não sou contra o pai ou a mãe dar um apoio. Mas se faço o trabalho do meu filho a mensagem é clara: não acredito que ele seja capaz de dar conta da tarefa.

A conclusão de que a opinião do docente afeta o aluno não é muito óbvia?
Ciência não serve só para trazer fatos surpreendentes. Confirmar aquilo de que já desconfiávamos é tão importante quanto trazer um fato novo.

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