segunda-feira, 8 de outubro de 2012


Um prêmio para os que deixam a sala de aula para tentar mudar o mundo



CAITLIN KELLY
DO "NEW YORK TIMES"


The New York Times
Eden Full já deveria estar de volta à Universidade Princeton, em Nova Jersey, estudando para conquistar um cobiçado lugar entre a futura elite dos Estados Unidos. Mas Full fez algo extraordinário para uma princetoniana: abandonou os estudos.
Não foi por causa do custo exorbitante da faculdade (Princeton custa quase US$ 55 mil anuais). Ela diz que simplesmente recebeu uma oferta melhor.
Full, 20, faz parte de um dos mais incomuns experimentos já feitos na educação superior. Um experimento que recompensa jovens talentos por eles não irem à faculdade e os mergulha no mundo da ciência, tecnologia e negócios. Afinal, Bill Gates e Steve Jobs largaram seus estudos e se deram muito bem.
É claro que esse tipo de sucesso é raro, com ou sem diploma. Gates e Jobs mudaram o mundo. Full também quer isso, e está com pressa. Ela construiu um painel solar de baixo custo e está começando a testá-lo na África. "Eu estava louca para sair pelo mundo e pôr minhas ideias em prática", diz.
Em um momento em que o valor de um diploma universitário é questionado e em que as perspectivas de trabalho para muitos recém-formados são mais sombrias do que nos últimos anos, talvez não seja surpreendente que tenha surgido um movimento de abandono escolar. O que causa surpresa é onde ele está surgindo, e quem está por trás dele.
O movimento, que atrai estudantes seletos para longe de universidades como Princeton, Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), é uma criação de Peter A. Thiel, 44, um bilionário com uma história notável no Vale do Silício.
Em 1998, durante o estouro das empresas pontocom, Thiel apostou em uma companhia que acabou se tornando a PayPal, a gigante dos pagamentos on-line. Recentemente, ele também participou do início de uma pequena start-up chamada Facebook.
Desde 2010, Thiel financia pessoas com menos de 20 anos que querem descobrir algo grande -desde que elas não procurem por isso na faculdade. Sua oferta é esta: uma bolsa de US$ 50 mil por ano, durante dois anos, sem muitas perguntas. Mas nada de faculdade, a menos que a aula seja útil para o projeto.

BOLSA
Não é chocante constatar que é mais difícil conseguir uma bolsa Thiel do que entrar em Princeton. Peter Thiel (formado em Stanford em 1989 e em direito em Stanford em 1992) ganhou manchetes com sua oferta exótica. Os primeiros bolsistas de Thiel hoje estão no segundo ano do programa. Outros vinte foram selecionados neste ano.
Eden Full estudava engenharia mecânica em Princeton quando se candidatou à bolsa, esperando desenvolver um painel solar resistente e de baixo custo que acompanhasse a trajetória do Sol. Ela o chama de SunSaluter [saudador do Sol], e está começando a testar a última versão em Kirindi, Uganda, e Karagwe, Tanzânia.
Ela deixou Princeton depois do segundo ano e diz que a curva de aprendizado se acentuou com a experiência. "Passei o primeiro ano da bolsa aprendendo muito sobre a indústria solar, o que é necessário para colocar um produto no mercado", diz.
Outra bolsista da Thiel, Laura Deming, 18, é claramente brilhante. Quando tinha 12 anos, sua família mudou-se da Nova Zelândia para San Francisco para que ela pudesse trabalhar com Cynthia Kenyon, uma bióloga molecular que estuda o envelhecimento. Quando ela fez 14, a família se mudou de novo, dessa vez para a região de Boston, para ela estudar no MIT.
"Famílias de atletas de nível olímpico fazem esse tipo de sacrifício com frequência", diz Tabitha Deming, a mãe de Laura. "Quando morávamos perto dela, em Boston, tínhamos sorte de vê-la uma vez por mês. Ela nunca vinha para casa nos fins de semana."
John Deming, pai de Laura, formou-se na Universidade Brandeis em Massachusetts, aos 35 anos, mas diz que despreza o ensino formal em qualquer nível. Sua filha foi educada em casa.
"Não posso pensar em um ambiente pior do que a escola se você quer que seus filhos aprendam a tomar decisões, administrar riscos e assumir responsabilidades por suas opções", escreveu Deming, que é investidor, em um e-mail. "Em vez de mandá-los para a escola, as pessoas deveriam soltar seus filhos no mundo, mostrar os rigores realidade, como ganhar uma vida própria."
Ele acrescentou: "Eu detesto a chamada 'educação' americana".

FINANCIAMENTO
Laura, uma bolsista do primeiro ano, está interessada em desacelerar o envelhecimento e passa os dias percorrendo publicações médicas em busca de um punhado de pesquisadores dignos de financiamento por capital de risco.
Graças à bolsa Thiel, o acesso a algumas das mais bem-sucedidas pessoas dos EUA é rápido e fácil. "Eu fiz uma lista de 50 pessoas que queria encontrar e já me encontrei com quase todas", diz. "Realmente, o importante é ter conexões com as pessoas certas. Eu tive respostas feedback muito positivas e consegui quantias realmente grandes."
Outra bolsista da Thiel, Noor Siddiqui, 18, é filha de pais paquistaneses. Ela adiou a faculdade para tentar ajudar os trabalhadores pobres nos países em desenvolvimento a se conectar com empresas americanas. "A bolsa foi algo chocante para meus pais", diz. "Eu tive de me inscrever em segredo."
Algumas pessoas questionam a simples negação da experiência universitária por Thiel. Uma educação superior continua sendo essencial para pessoas de origem menos privilegiada, diz Carmen Wong Ulrich, uma das fundadoras da Alta Wealth Management, uma empresa de investimentos, em Nova York. "Muitos afro-americanos e asiáticos não podem sequer fazer a pergunta 'A faculdade vale a pena?'"
Anthony Carnevale, diretor do Centro sobre Educação e Força de Trabalho na Universidade Georgetown em Washington, diz sobre o programa: "É um experimento de laboratório. Veremos".
Frances Zomer, que dirige uma empresa de contabilidade em Toronto, não ficou entusiasmada quando seu filho Christopher Olah, 19, decidiu deixar a Universidade de Toronto, uma das principais escolas canadenses. Ele já tinha passado um ano estudando matemática por lá. "A parte mais difícil foi ele não voltar para a escola", diz Zomer.
Hoje Olah, que desenvolve um software para impressão tridimensional, divide seu tempo entre a casa da mãe em Toronto e algum dos chamados "albergues de hackers", que aloja empresários tecnológicos aspirantes na área da baía de San Francisco.
Zomer, a mãe, já mudou completamente de opinião sobre a escolha do filho. "É algo que ele não aprenderia em uma sala de aula. Ele está blogando, está ensinando e escrevendo software", ela diz. "Eu acho brilhante. Conheço tanta gente que fez mestrado e não tem nada a mostrar."

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