segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Especialistas analisam medida do SUS que diminui a idade para cirurgias de redução de estômago


RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

No mês passado, o Ministério da Saúde anunciou que vai diminuir de 18 para 16 anos a idade mínima para a realização de cirurgias de redução de estômago pelo SUS.
O procedimento é indicado para pacientes de até 65 anos que tenham obesidade mórbida.
Cerca de 21% dos brasileiros que têm entre 10 e 19 anos estão acima do peso. Há 40 anos, o percentual era de 3,5%.
Foi a partir desse crescimento e de uma consulta a profissionais envolvidos no tratamento contra a obesidade que o ministério baseou a portaria que deve entrar em vigor em janeiro de 2013.
Entre 2003 e 2011, foram realizadas quase 80 mil cirurgias bariátricas, como elas são chamadas (a bariatria é o ramo da medicina que estuda a obesidade), em hospitais brasileiros públicos e privados.
Desse total, o percentual de adolescentes mal chega a 5%. Isso tem razão de ser. A cirurgia é um recurso pouco recomendado para essa faixa etária.
A redução de estômago é uma intervenção brusca.
Os métodos mais empregados são a aplicação de um anel de silicone ajustável que, quando inflado, diminui a capacidade de armazenamento do órgão e o grampeamento de parte do estômago. A recuperação é lenta.
"Do dia para a noite você é obrigado a se alimentar em quantidades mínimas até que o corpo se acostume com a nova realidade", diz Ricardo Cohen, cirurgião e pesquisador do hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo.
"É preciso muito preparo físico e psicológico para enfrentar as transformações."
Cohen, que já atendeu a mais de 5.000 pacientes com o problema, diz ter feito a operação em menos de uma dúzia de adolescentes.
A redução é um recurso usado "depois do insucesso de todas as tentativas de tratamento", explica o médico Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Editoria de arte/folhapress
CONTRA A OBESIDADE Jovens poderão fazer a cirurgia de obesidade na rede pública
BULLYING
Os dois especialistas alertam para um aspecto errado e recorrente a respeito do tema.
A cirurgia bariátrica não é um corretivo estético.
Almino Ramos explica: "O que tentamos é ajudar pessoas que tem sérias complicações decorrentes da obesidade mórbida e tiveram a vida prejudicada por isso".
Por complicações, entendam-se diabetes, hipertensão, apneia do sono, artrose e até problemas de pele.
"Nessa fase da vida, quando estão mais expostos ao bullying por causa dos quilos a mais, adolescentes podem ser levados a crer que tudo se resolverá com a redução de estômago", diz Cohen.
Não é assim. Médicos apostam sempre em um tratamento multidisciplinar que envolve nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas.
Os objetivos são a reeducação alimentar do paciente e o estímulo à prática de esportes. Ou seja, a velha receita para evitar sobrepeso e ter mais saúde.
Segundo dizem os médicos, o maior desafio é tirar os jovens da frente do computado e dos seus quartos para mostrar que vale a pena comer mais saudavelmente e praticar alguma atividade física. "Sob o risco de se transformarem em pessoas doentes se não focarem nisso", alerta Ramos.
CALVÁRIO
Para os adolescentes que a partir do ano que vem poderão procurar o SUS para realizar a cirurgia, as notícias não são boas.
A estrutura do sistema único de saúde está longe de atender a demanda pelo procedimento. A demora na fila de espera pode ir de 4 a 12 anos, a depender do caso.
Um jovem de 16 anos, por exemplo, pode acabar sendo operado já na idade adulta, aos 28. Na rede privada, uma cirurgia bariátrica custa em média R$ 10 mil.

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