quarta-feira, 28 de novembro de 2012


Instituição estimula reflexões sobre questões raciais
A faculdade começou com apenas uma sala e hoje tem mais de 2000 alunos
A Faculdade Zumbi dos Palmares (FZP) existe em São Paulo desde 2003 e surgiu para atender a demanda específica de alunos negros. Por representar um espaço inovador no Ensino Superior, Marla Santos, da Faculdade de Educação (FE) da USP, elaborou seu mestrado a partir da configuração da FZP e averiguou que a instituição é capaz de causar reflexões e transformações na maneira como questões raciais são tratadas.
A pesquisa, realizada entre 2009 e 2011, a partir de visitas de observação e entrevistas individuais baseadas em questionários, buscou focar como ações afirmativas raciais na área da educação podem modificar a relação de pertencimento racial dos estudantes. Marla explica que muito do seu interesse estava justamente em compreender como alunos da FZP se sentiam em um ambiente diferente de outros já frequentados e de um padrão existente na sociedade.
O mestrado revelou que apesar de uma porcentagem dos alunos buscar a faculdade por seu preço acessível, muitos enxergavam outros valores na instituição. Em alguns casos eram universitários que abandonavam cursos anteriores por preconceito racial, dificuldade em acompanhar conteúdos ou ainda por notarem uma diferença desconfortável entre as classes sociais. Ao optarem por cursos da FZP, alunos perceberam ser incentivados a se ajudarem e a se afirmarem como negros.
Início precário
A faculdade hoje possui cinco cursos de graduação (Administração de Empresas, Publicidade e Propaganda, Direito, Pedagogia, e Tecnologia em Transportes) mas começou em condições precárias, com somente uma sala e professores voluntários. Atualmente, cerca de 2 mil alunos frequentam a faculdade que está instalada no antigo galpão de ginástica olímpica, judô, esgrima e balé, dentro das dependências do antigo Clube de Regatas Tietê, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Sem fins lucrativos, a instituição pretendia, por meio de um resgate histórico e cultural da realidade do negro no Brasil, incorporar a igualdade racial para criar um referencial positivo na educação.

O principal objetivo da faculdade é promover a ascensão da população negra e por isso 50% de suas vagas são destinadas a candidatos autodeclarados afrodescendentes. O reconhecimento da pertença racial e aquisição de uma consciência política das questões do racismo são inseridos em disciplinas como História Econômica do Negro no Brasil, e História Cultural do Negro no Brasil, assim como muitas outras. Parcerias de financiamento com empresas também são firmadas para reduzir custos da mensalidade e firmar convênios e programas de estágios profissionais. Nesse contexto, a FZP tem ganhado espaço na mídia internacional e brasileira ao receber visitas de representantes de governos e da sociedade civil.
Quanto à questão de um certo isolamento que a faculdade pode parecer apresentar, a pesquisadora afirma que isso não é um problema.”Os alunos negros fazem parte da sociedade e frequentam outros ambientes multirraciais, seja no trabalho ou em vários outros, então não há esse isolamento. Ademais, o que a faculdade faz é dar maior base e sustentação para que esses alunos, na situação em que estão imersos, saibam lidar com ela e se sintam melhor diante da sociedade,” explica Marla.
Contribuições
Segundo Marla, sua pesquisa pode ajudar a discutir cotas em universidades e até no mercado de trabalho. Além da reflexão de como cotas devem ser feitas para que não se tornem apenas um número, é necessário considerar como alunos de cotas são posteriormente recebidos no mercado de trabalho. A pesquisadora defende que seu estudo cria uma oportunidade de compreender como a formulação do imaginário de um novo cidadão negro pode contribuir para a erradicação do racismo e para a diminuição das desigualdades sociais no Brasil.

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