Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

domingo, 11 de novembro de 2012


Médicos e enfermeiros têm percepções tradicionais de gênero
Por conta do alto número de mulheres atendidas pelos serviços de saúde que sofrem violência doméstica,  a psicóloga Mariana Hasse desenvolveu um estudo na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP em que analisou como os médicos e os enfermeiros percebem a questão da violência contra a mulher, a fim de melhorar o atendimento feito a elas. A pesquisa observou que os profissionais possuem uma concepção parecida e tradicional sobre essas questões. Ou seja, têm valores culturais que tomam os papeis masculinos e femininos como naturais, e não como construções sociais.
Violência contra a mulher é uma questão social; quem agride não é sempre um louco
O estudo, orientado por Elisabeth Meloni Vieira, foi realizado em Ribeirão Preto (interior de São Paulo), com entrevistas de 13 médicos e 10 enfermeiros. Essas entrevistas fizeram parte de pesquisas anteriores sobre o tema realizadas no município, que analisaram a percepção dos profissionais separadamente. Segundo a autora, foram escolhidos os médicos e os enfermeiros pois toda Unidade Básica de Saúde (UBS) conta com esses dois profissionais, enquanto outras especialidades não estão sempre presentes.
Os resultados do estudo Percepções de médicos e enfermeiros acerca da violência contra a mulher: uma análise comparativa mostraram que ambas as categorias têm percepções tradicionais de gênero, embora com algumas diferenças. Por exemplo, em 2003 entrou em vigor a lei 10.778/03, que estabelece a notificação compulsória de casos de violência contra a mulher atendida em serviços de saúde. Para poder executar a lei no município de Ribeirão Preto, somente os enfermeiros receberam capacitação técnica, o que faz com que só eles notifiquem os casos. Outros profissionais que percebem violência contra a mulher repassam as informações para os enfermeiros. Além disso, dos 10 enfermeiros entrevistados, nove são mulheres. Essas enfermeiras possuem uma maior motivação para notificar os casos de violência pelo fato de também serem mulheres. “Elas têm uma mobilização pessoal para cuidar das mulheres porque se identificam, mas essa mobilização não deve ser pessoal. Todos devem ser capazes de lidar com essa situação”, diz Mariana.
Capacitação
Tanto médicos quanto enfermeiros acreditam ter uma formação precária nesses aspectos, o que vai ao encontro das observações da autora do estudo. Segundo Mariana, embora as funções sejam diferentes, todos os profissionais podem receber uma mesma capacitação para lidar com a violência doméstica, mas essa capacitação tem que ter um foco diferente do que ocorre hoje. “Mesmo os enfermeiros que passaram pelo treinamento, só receberam uma orientação técnica. É necessário capacitá-los com um outro viés. Não só tecnicamente, mas ajudá-los a mudar a concepção de gênero que possuem, entender que a violência contra a mulher é uma questão social e não patológica, que quem agride sua mulher não é sempre um louco”.

A pesquisadora destaca que a percepção de gênero foi parecida entre todos, não tendo muita diferenciação nem entre as mulheres. Quando os enfermeiros foram perguntados sobre quais eles acreditavam serem as causas para a violência doméstica, o discurso de muitos (e muitas) foi no sentido de culpar a mulher por ter se inserido no mercado de trabalho. Ou seja, ter saído somente do âmbito doméstico. Para eles, a família poderia estar se destruindo por causa disso. “E as mulheres que possuíam esse discurso sentiam uma culpa muito grande. Afinal, elas mesmas estavam trabalhando”, diz.
Segundo a pesquisa, os profissionais, especialmente os médicos, vêem a violência sofrida pela paciente se for uma violência física, principalmente, sendo que esta não é a única forma de violência. A maioria deles também desconhece a rede de atendimento e pede um serviço especializado para atender os casos de violência. Para a autora do estudo, no entanto, não é necessário um serviço especializado, mas sim uma articulação maior entre os serviços que existem. “Atualmente as mulheres ficam na chamada rota crítica, isto é, ficam indo de um lugar ao outro sem que seu problema seja resolvido, porque os serviços não conversam entre si.”
Na opinião da psicóloga, o despreparo dos profissionais da área pode ser aprimorado com políticas de humanização, que sensibilizariam os mesmos. Ela acredita que uma vez que os médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde possuam uma formação mais humanizada, podem ser capazes de lidar com qualquer problema de saúde, não só a violência contra a mulher. “As mulheres têm que ser perguntadas sobre sua vida para falar o que está acontecendo. Se os profissionais perguntarem, elas falam”, diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário