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sexta-feira, 5 de abril de 2013


“Coelhinho da Páscoa existe?“

ISABEL CLEMENTE

Senti que teria uma conversa difícil pela frente quando minha filha mais velha  me olhou com um ar solene e anunciou: “Preciso te fazer três perguntas“. Era domingo de Páscoa, e ela tinha reclamado da ausência de patinhas do coelhinho pela casa. Este ano, escondemos pistas e brincamos de caça ao tesouro com as duas meninas, de 7 e 3.
A primeira pergunta chegou certeira.
- Coelhinho da Páscoa existe ou foram vocês que escreveram as pistas?
Sob o olhar inquisidor dela, e o da pirralha ao lado com cara de “que papo é esse“, tentei mudar de assunto. Não consegui. A menor continuava oscilando o olhar de mim para a irmã como quem tenta entender ainda onde iríamos chegar com aquela conversa. Eu ganhava  tempo refletindo sobre o papel da imaginação no mundo da criança, das histórias fantásticas, do poder de acreditar naquilo que não se vê. Mas eu nunca levei muita fé na história do coelhinho e me sentia impossibilitada de incentivar aquilo por muito tempo. Quando tivemos uma folga, falei a verdade.
- Você foi comigo comprar o ovo da sua irmã, você viu que fui eu quem comprou.
- Tá, mas quem escreveu as pistas?
- Filha, que resposta você queria ouvir?
- Que o coelhinho existe!
Com uma lança cravada na minha costela, engoli em seco, e respondi.
- Mas eu não posso te dizer isso.
Com os olhos marejados, ela continuou me olhando.
- E Fada do Dente? Quem colocou aquela moeda embaixo do meu travesseiro?
Àquela altura, eu estava achando que era revelação demais para um dia só e estava me odiando por decepcioná-la. Não podia desmanchar tantas crenças infantis de uma só vez. Preferi dar à fada o benefício da dúvida.
- Vou te falar a verdade. Naquela manhã, seu dente sumiu e até hoje não sabemos como nem por quê.
É verdade. O dentinho guardado embaixo do travesseiro desapareceu, provavelmente em algum canto insondável da cama, do piso, do rodapé, sei lá.
- Diante daquilo, eu e seu pai sem saber o que fazer, achamos melhor te dar a moeda em troca. Por isso eu não sei te dizer ao certo o que é essa fada, mas é bom acreditar que seres fantásticos e bons tomam conta da gente de alguma maneira.
Ela sorriu, ainda na dúvida, e lançou a terceira pergunta.
- E Papai Noel existe?
- O que você acha?
- Uma vez eu vi um brilho na janela.
- Porque ele é diferente e vou te explicar por quê.
Resolvi contar um pouco a história de Cristo, essa que conhecemos há mais de dois mil anos, repleta de milagres e bondade com o próximo. Falei dos princípios que ele pregou e que nos guiam até hoje. Ajudar, ser generoso e, sobretudo, acreditar em milagres, porque eles acontecem todo dia, perto da gente, sem que se dê conta. Uma doença que vai embora, uma viagem que dá certo, uma brincadeira que nos deixa feliz, um desejo que se realiza, um presente inesperado são pequenos milagres do nosso dia-a-dia. Há outros mais fantásticos, claro, e que a gente não sabe explicar como nem por quê aconteceram. É nesses que devemos acreditar sempre.
- Você mudou de assunto! – ela protestou, rindo.
- Não mudei não. Eu queria te dizer que Papai Noel é um milagre de Natal.
- Ah…
- Então basta acreditar nele?
- Acho que sim. Papai Noel é um milagre sobre a realização dos nossos desejos.
- Se ele realiza desejos, por que não me dá logo um Tablet?
Gargalhamos juntas sobre a bobeira dela, mas tenho a impressão de ter saído dessa conversa convencida que amadurecer é isso: trocar lendas por milagres.

http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2013/04/03/%e2%80%9ccoelhinho-da-pascoa-existe%e2%80%9c/

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