Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

sábado, 13 de abril de 2013


Os Croods e nós

ISABEL CLEMENTE

Os Croods, nova animação da Dreamworks, narra a aventura de uma família pré-histórica obrigada a abandonar a caverna onde morava e encarar o que parece ser o iminente fim do mundo. Na trajetória repleta de fuga e medo, eles descobrem – depois de muito susto – as maravilhas do mundo que habitavam.
Não tem como uma família com crianças pequenas não se identificar um pouquinho com a rotina dos Croods.
Explico. Os Croods passam boa parte do dia numa luta insana por alimento e retornam correndo para a caverna antes que a noite chegue. A escuridão é o manto protetor dos inimigos sempre à espreita. Ainda mais sem dominar o fogo.
Pense num casal com crianças pequenas e inclua na lista um bebê naquela fase de transição da amamentação para papinhas. A família que não se contenta em comprar potinhos pra gente tão pequena está sempre às voltas com idas ao supermercado, à mercearia ou ao hortifruti. Manter legumes e hortaliças frescos em casa é uma das muitas aventuras dessa gente, também preocupada com vacinas, idas frequentes ao pediatra, trabalho, muitas obrigações e passeios, claro, porque os filhos mais velhos não têm que ficar presos em casa. E alguém lembrou de comprar a fralda? São tantas preocupações básicas relacionadas ao item sobrevivência que só falta mesmo caçar com lança de pedra.
Mas a noite vai chegando, o cansaço batendo e aquela turminha toda precisa voltar para a caverna, digo, para casa, antes que o cansaço – um inimigo sempre à espreita quando a noite chega – ataque.
O bote do cansaço precisa ser evitado tanto quanto o daquele animal esquisito que persegue a Eep (a mocinha-protagonista dos Croods) ao entardecer. Os dois são mau humorados, sorrateiros e cruéis. A criança só deixa de estar vulnerável ao cansaço quando devidamente protegida pela caverna (apartamento, ou quarto, ou lugar escuro e calminho). E lá vão os pais correndo para casa.
A vida na caverna dos Croods é repleta de regras, ou melhor, de proibições. Não pode isso, não pode aquilo, não pode nada. Nõa pode nem ter curiosidade. Levante a mão quem conseguiu, desde o princípio, ensinar o bebê a não fazer muita besteira sem usar demais a palavrinha “não”. Não bote isso na boca. Não suba na mesa. Não debruce na janela. Impressionante como a casa é perigosa…e como eles são curiosos.
Também não tem como não se identificar com a cena em que, na hora de dormir, o pai das cavernas dá a ordem: empilha! E um deita em cima do outro, amontoados e aconchegados.
Depois de rir, pensei nas manhãs preguiçosas dos fins de semana, em que, devidamente amarrotados na cama, brincamos de qualquer coisa sem pressa de levantar e trocar os pijamas. Costumo ficar bastante amassada na brincadeira afinal, somadas, minhas filhas pesam 37 quilos. Não consigo respirar…
A filha-bebê Crood mais parece um cachorrinho, que fareja, late, lambe, morde e rasteja. Quem tem uma criança pequena em casa ou um bebê sabe o quanto isso pode ser um retrato quase fiel da realidade…
E, finalmente, os Croods se deixam levar pela curiosidade de Eep e as ideias inovadoras de Guy, o primitivo descolado que chega com o fogo e outras revoluções, arrebatando o coração da protagonista.
De alguma forma, aquele fim encantador do filme sintetizou um sentimento que começo a experimentar à medida que minhas filhas crescem e dependem menos de mim. A maturidade delas me liberta aos poucos da minha caverna.
Sentada à beira da piscina, eu as observo brincar, sem que meu colo seja urgente e necessário.
Chego tarde ao banheiro, porque a pequena não só se limpou depois do xixi como deu descarga.
Encontro com elas pegando água no filtro sozinhas. Saciam a própria sede.
Tranquilos enquanto as meninas brincam na casa de uma prima, eu e meu marido fazemos compras num supermercado e sentamos para tomar um café. E o telefone não toca!
A mais velha conta animada que fará um passeio com a turma. E eu não devo ir, claro.
Falta muito ainda. A estrada é longa, mas o mundo é um lugar cada vez mais encantador e para explorá-lo elas dependem cada vez menos de nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário