quarta-feira, 10 de abril de 2013


Sem domésticas, japonesas interrompem carreira para cuidar dos filhos e da casa

Nobuko Ito e seu bebê. Crédito: BBC
Advogada Nobuko Ito não pôde voltar para o emprego depois que teve três filhos
No Japão, país com uma das menores taxas de emprego doméstico no mundo (menos de 0,1% da população empregada), muitas mulheres interrompem ou abandonam definitivamente suas carreiras para cuidar dos filhos e da casa.
A desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho japonês é uma das razões que levam muitas delas a assumirem o papel de "rainha do lar", ficando responsável por administrar o salário do marido, que em muitos casos recebe uma mesada da esposa.
Segundo relatório Womenomics, elaborado pelo banco de investimentos Goldman Sachs, 70% das mulheres japonesas abandonam o trabalho assim que têm o primeiro filho.
A advogada japonesa Nobuko Ito ilustra esta realidade. Ela trabalhava num importante escritório de advocacia e saiu do emprego quando se tornou mãe. Hoje com três filhos, não tem como retornar ao antigo trabalho, que exigiria uma longa jornada.
"Quem quer continuar trabalhando tem que esquecer ter filhos e se dedicar integralmente à empresa", disse a advogada, que abriu um pequeno escritório perto de sua casa, em entrevista à BBC.
Segundo Martin Oelz, especialista em direito trabalhista da Organização Internacional do Trabalho (OIT), muitas mulheres não consideram vantajoso voltar ao mercado após a maternidade porque terão salários inferiores aos que recebiam antes de os filhos nascerem.
"Muitas mães voltam ao trabalho em carga horária reduzida podendo receber até 60% menos do que os homens", diz em entrevista à BBC Brasil.
Soma-se a isso o contexto histórico e cultural japonês, em que ainda é comum a mulher não ter grandes ambições profissionais e se dedicar aos filhos e à casa, diz Oelz, ponderando que esta realidade está mudando.

Mesada para o marido

O brasileiro Leonardo Latini mora no Japão desde 2001 e relata experiências curiosas de amigos japoneses, que entregam seus salários às esposas e, em troca, recebem uma mesada.
"É a mulher que fica responsável por gerir a casa, pagar contas, fazer as compras e cuidar dos filhos", disse ele em entrevista à BBC Brasil.

Leonardo Latini
No Japão desde 2001, Latini compra ingredientes pré-preparados para facilitar na cozinha
Pai de Fernando, de seis anos, Leonardo conta que ele e a ex-mulher nunca tiveram empregada ou faxineira e que ela decidiu parar de trabalhar assim que engravidou.
"Tivemos uma experiência clássica de Japão. Longe da família e sem empregada, fazia mais sentido ela parar de trabalhar para cuidar do nosso filho. Eu mantive a casa e dividia as tarefas domésticas com ela", comenta.
Quando o menino fez dois anos, a ex-mulher de Leonardo voltou ao trabalho em tempo integral, e o garoto foi matriculado em uma creche, cujo valor era cerca de 10% da renda total do casal.

Máquina de arroz

Com os dois trabalhando, a tecnologia disponível e o tamanho reduzido dos imóveis auxiliaram o casal na realização das tarefas de casa.
"Aqui tem produtos de limpeza para tudo, e as cozinhas são muito bem equipadas. Tem até uma máquina de fazer arroz, que já vem lavado. É só jogar na máquina, acrescentar água e em meia hora está pronto", explica.
Morar em um apartamento pequeno (em média, os apartamentos japoneses não chegam a 30 m²) e poder contar com supermercados e lojas de conveniência por toda parte também facilitaram a vida da família.
"Comprar carnes e legumes cortados e lavados agiliza na hora de fazer o jantar. E como roupas de bebê são muito baratas aqui, comprávamos grandes quantidades para não precisar lavar o tempo todo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário