Cabo de guerra
Uma leitora, mãe de dois filhos que têm seis e oito anos, diz que vive em conflito com os garotos.
Ela quer que eles tomem banho, eles querem jogar videogame; ela quer que eles almocem, eles pedem petiscos; ela quer que eles se arrumem rapidamente para a escola, e eles demoram muito. "Parece que é de propósito", diz essa mãe.
Bem ou mal, dependendo do dia, ela consegue dar conta da árdua tarefa de educar os filhos. O problema é que ela está começando a achar que a situação vai piorar.
Como algumas de suas amigas têm filhos adolescentes e elas trocam experiências sobre o assunto, está assustada com o que a espera nos próximos anos.
Em resumo, pergunta se os conflitos dos filhos com os pais no período da adolescência precisam ser tão pesados como ela tem visto.
Seria tão bom educar sem conflitos, não é verdade? Às vezes, tenho a impressão de que esse seria o maior desejo dos pais -- e de professores também.
Que tal mandar o filho tomar banho e ele ir na hora, lembrá-lo da lição e ele imediatamente se encaminhar para dar conta de sua responsabilidade, dizer que é hora de dormir e ele responder que já estava mesmo sentindo muito sono?
Nunca será assim o relacionamento de pais com filhos, por um motivo simples: o que as crianças querem em geral não coincide com o que os pais mandam. Pronto: é assim que nasce um conflito. E esses conflitos são naturais no processo educativo porque as crianças miram apenas no que querem e os pais no que elas precisam.
Esse tipo de conflito continua na adolescência, só que com novas aparências. Agora, eles querem ir para as baladas da moda, fazer viagens sem os pais, tomar bebidas alcoólicas etc.
A questão é que os jovens têm, nesse período da vida, novos argumentos e já aprenderam muitas estratégias para pressionar os pais, que se sentem acuados frente a tantas demandas dos filhos.
E tem mais: os pais podem pegar uma criança pela mão e levá-la ao banho, por exemplo, mesmo contra a vontade. Com o filho adolescente, já não dá para fazer isso.
Converso muito com pais e noto que boa parte deles perde o foco na relação com os filhos porque quer que eles aceitem o que é dito. Isso pode acontecer de vez em quando, mas quando se tratar de um querer imperativo do filho, certamente os pais não vão conseguir convencê-lo a abdicar dele.
Por isso, é preciso distinguir os conflitos insolúveis daqueles que podem ser negociados. E, pensando bem, os insolúveis são poucos, por isso dá para bancá-los.
Por exemplo: se os pais acham que ainda é cedo para o filho frequentar baladas, vão ter de se preparar para reafirmar sua posição sempre, até que o filho tenha idade para ir. Se acham que ele pode ir, é bom lembrar que em determinados locais e horários há restrições de idade para entrar.
Permitir que o filho frequente tais baladas significa aceitar que ele use estratégias ilícitas para ter êxito em seu intento. E isso se dará com a anuência dos pais. Esse fato pode trazer consequências para o relacionamento entre pais e filhos, já que alguma lição o jovem aprende com a atitude dos pais. O difícil é saber que tipo de lição ele absorve.
Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. http://folha.com/no1300843
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