quinta-feira, 13 de junho de 2013

Sugestões de bons documentários para assistir e refletir

por Amelia Gonzalez 
Neste fim de semana assisti a três filmes e quero compartilhar com vocês:


Maria Montessori – Uma vida dedicada às crianças” – Não pensem que se trata de um enfadonho documentário teórico sobre  o método de ensino criado pela educadora (na foto ao lado) e conhecido mundialmente.  O belo drama, muito bem filmado, interpretado pela atriz Paola Cortellesi, fala mais sobre  a luta de uma mulher, no fim do século XIX, para conquistar seu espaço numa sociedade machista que só permitia  à mulher um direito: o de ser esposa.
O filme põe à mostra também o tratamento cruel que a sociedade da época dedicava aos doentes mentais. Encarcerados como bichos, violentamente amarrados, recebendo choques elétricos. Bem, eu disse “sociedade da época” mas, como se sabe, os doentes mentais ainda são um ponto fora da curva em nossos dias, pleno século 21.  A humanidade não se preparou para eles.
Pois foi justamente numa visita a um internato, onde também havia crianças órfãs consideradas doentes mentais, que Maria Montessori percebeu, pela primeira vez, que acreditava, mesmo intuitivamente, num outro modelo para educar e cuidar das crianças, quer fossem sãs ou não. A cena é linda: cercada por médicos, todos homens, Maria consegue acalmar um menino que estava agitado, tinha mordido um enfermeiro, portanto prestes a ir para a camisa de força. A criança se tranquilizou com um simples contato, uma voz carinhosa e doce.
O vídeo é também a história de uma paixão não correspondida.  Maria, a voluntariosa, a que sabia bem onde tinha seu nariz e que defendia suas teses com vontade, a que não se curvava diante de negativas, se apaixonou pelo psiquiatra  que coordenava o trabalho com as crianças. No imaginário dela, formariam o casal perfeito, com o mesmo ideal. Mas a realidade se mostrou bem diferente e Maria precisou pagar um valor alto, em toda a vida, por ter sonhado uma única vez em ser feliz ao lado de um parceiro.  Não vou contar mais detalhes para preservar algum suspense do filme.
Montessori foi a primeira mulher a cursar a Faculdade de Medicina e Cirurgia na Itália, num mundo em que, como ela dizia, “os caprichos de um homem valiam mais do que a vida de uma mulher”.  A mãe, uma pessoa também com ideias próprias e de vanguarda, ajudou-a a enfrentar até mesmo a irritação do pai, que não se conformava com tanta rebeldia.
Maria Montessori possivelmente criou um programa de educação sobretudo baseado na liberdade porque, alma inquieta que foi, sentia-se sempre cerceada. Seu método correu mundo, cruzou fronteiras. Na Itália, sua pátria, o governo de Mussolini quis transformá-lo em política pública, mas Montessori se negou a ter que fazer mudanças para agradar ao regime.
São três horas de documentário em duas partes e está disponível em locadoras e no YouTube.
“Soy Cuba – O Mamute Siberiano” – Era uma vez um diretor de cinema russo que saiu de sua terra gelada para enfrentar o calor dos trópicos e  filmar um documentário sobre a revolução cubana. Depois de 14 meses o filme ficou pronto. Com toda a pompa e circunstância, ele estreou num cinema cubano, com direito à presença de autoridades e convidados.
Mas a carreira do documentário “Soy Cuba” não foi feliz. A própria equipe que ajudou o diretor Mikhail Kalatozov,  não gostou do resultado final. As opiniões se dividiam entre aqueles que achavam que ficou parecendo uma propaganda chapa branca mal feita e os outros que o criticaram também pela parte estética: cenas longas demais, frias demais, longe demais do gosto tropical.
Trinta anos depois, no entanto, nos anos 90, os laureados cineastas americanos Martin Scorsese e Francis Ford Coppola descobriram a peça num arquivo/museu e a recuperaram.  Foi o que bastou para que “Soy Cuba” se transformasse. Virou quase um best-seller, foi visto por um monte de gente, recebeu muitos elogios.
Bem, o documentário de Vicente Ferraz, que se chama ‘Soy Cuba, o Mamute Siberiano”, conta essa história entremeando-a com imagens do documentário recuperado e depoimentos da equipe de filmagem. O mais incrível? Fotógrafo, assistente de câmera, atriz… ninguém sabia que o projeto de Kalatozov (o Mamute Siberiano do título do documentário de Ferraz) alcançou fama e se tornou um clássico da história da revolução socialista que transformou a vida da ilha caribenha.
“Soy Cuba, o Mamute Siberiano” ganhou vários prêmios. Vicente Ferraz é quem vai narrando o documentário, contando em primeira pessoa como ele foi descobrindo os revezes da filmagem,  levando o espectador a fazer um link imprescindível com o projeto socialista de Fidel Castro. Os paradoxos do regime castrista  ficam à mostra, a bela Havana também. Um detalhe impressionante é quando Ferraz entrevista um dos autores do documentário que absolutamente não se lembrava de ter feito parte daquela filmagem.
O filme pode ser comprado online na loja virtual da revista “Caros Amigos”. Recomendo para quem gosta de história e para quem gosta da história do cinema. Trata-se de uma peça rara.
“A Ascensão do Dinheiro” – Convidado pela BBC, o professor Niall Ferguson transformou seu livro homônimo num seriado com seis partes. E ficou muito bom.
Esqueça posições ideológicas porque elas só vão atrapalhar  a descoberta dessa verdadeira aula de economia que pode ser assistida por toda a família reunida em frente à televisão num feriado prolongado. Saber a história do dinheiro, sobretudo em tempos de crise econômica, é fundamental para jovens e adultos.
O seriado tem quase seis horas de duração, por isso recomendo um feriado prolongado. E não podia ser mesmo mais curto porque conta a história do dinheiro desde quando, há 4 mil anos, na Mesopotâmia, ele era uma peça de argila com os dizeres: “Pague ao portador…”  até os dias de hoje. E o telespectador/aluno vai descobrindo que o poder do dinheiro é o poder da confiança que as pessoas têm nele.
“Dinheiro não é um metal, é confiança inscrita, não importa em que material: prata, argila, papel ou uma tela de computador. Contanto que o proprietário acredite nele”, diz Ferguson.
Assim como no livro (lançado em 2008 pela Editora Planeta), o documentário é dividido em capítulos: “Sonhos de Ganância”, “Servidão Humana”, “Inflando Bolhas”, “O retorno do risco”, “Seguro como Casas”, “Do Império à Chimérica”. Ferguson viaja por vários países,  faz entrevistas, chega às origens do mundo financeiro que conhecemos hoje.
Os bancos nasceram para que credores continuassem ganhando dinheiro com empréstimos sem ter que se arriscar tanto; a família Médici criou a comissão deduzida da conversão de uma moeda para outra porque não podia cobrar juros (a igreja não permitia); as guerras foram o motivo para a criação do mercado de títulos… Quer saber mais? Pega o vídeo na locadora ou compre numa livraria. Vale a pena.
 Crédito da foto: Acervo da Biblioteca dos Estados Unidos

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