Um caso real que levantou discussões sobre eutanásia na Itália é o ponto de partida para as tramas fictícias do drama do diretor Marco Bellochio
ALEX XAVIER
Apesar de inspirado em um caso que abalou a Itália, o mais recente filme do cineasta Marco Bellocchio – do genial Vincere (2009) – levanta questões universais. Em 2009, Eluana Englaro, que estava em coma havia 17 anos, virou o centro de uma grande discussão sobre a eutanásia quando seu pai decidiu pelo desligamento dos aparelhos que a mantinham viva. Até o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi tentou intervir, encaminhando ao parlamento um projeto de lei que obrigasse os médicos a manter a alimentação artificial da paciente.
A partir desse caso real, A bela que dorme acompanha uma série de personagens fictícios envolvidos, diretamente ou não, no debate. Entre eles está Uliano Beffardi (Toni Servillo), um dos senadores que discutiam o tal projeto de lei. O político se vê dividido entre os interesses de seu partido e a pressão da própria filha, Maria (Alba Rohrwacher), que participa das vigílias pró-vida de grupos católicos. No meio dos protestos, a moça sente-se atraída por Roberto (Michele Riondino), um jovem que defende a posição oposta. Filho do diretor, Pier Giorgio Bellocchio faz um médico que tenta impedir uma paciente depressiva (Maya Sansa) de se matar. Ao mesmo tempo, uma mulher amarga (a francesa Isabelle Huppert) acompanha de longe o noticiário sobre o caso enquanto cuida da filha, também em estado vegetativo. O roteiro não defende nenhum dos lados, mas mostra como os critérios adotados (religiosos, políticos ou emocionais) acabam eclipsando a razão. Também fica claro que a analogia com a fábula da Bela Adormecida refere-se à própria Itália, há anos vivendo uma complicada crise política.
A BELA QUE DORME *** (Bella addormentata, Itália/França, 2012). Gênero: drama. Duração: 115 min.
http://epoca.globo.com/regional/sp/cultura/noticia/2013/07/bela-que-dorme-discute-eutanasia-na-italia.html
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