por Ana Cássia Maturano
No programa da Ana Maria Braga existe um quadro chamado Fashion Express, em que alguém pede para que uma peça de roupa seja transformada. Muito afeiçoada a sua avó já falecida, uma jovem solicitou a transformação de uma camisola que pertenceu a ela. A garota falou de todo seu carinho pela dona da peça. Com lágrimas nos olhos, agradeceu sua própria mãe por ter cuidado dela.
Emocionei-me com essa parte. Provocou lembranças de minha própria história. Sempre presenciei os cuidados que foram dispensados pelos mais jovens aos idosos em minha família e em outras. Nunca pensei que pudesse ser diferente. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam. Nem sempre há disponibilidade de se cuidar dos outros, principalmente dos mais velhos.
Cuidar de crianças, apesar do trabalho, é algo estimulante. As pessoas se sentem renovadas. Entra-se em contato com a esperança das inúmeras possibilidades que a nova vida promete. Ao cuidar de alguém mais velho, com limitações ou doente, deparamo-nos com nossa própria finitude, a decaída do corpo e da mente. Nem sempre é algo fácil emocionalmente. Por isso, opta-se, muitas vezes, por internar o idoso.
No entanto, há outro lado nem sempre vislumbrado: o desconforto que os pais têm de serem cuidados por seus filhos. Não só no aspecto físico, quando se está mais idoso. Mas de receber ajuda de qualquer espécie. Sentem-se atrapalhando a vida deles. Quando isso acontece, pelas mais diversas razões, sofrem, rejeitam a ajuda e chegam a esconder suas dificuldades. Mesmo que os filhos tenham o desejo de se dedicarem a eles. Talvez, temam mostrar seu lado mais humano e menos super-herói.
Penso que os filhos cuidarem dos pais deva ser algo natural, seja da parte do filho de se oferecer para tal, seja da parte dos pais de aceitarem. Isso é família, uns cuidam uns dos outros.
Não há problema algum em mostrarmos nossa fragilidade para nossos descendentes, principalmente quando ficamos assim. Essa é a condição de todos. E será a deles também.
Mostrar a necessidade a um filho e aceitar sua ajuda, também é criá-lo para a realidade. Não é escondendo as verdades da vida que elas serão diferentes. Até porque, se cada um cuidar dos seus – sejam filhos ou pais – muitos problemas em nossa sociedade estariam resolvidos. Não basta apenas reivindicarmos assistência das autoridades, temos que exercê-la em nossa própria família.
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