segunda-feira, 15 de julho de 2013

Pais temem mostrar fragilidade e lado ‘menos herói’ aos filhos

por Ana Cássia Maturano

No programa da Ana Maria Braga existe um quadro chamado Fashion Express, em que alguém pede para que uma peça de roupa seja transformada. Muito afeiçoada a sua avó já falecida, uma jovem solicitou a transformação de uma camisola que pertenceu a ela. A garota falou de todo seu carinho pela dona da peça. Com lágrimas nos olhos, agradeceu sua própria mãe por ter cuidado dela.
Emocionei-me com essa parte. Provocou lembranças de minha própria história. Sempre presenciei os cuidados que foram dispensados pelos mais jovens aos idosos em minha família e em outras. Nunca pensei que pudesse ser diferente. Sabemos que não é assim que as coisas funcionam. Nem sempre há disponibilidade de se cuidar dos outros, principalmente dos mais velhos.
Cuidar de crianças, apesar do trabalho, é algo estimulante. As pessoas se sentem renovadas. Entra-se em contato com a esperança das inúmeras possibilidades que a nova vida promete. Ao cuidar de alguém mais velho, com limitações ou doente, deparamo-nos com nossa própria finitude, a decaída do corpo e da mente. Nem sempre é algo fácil emocionalmente. Por isso, opta-se, muitas vezes, por internar o idoso.
No entanto, há outro lado nem sempre vislumbrado: o desconforto que os pais têm de serem cuidados por seus filhos. Não só no aspecto físico, quando se está mais idoso. Mas de receber ajuda de qualquer espécie. Sentem-se atrapalhando a vida deles. Quando isso acontece, pelas mais diversas razões, sofrem, rejeitam a ajuda e chegam a esconder suas dificuldades. Mesmo que os filhos tenham o desejo de se dedicarem a eles. Talvez, temam mostrar seu lado mais humano e menos super-herói.
Penso que os filhos cuidarem dos pais deva ser algo natural, seja da parte do filho de se oferecer para tal, seja da parte dos pais de aceitarem. Isso é família, uns cuidam uns dos outros.
Não há problema algum em mostrarmos nossa fragilidade para nossos descendentes, principalmente quando ficamos assim. Essa é a condição de todos. E será a deles também.
Mostrar a necessidade a um filho e aceitar sua ajuda, também é criá-lo para a realidade. Não é escondendo as verdades da vida que elas serão diferentes. Até porque, se cada um cuidar dos seus – sejam filhos ou pais – muitos problemas em nossa sociedade estariam resolvidos. Não basta apenas reivindicarmos assistência das autoridades, temos que exercê-la em nossa própria família.

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