terça-feira, 17 de setembro de 2013

Vivência da maternidade ameaçada pelo politicamente correto

Vivenciar a maternidade não tem sido algo tranquilo. Além das inúmeras tarefas que a mulher foi assumindo com os filhos, com a casa e a profissão, várias regras foram sendo estabelecidas de modo a contribuir para uma melhor criação dos pequenos. Elas, porém, tornaram-se tão rígidas, que mais têm atrapalhado que ajudado.

Esta área da vida, antes mais instintiva, tem se submetido ao politicamente correto, deixando muitas mães angustiadas pela culpa que carregam por não terem feito o melhor.

Um exemplo é a amamentação natural, que vem repleta de mitos, como o prazer que todas as mulheres sentem quando a praticam. Para a maioria isto é verdade, mas não para cem por cento. Pronto, lá vem a tal da culpa, caso ela não sinta este prazer todo preconizado (algumas relatam não gostarem de amamentar). Mesmo as que não gostam, fazem e sentem prazer em propiciar algo de bom para seu pequeno bebê.

A história não para por aí. Espera-se que os pequeninos sejam amamentados exclusivamente no peito até seis meses de vida, o que deve prosseguir até os dois anos, como orientação da Organização Mundial da Saúde.

Com certeza, ninguém é contra o aleitamento materno. Pelo contrário. Porém, talvez tanto tempo assim, dois anos, seja interessante em lugares em que há escassez de alimentos e a desnutrição é algo presente. Não condiz com a realidade da maioria das mamães que, mesmo se esforçando ao máximo para cumprir essa regra, fazendo a ordenha manual, não conseguem mantê-la até os dois anos (penso que psiquicamente não seria indicado, cria-se uma dependência exagerada da criança pela mãe). Hoje, as mulheres trabalham fora e não conseguem amamentar por muito tempo.

Conheci algumas mulheres que por terem amamentado o quanto puderam, em torno de seis a oito meses, sentem-se culpadas e falhas. Consolam-se dizendo que, mesmo assim, seus filhos são saudáveis.

Essa sensação para algumas veio um pouco antes, quando deram à luz. Independente de nosso país ser o campeão de cesarianas, há vários casos em que o parto normal não acontece. Assim como existem algumas grávidas que não o querem, temem este momento. Temem a dor. É um direito delas, seja por uma questão física ou psíquica, fazerem uma cesariana. Para aquelas que optaram pela intervenção cirúrgica, tudo bem. Para as que não tiveram outra opção e queriam o parto natural, a culpa costuma vir a cavalo.

E isto é só o começo, que geralmente vem acompanhado do novo e do estranhamento. Não só no aspecto psíquico e social, mas também no biológico: os hormônios entram, saem e aquele corpo tem que dar conta de tudo.

As regras continuam nos próximos passos: alimentação ideal, a melhor escola (com o método de ponta, se é que isso existe), a obrigatoriedade disto e daquilo. Regras impostas e que nem sempre condizem com a realidade.

E o que fazer? Apenas aquilo que se pode. Sem se apegar aos exageros. Não dá para ser a mãe ideal (na cabeça de alguns) e nem se culpar por não ser uma assim. A maternidade exige da mulher espontaneidade e a certeza de que está fazendo o melhor para o seu bebê. Daí que nasce o amor.

Um amor verdadeiro e sem culpa, de uma mãe real (aquela, de carne e osso). Não daquela imposta pelos outros.

Ana Cássia Maturano - Psicóloga e psicopedagoga formada pela Universidade de São Paulo (USP), é especialista em problemas de aprendizagem e escreve sobre educação e a relação entre pais e filhos.

http://g1.globo.com/platb/dicas-para-pais-e-filhos/2013/09/16/vivencia-da-maternidade-ameacada-pelo-politicamente-correto/

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