domingo, 6 de outubro de 2013

Leila Ferreira: "Felicidade é pra quem pode, como a vida deixa"

por Marina Espin

A jornalista e escritora acaba de lançar Viver Não Dói, seu quarto livro, e nossa editora convidada

Viver não dói, de Leila Ferreira, conta com 48 crônicas e pode ser comprado em capítulos, pelos ebooks (Foto: Gabriela Araújo/ Divulgação)
Viver não dói, de Leila Ferreira, conta com 48 crônicas e pode ser
comprado em capítulos, pelos ebooks (Foto: Gabriela Araújo/ Divulgação)
Apesar de trabalhar por oito anos na TV, primeiro na Bandeirantes de Brasília, depois na Globo de Belo Horizonte, o fato pelo fato não a atrai. “Nunca vou esquecer quando cheguei à redação e falei: ‘Por favor, me dê alguma pauta que não seja notícia’”, conta. O negócio de Leila é bater papo. Ter tempo para ouvir e falar. “Gosto de entrevistar do jeito que converso. Uma conversa muito mineira. Com espaço para resposta longa.” E assim a entrevista sobre seu novo livro, Viver Não Dói (Principium, selo da Globo Livros), se transforma em uma gostosa conversa que mais parece um encontro regado a muito “café de bule” e pão de queijo quentinho.
Viver Não Dói é o quarto livro da jornalista e reúne 48 crônicas que vão desde testemunhos de viagem, até conversas que trocou com moradores do interior de Minas, à saudade que sente da mãe. “Escrever era meu sonho dourado na adolescência. Mas achava que nunca teria acesso a esse mundo. Dizia que na próxima vida eu queria ser bailarina até os 30 e escritora depois”, afirma. Mas Leila conta que, por conta de sua insegurança, nunca foi muito de correr atrás. “Meus colegas me chamavam de ‘não dou conta’, que é uma expressão forte em Minas. Eu sempre achava que não daria conta mesmo.”
Viver não dói (Foto: Divulgação/ Principium)
No fim, deu conta e deu certo. Seus livros Mulheres: por que será que elas...? e A Arte de Ser Leve (ambos da Principium) chegaram à lista dos 20 mais vendidos, publicado pelo PublishNews, com 60 mil exemplares. E, de novo, a editora ficou em cima para que saísse mais um. Assim veio a ideia de um livro de crônicas: “Bem ao estilo do que tem sido a minha vida, fragmentada. Um dia estou aqui em BH, outro dia estou fazendo palestra, noutro estou numa casinha alugada na Serra da Canastra.” E foi lá, no alto da serra mineira, que grande parte do livro foi escrita. “Tentei escrever em Nova York, aluguei um quarto e sala e fui para lá naquela ideia de sentar no Central Park com o lap top. Foi muito glamour e nenhum resultado. Foi quando resolvi ir à Canastra. Lá, no silêncio da serra, o corpo do livro brotou”, diz.

Leila vira-e-mexe volta à Serra da Canastra, acompanhada de livros, músicas e vinho. "Eventualmente levo uma carga de depressão para curar lá. É meu refúgio terapêutico". A próxima viagem está marcada e os livros, separados. Entre eles, muitas obras policiais (veja abaixo os livros sugeridos por Leila), seu estilo favorito. Mas outras obras também tiveram forte impacto na sua vida. Érico Veríssimo, Eça de Queiros, Fiódor Dostoiévski. "Quando era adolescente viviam numa família com problemas imensos. A literatura deles me dava o consolo que precisava. Nos livros via que havia famílias complicadas. Histórias dolorosas", afirma a escritora que, sem querer, encontrou uma maneira de retribuir. "Talvez de uma forma inconsciente, falando da minha própria precariedade, eu esteja tentando retribuir. Como os livros fizeram comigo, hoje, falando do meu próprio desconforto da vida, posso confortar muita gente."
A obra mistura memórias e momentos que ela vive no cotidiano. Fala de dor, amor, felicidade, saudade, despedida... Fala da vida e da importância de aprender a ser feliz, ainda que em doses homeopáticas. “Como diz a escritora Vicki Robin, vivemos a cultura do muito. Não basta ser feliz, tem que ser muito feliz. A gente está habituado às coisas superlativas e as coisas pequenas vão perdendo valor.” É dessa felicidade modesta, a conta-gotas, que ela quer falar. “Já perdi a ilusão da felicidade mega há muitos anos”, afirma. Mas, calma, Viver Não Dói não é um livro prescritivo, Leila faz questão de alertar. “Não tenho a menor vontade nem a menor pretensão de dar receitas de vida nem de felicidade. Tem 31 anos que me trato de depressão e de síndrome do pânico. Consegui, bravamente, encontrar o equilibro para viver dentro das minhas limitações, como vou dar receita de bem-viver?”.
Indiretamente, Leila dá o recado. Se há algo a aprender com essa conversa, e com Viver Não Dói, é que “felicidade não é para quem quer, é pra quem pode, como a vida deixa”.

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