domingo, 12 de janeiro de 2014

O cabelo é o véu da mulher ocidental - Opinião e Notícia

Jornalista do Guardian condena obsessão ocidental com o véu islâmico e vê em sua origem a preocupação exagerada do Ocidente com o cabelo como símbolo do que significa ser mulher
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Em média, mulheres britânicas gastam mais de US$ 43 mil
com cuidados com o cabelo durante a vida (Reprodução/Internet)
A jornalista do Guardian Arwa Mahdawi criticou um gráfico do centro de pesquisas americano Pew Research Center mostrando os diferentes tipos de véus que mulheres muçulmanas usam em diferentes países do Oriente Médio.  Segundo Mahdawi, a importância que instituições ocidentais dão ao uso do véu islâmico e a forma simplista e preconceituosa como costumam retratar o hábito mostra, na realidade, a obsessão dos ocidentais por cabelos.

A jornalista questiona se a diferença entre as formas de cobrir a cabeça é tão interessante assim. “Até onde posso enxergar, o achado mais interessante do estudo é que ele é mais uma demonstração da fixação bizarra do Ocidente com os lenços que as mulheres muçulmanas usam e até que ponto eles cobrem seus cabelos”, escreveu Mahdawi em sua coluna no jornal britânico nesta sexta-feira, 10.

Para ela, essa obsessão ocidental está relacionada à importância dada ao cabelo como símbolo social e sexual em países não-islâmicos. Estudos mostram que, em média, as mulheres britânicas gastam mais de US$ 43 mil com cuidados com o cabelo durante a vida, sendo que  25% das entrevistadas disseram que preferem gastar o dinheiro em seu cabelo do que comida. E as mulheres não apenas gastam dinheiro, mas também seu tempo. Em média, as mulheres britânicas passam pouco menos de dois anos de suas vidas tratando seus cabelos em casa ou em salões de beleza.

Seja ele coberto por um véu ou tingido pelo Vidal Sassoon, o cabelo é um tema feminista, diz Mahdawi.  De fato, o cabelo está tão atrelado à sexualidade feminina que, até certo ponto e dependendo do país em que se está, uma mulher é medida pelo comprimento de suas madeixas. Na semiótica da sexualidade feminina, o cabelo longo é heterossexual, cabelo curto é assexual ou homossexual e a ausência de cabelo significa a presença de alguma doença ou uma aberração.

Quando a atriz americana Natalie Portman raspou a cabeça para um papel no cinema, ela resumiu esses estereótipos com a seguinte observação: “Algumas pessoas vão pensar que eu sou neo-nazista ou que tenho câncer ou que sou lésbica”. Apesar disso, ela acrescentou: “É muito libertador não ter nenhum cabelo”.

“Retirar tufos de seu cabelo é como arrancar tufos de sua identidade”, escreve Mahdawi. “Mas não é um pouco preocupante que um bando de células mortas em sua cabeça tenham tanto poder?”.

Em certo sentido, o cabelo das mulheres no Ocidente é um tipo de véu, concluiu. O tempo e dinheiro que as mulheres gastam em seus cabelos não é apenas o livre exercício de preferências pessoais, é parte de uma performance cultural mais ampla do que significa ser mulher, num contexto que tem sido largamente dirigido por homens. “É um fato lamentável que, em todo o mundo muçulmano e não-muçulmano, as mulheres muitas vezes são julgadas mais pelo que está cobrindo a sua cabeça — cabelo ou véu — do que pelo que carrega dentro dela”.

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