segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Site de relacionamentos apresenta rapazes como se fossem produtos

Criado na França, AdoteUmCara chega ao Brasil com abordagem polêmica

LUIZA BARROS
Um dos criadores do AdoteUmCara, Manuel Conejo conta que site chegou o Brasil atendendo a pedidos Foto: Divulgação
Um dos criadores do AdoteUmCara,
Manuel Conejo conta que site
chegou o Brasil atendendo a pedidos
Foto: Divulgação
RIO — Tem muita gente por aí reclamando que o produto está em falta, e que há muito mais demanda do que oferta no mercado. A crise é tão grande que se espalha em escala global, atingindo até redutos da sensualidade como a França e o Brasil. Diante disso, os jovens empreendedores Manuel Conejo e Florent Steiner, dois parisienses de 34 anos, acharam a oportunidade para criar o site de relacionamentos AdopteUnMec.com, empreitada de sucesso na Europa que acaba de desembarcar no Brasil rebatizada como AdoteUmCara.com.br e promete ajudar a acabar com a reclamação geral que já virou até letra de música tecnobrega: “tá faltando homem”.

— Queríamos criar uma coisa que fosse ligada ao universo feminino, por isso pensamos em uma loja on-line. Achamos que era uma forma divertida de chamar a atenção das mulheres — explica Manoel, por telefone.

Uma visita ao site comprova o tom engraçadinho: na página principal, há chamadas para uma liquidação de sarados, oferta de surfistas e uma seleção de gaúchos com selo “tchê” de qualidade. Para fazer o cadastro, os interessados devem informar se são “clientes” (mulheres) ou “produtos" (homens). Quem faz login, porém, encontra um ambiente que parece um cruzamento de rede social com e-commerce. As meninas preenchem uma lista de desejos, em que informam se procuram tipos tão variados como sertanejos, vaqueiros, hipsters, geeks, andrógenos ou playboys. Feito isto, é só ir às compras e clicar no botão colocar ao carrinho para demonstrar que se está interessada. Também é possível “reservar um cara”, o equivalente a tirar uma roupa da arara. Mas, para isso, é preciso a aceitação do candidato. Outra facilidade é a concessão de “charmes", pontos de popularidade que lembram os corações e cubos de gelos do Orkut, e auxiliam na hora de ganhar destaque na página principal. Segundo Manoel, as ferramentas foram escolhidas para dar maior autonomia às mulheres.

— Não queríamos que elas ficassem atoladas de milhões de mensagens de homens. Aqui, os homens precisam primeiro da permissão das mulheres para abordá-las — diz ele, que jura ter contado com muita ajuda das amigas para entender o que elas queriam. Já o outro sócio, Florent, chegou a sair com uma menina após conhecê-la dentro do próprio site.
— Começamos a conversar on-line e tudo fluiu bem — relata o rapaz, que é formado em tecnologia da informação e se encaixa entre os geeks do site.

Na França, os números impressionam: com cinco anos de idade, o AdopteUnMec conta com 7 milhões de usuários ativos e recebe 7 mil inscrições de homens e mulheres diariamente, segundo a empresa. Curiosamente, o site é financiado não pelas “compradoras”, e sim pelos “produtos”, que pagam por pacotes que variam de € 29,90 a € 119,90 para ganharem pontos de popularidade sem depender da vontade das meninas. Por enquanto, o site brasileiro é financiado pela versão francesa e o cadastro é completamente gratuito.

No ano passado, os lucros permitiram até a abertura de uma pop-up store (loja que funciona por um período limitado de tempo) em Paris, no centro comercial Forum Des Halles, em que bonitões eram dispostos em vitrines que se assemelhavam a embalagens de bonecos. O burburinho da ação de marketing chamou a atenção do público e mídia do Brasil, e pesou na decisão de fazer a estreia fora da Europa no nosso território. A empreitada, porém, não deve ser repetida por aqui.

— Recebemos muitos pedidos de brasileiros para que o site chegasse aqui. E achamos o país incrível. Para 2014, queremos chegar ao México e à Argentina — planeja Manoel.

Ainda não se sabe, contudo, se a brincadeira dos rapazes vai cair bem no Brasil. Lançado em novembro passado com uma abordagem semelhante, o aplicativo Lulu foi alvo de ações na justiça por homens que se sentiram injustiçados. A ferramenta permitia dar nota e fazer comentários sobre a personalidade e o desempenho sexual de qualquer amigo do sexo masculino no Facebook, mesmo sem autorização. Para Manoel, o AdoteUmCara não falta o respeito com os rapazes da mesma forma que o app.

— O Lulu causou tanta controvérsia porque denigre a imagem dos homens. Pode ajudar as garotas, mas é ruim para eles. Se discutimos a questão do sexismo, o Lulu é uma coisa muito negativa. No nosso site, os homens só fazem o cadastro se quiserem e, se a menina autoriza, se torna muito ativo. Tentamos deixar as coisas mais equilibradas.


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