O sucesso das mulheres Iranianas nos últimos anos acabou incomodando muito os homens e por isso o governo decidiu restringir a participação delas em várias carreiras.
Essa semana, o Irã comemorou 35 anos da revolução que levou os Ayatollahs ao poder. Programa nuclear, repressão, são as faces mais públicas do regime, mas em duas áreas a vida da maioria dos Iranianos realmente melhorou durante esse período. Na saúde e na educação, principalmente para as mulheres.
Existe na mídia ocidental uma certa obsessão com o tema dos véus, que passaram a ser de porte obrigatório para as mulheres a partir de 1981.
Mas tem um outro lado. Em uma sociedade conservadora e machista ao usar o véu a mulher pôde sair de casa, estudar e trabalhar. Antes, para a maioria, isso quase não era possível. O véu nessa hora virou um passaporte para vida lá fora.
Existe o chador, que quer dizer tenda, e a forma mais radical, quando praticamente nada se vê a não ser o rosto.
Mas para um país onde mais de metade da população tem menos de 30 anos, as garotas usam o manteau, uma espécie de jaleco, que marca mais o corpo, as deixa mais femininas.
E o véu fica não balança mais não cai, lá atrás, em um prodígio de equilíbrio. Cada centímetro conquistado é uma vitória contra o governo.
As mulheres Iranianas não podem entrar em estádios de futebol, ver as pernas dos homens. Nilson é brasileiro, goleiro do Persépolis, o time mais popular do Irã. Ele é adorado. E está muito bem adaptado. Mas lá fora a vida tem suas particularidades, a mulher dele Gilvana, conta como é.
Fantástico: Em relação à questão do véu, já te deram alguma chamada?
Gilvana Corrêa: Já. Já me deram.
Fantástico: Cartão amarelo!
Gilvana: Quase vermelho. Eu lembro que um dia eu estava em um taxi e um senhor do carro ao lado buzinou e falou: ‘Coloque o seu véu’. Não em inglês, mas em iraniano, e eu entendi perfeitamente.
Nilson Corrêa, goleiro do Persépolis: Abraçar, as pessoas já olham. Mas beijar, isso nunca. Só em casa.
No Irã, meninos e meninas estudam em escolas separadas, mas quando chegam na universidade se juntam. Exatamente na hora em que os hormônios estão fervilhando, o ensino é misto.
No Irã, se adora poesia, túmulos de poetas são locais de encontro e peregrinação. A equipe do Fantástico conheceu duas garotas universitárias, uma faz contabilidade, a outra direito. Uma delas diz que têm oportunidades que a avó e a mãe não tiveram. Uma aprende a contar o valor da liberdade, a outra quer melhorar as leis. Para o governo Iraniano, essa presença cada vez maior das Iranianas nas universidades, no mercado de trabalho, na política é vista como um problema.
Nos últimos grandes protestos, em 2009, uma jovem de 27 anos, virou o símbolo da oposição. Neda Soltan foi morta pela polícia e as imagens correram o mundo.
E é nas universidades que a transformação da iraniana fica mais clara. Porque desde 2001 que mais de 60% dos estudantes são mulheres.
O sucesso educacional das mulheres iranianas acabou incomodando a muitos homens e por isso o governo decidiu restringir o acesso delas a várias carreiras, principalmente na área de ciências exatas, engenharia por exemplo. É como se eles quisessem que elas voltassem para casa, algo improvável. E por várias razões.
Uma universidade particular tem cursos de todo tipo na área de informática. Tem cerca de 100 mil alunos espalhados pelo pais. Um diretor confirma que quase dois terços dos alunos são mulheres. Ele diz que elas procuram essa área de tecnologia, porque e rápido para aprender e para encontrar emprego. Com a crise econômica, hoje, o salário da mulher é fundamental na família.
Uma mulher toda animada começa a falar da vida e não nota que o véu, que é obrigatório por lei, cedeu a lei da gravidade. Até que alguém dá um toque para ela se ajeitar. O repórter brinca que é para o Brasil, que não tem problema.
Informática, Internet, modernidade, século 21, véu? Obrigatório? No Irã, o número de divórcios aumentou 16 %. O casamento só 1%. A mulher, mais educada, mais esperta, tem outras opções. E o governo e o homem Iraniano, que vão ter que se adaptar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário