domingo, 2 de fevereiro de 2014

Sua compreensão é a sua arma mais poderosa


Existe um problema na luta contra qualquer tipo preconceito: o fato de, às vezes, nos tornarmos tão intolerantes quanto “eles”.
Vamos pensar por um momento que preconceito é algo muito intangível — e relativo — para ser medido em absolutos. Fomos criados de forma global com uma mentalidade elitista, separatista, xenófoba e egoísta
Além de medrosa.
Parece contraditório, para dizer o mínimo, a forma como tratamos e pensamos sobre pessoas com outros esclarecimentos, mesmo que bem distante dos nossos e, ao nosso ver, danoso.
Nós — eu tento me incluir no grupo de pessoas que lutam contra o preconceito (o próprio e o que está a minha volta) — somos aquele cara que via sombras na parede, saiu da caverna e viu o mundo com outros olhos. Tratar toda pessoa preconceituosa com violência desmedida não é nada menos que dizer que eles estão certos. É quase um Darth Vader, manja?
Ninguém escolhe ser intolerante. Ninguém escolhe ser cego. Ninguém escolhe viver de ódio.
Somos todos produtos do meio em que vivemos. Nem todo mundo consegue entender física quântica. Não é qualquer um que consegue entender que duas pessoas que nasceram, por um acaso, com os mesmo órgãos genitais possam se amar.
Você lembra de Cecil Chao?
Cecil Chao Sze-Tsung
Cecil Chao Sze-Tsung
Ele é um bilionário de Hong Kong e, há alguns anos, ofereceu uma montanha de dinheiro para o homem que “conquistasse” a sua filha lésbica.
Como o plano não deu certo, ele voltou por esses dias e dobrou o valor do prêmio de US$65 milhões para HK $ 1 bilhão (cerca de US$ 130,000,000 ou, em bom português, algo perto de R$325,000,000), na esperança de que o “problema” fosse esse. Coitado do seu Chao. Coitada da Gigi também, a filha dele que, ao contrário do que possa parecer, não sofreu violência do pai ou algo do tipo.
Ele se defende das críticas — óbvias — dizendo que não quer se intrometer na vida dela, ele quer apenas que ela “tenha um bom casamento e filhos que herdem os meus negócios”. Ele ainda faz questão de dizer que não está dizendo que não é legal ser gay, apenas quer ter certeza de que é isso mesmo que ela quer.
Gigi é diretora executiva numa das empresas do pai, e tem um trabalho relevante frente à comunidade LGBT, dedicando a maior parte do seu tempo a isso. Ela decidiu publicar uma carta aberta ao pai, em que basicamente lamenta o fato de ele não entender que ela já é casada, e que não é homossexual devido à falta de homens adequados em Hong Kong. Ao “querido papaizinho”, ela diz se sentir triste por ele não ver sua parceira como ela merece.
Gigi ainda disse que entende que ele a ama, mas é de outra época, com outra mentalidade.
“No escritório, tratamos de negócios normalmente. Nós apenas concordamos em discordar o que ‘casamento’ e ‘família’ significam.”
Gigi Chao
Gigi Chao
Entende o ponto que quero chegar?
Não é o nosso ódio ou a nossa repugnância que farão com que eles entendam. Muito pelo contrário. Alguns até se alimentam disso.
Eu não sinto isso por Cecil Chao.
Temos a história de um homem frustrado que carregará para o túmulo um amargo bobo pelo simples fato de não compreender o amor. Por tentar controlar o futuro da filha. Compreensão.

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog O Crepúsculo e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter, atende por @pedroturambar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário