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sexta-feira, 6 de junho de 2014

O drama da automutilação ou cutting


Mãe de uma adolescente de 15 anos de idade relata que a filha tem umas crises nervosas e começa a cortar os pulsos. Isso sempre depois de ter sofrido alguma decepção amorosa, pois é apaixonada por um menino que nem dá bola pra ela. Já tentou suicídio três vezes tomando uma grande quantidade de remédios [...]


Mãe de uma adolescente de 15 anos de idade relata que a filha tem umas crises nervosas e começa a cortar os pulsos. Isso sempre depois de ter sofrido alguma decepção amorosa, pois é apaixonada por um menino que nem dá bola pra ela. Já tentou suicídio três vezes tomando uma grande quantidade de remédios e veneno de rato. Ela tem autoestima baixa. O que pode está acontecendo? Isso é comum em jovens?
O que fazer ao perceber quando você descobre que o seu filho está se machucando?  A mesma coisa que faria ao perceber que ele está chorando. A automutilação deve ser sempre tratada como uma demonstração de tristeza e jamais como uma tentativa do jovem em chamar a atenção dos pais.
Pequenos cortes pelo corpo e a tentativa de escondê-los dos pais são os principais sintomas da automutilação, ou cutting, que é reconhecida como um transtorno mental desde 2013 na nova versão do DSM-V- Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental da Associação Americana de Psiquiatria. No Brasil, não existem estudos epidemiológicos sobre a automutilação, mas pesquisas feitas nos Estados Unidos e Reino Unido mostram claramente que a prática está ficando mais frequente na última década.
O mais importante é reconhecê-la como um transtorno mental que precisa de atenção e cuidado, por meio de avaliação psiquiátrica. Em casa, o apoio da família é essencial. Os pais não devem dar bronca ao perceber os cortes ou tratar o ato como travessura, mas sim oferecer conforto e compreensão. A família precisa entender que é um problema e que existe tratamento.
Muitos jovens praticam a automutilação quando se sentem angustiados, com sensação de vazio ou apresentam distúrbios de autoimagem, depressão ou ficam irritados perante situações geradas por frustração ou cobrança- os jovens relatam alívio da sensação ruim provocada por sentimentos negativos. O cutting é diferente da tentativa de suicídio (embora possam coexistir). O cutting funcionaria como uma espécie de “analgésico emocional”. As principais características do transtorno, que normalmente começa em torno dos 13 anos de idade, são pequenos cortes superficiais feitos pelo próprio adolescente, em locais do corpo que possam ficar escondidos sob a roupa, sendo os braços o local mais comum.
Em apenas um ano, houve um aumento de casos de internação por automutilação da ordem de 30% entre adolescentes do Reino Unido, em um total de 12 mil adolescentes, sendo que as meninas correspondiam a 75% dos adolescentes internados. Outro trabalho do Reino Unido identificou automutilação voluntária em um a cada 4 adolescentes entre 11-15 anos de idade . Alguns automutiladores relatam alívio após se cortarem, há até relatos de prazer. A percepção da dor parece estar alterada em alguns automutiladores.
Na vinheta clínica da menina de 15 anos, observamos que ela também tentou o suicídio por três vezes de forma grave. Não se trata apenas de uma “crise de adolescência” ou de baixa autoestima. Ela precisa ser cuidadosamente avaliada por um psiquiatra competente, mesmo que as pessoas ao redor suponham que as tentativas de suicídio sejam teatralizadas ou consideradas chamativas. Depressão, transtorno bipolar do humor, uso de álcool e drogas, transtornos de ansiedade e transtorno de personalidade borderline ou limítrofe (transtorno de personalidade no qual há uma tendência marcante a agir impulsivamente e sem consideração das consequências, juntamente com acentuada instabilidade afetiva) podem levar a comportamentos de automutilação ou autoflagelação na população jovem – conforme a literatura descreve. Histórico de abuso físico ou sexual, baixa autoestima, pressões por rendimentos excepcionais nos estudos e mesmo episódios de bullying podem funcionar como gatilhos para a automutilação praticada por muitos adolescentes. É importante que a família, educadores e sociedade se mobilizem para uma rede de proteção ao jovem que pratica a automutilação.
Há medicamentos que ajudam no controle dos sintomas como estabilizadores de humor, antidepressivos e antipsicóticos. A psicoterapia de enfoque cognitivo-comportamental ou interpessoal é importante também. O tratamento deve ser por um tempo prolongado e após os 20 anos de idade muitos jovens cessam a automutilação – enquanto outros permanecem na prática e necessitam de tratamento por muitos anos e até por toda a vida. Não há cura em muitos casos clínicos e sim melhora do sofrimento, dos sintomas, da funcionalidade e da qualidade de vida.

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