sexta-feira, 6 de junho de 2014

Padecer no Paraíso




A gestação é um momento muito especial e peculiar na vida da mulher e de toda a sua família. É um período de mudanças, tanto físicas quanto psíquicas, com o propósito de gerar uma vida. Essas modificações e novidades criam uma grande expectativa e, infelizmente, neste período em que muitos imaginam que seja apenas [...] 


A gestação é um momento muito especial e peculiar na vida da mulher e de toda a sua família. É um período de mudanças, tanto físicas quanto psíquicas, com o propósito de gerar uma vida. Essas modificações e novidades criam uma grande expectativa e, infelizmente, neste período em que muitos imaginam que seja apenas de felicidade e tranqüilidade, por vezes, pode servir como palco para o surgimento ou agravamento de diversos transtornos psíquicos.
Sabe-se que a saúde mental materna é fundamental não só para o bem estar da própria mãe, mas também do bebê e da sua família, além de ser um dos fatores determinantes para uma gestação e puerpério sem intercorrências.
Na última década, tem-se dado cada vez mais importância ao tema pelos profissionais da área da saúde e pela mídia. A disseminação dos conceitos de transtornos psíquicos perinatais reduz o estigma e permite que as mulheres reconheçam que estão doentes e procurem ajuda. “A depressão perinatal é definida como a presença de um episódio de depressão maior que ocorre durante a gestação ou até 12 meses após o parto”.
Estima-se que a prevalência de depressão perinatal seja em torno de 12% na população geral, mas esses valores podem chegar a 43% em mulheres com transtorno depressivo prévio e a alcançar 68% em mulheres que optaram por descontinuar o tratamento de manutenção com psicofármacos.
Similarmente, altas taxas de transtornos ansiosos, incluindo transtorno de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno do estresse pós-traumático também são encontradas. O medo de que o bebê morra no berço pode ser patológico, assim como a aversão associada a trabalhos de parto prévios dolorosos e à recorrência de tensão, pesadelos e memórias negativas que se mantêm até o próximo trabalho de parto.
Como identificar um transtorno psíquico?
Sintomas ansiosos, humor mais instável, cansaço e insônia são comuns durante a gestação, principalmente no último trimestre e nas primeiras semanas após parto. Perante isto, muitas vezes um transtorno do humor acaba não sendo devidamente diagnosticado pelos profissionais da saúde, sendo os estados de “exaustão” considerados “normais”.
A disforia puerperal ou blues pode ser identificado em até 80 % das puérperas. Caracteriza-se por sintomas depressivos leves, transitórios e insuficientes para causar prejuízo funcional para a paciente, se iniciam nos primeiros dias após o nascimento do bebê, atingem seu pico ao redor do 5º dia e remitem de forma espontânea, com duração de até 2 semanas. Entretanto, se persistirem ou forem mais graves, deve-se suspeitar de depressão.
A depressão pós-parto acomete 10 a 15% das mulheres e os sintomas depressivos puerperais se assemelham aos transtornos depressivos vivenciados em outros períodos de vida, mas são únicos quanto ao aspecto do momento de sua ocorrência e por afetarem a relação mãe-filho ou mesmo toda a estrutura familiar. Os sintomas incluem humor deprimido com perda do prazer em cuidar do bebê e falta de interesse da mãe por tudo o que ocorre no ambiente circundante.
Não há dúvidas de que os primeiros 6 meses ou mais, após o parto, podem ser exaustivos, com ansiedade elevada e insegurança das mães com a nova responsabilidade. Além disso, parece haver um claro aspecto hormonal envolvido.
Há, em menor número, casos de psicose puerperal, que geralmente se iniciam nos primeiros dias até 2 a 3 semanas após o parto. Embora seja raro, trata-se de um quadro clínico grave, com prejuízo funcional significativo, provocando riscos de suicídio e infanticídio que podem se prolongar por vários meses. Essas mulheres podem ter sintomas psicóticos como delírios e alucinações.
Até mesmo o estresse durante a gestação também está associado com o nascimento de crianças menores, com o aumento do risco de parto prematuro, de comprometimento no comportamento e na cogniçāo do bebê.
Pacientes que estão acima do peso ou que possuem algum tipo de transtorno alimentar, também têm risco aumentado para desenvolver depressão pós-parto. O grande dilema entre tratá-las ou não reside na preocupação em que os efeitos adversos das medicações podem causar ao feto.

No entanto, a presença desses sintomas no período perinatal também pode trazer muitos prejuízos e comprometimentos tanto para a mãe quanto para a criança. Por isso, recomenda-se antes de iniciar qualquer tipo de tratamento medicamentoso, ter em mente uma questão fundamental: “Os riscos de não tratar os sintomas são menores do que os riscos que as medicações oferecem? Em caso negativo, deve-se prescrever a medicação, buscando um agente efetivo e na dose terapêutica. O uso de agentes menos efetivos ou em doses subterapêuticas provoca a associação dos riscos dos sintomas não tratados e dos efeitos colaterais das substâncias.

Além disso, é fundamental reconhecer o efeito teratogênico das medicações e usar as aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration).

Avaliar a gravidade dos sintomas e buscar outras formas de tratamentos, como as psicoterapias, são ferramentas valiosas tanto para o tratamento quanto para a prevenção dos sintomas.

http://blogs.estadao.com.br/mentes-femininas/padecer-no-paraiso/

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