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| Mesa de abertura do evento |
27/11/2014
TextoGuilherme Gorgulho
Gabrielle Albiero
Imagens
Antônio Scarpinetti
Edição de Imagens
Paulo Cavalheri
O primeiro dia do II Fórum sobre Violência contra a Mulher: Múltiplos Atores deu destaque, nesta quinta-feira (27), aos questionamentos sobre o conceito tradicional de masculinidade na sociedade contemporânea e à necessidade de desconstrução desse modelo como instrumento essencial para o combate à violência de gênero.
Além das diferenças biológicas entre homens e mulheres, o que diferencia o feminino do masculino é a condição de gênero, que compreende aprendizados, vivências e todo um histórico sociocultural, explicou a socióloga Eva Alterman Blay, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
“A condição de gênero é algo que foi construído. Portanto, o que você constrói você pode reconstruir, modificar. Do ponto de vista sociológico, temos que buscar meios de reconstruir essas relações e mostrar como isso pode nos levar a uma convivência mais humana, mais pacífica, com mais harmonia nas relações sociais de gênero”, apontou Eva Blay, que há cinco décadas milita na causa feminista.O psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, terapeuta de família e de comunidades, abordou em sua palestra a temática da “paternidade sólida”, que ele considera um movimento contracultural que busca fugir das relações afetivas imediatistas, a partir de uma “revolução íntima” do gênero masculino.
“Há um novo homem se forjando e nascendo, muito diferente daquele antigo, mas que ainda não está visível”, defendeu Amaral, pontuando que esse “novo homem”, apesar das mudanças, quer continuar sendo visto como homem. Segundo o psicólogo, esse modelo é oposto àquele da “cultura do patriarcado”, que associa o masculino à intolerância às diferenças, à desvalorização do ambiente doméstico e ao embotamento afetivo.
“Quando se fala em modelo de masculinidade, não existe apenas um, existem vários modelos, mas a sociedade coloca apenas um. Muitas dessas violências ocorrem por não se alcançar esse modelo hegemônico de masculinidade”, disse o filósofo Sérgio Flávio Barbosa, professor de Filosofia e Sociologia das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).
Atuando desde 2011 como deputada na Assembleia Legislativa de São Paulo, a cantora e compositora Leci Brandão fez uma palestra sobre os direitos da mulher durante o fórum. Leci, que foi reeleita neste ano para um novo mandato, enumerou as diversas formas de violência que a mulher sofre na sociedade brasileira, como as agressões praticadas por companheiros, os abusos sofridos por trabalhadoras do lar, o assédio moral contra as operadoras de telemarketing, os abusos e assédios contra as usuárias de transporte público e as violências praticadas por alunos contra professoras da rede pública.
Outro ponto destacado pela deputada foi o desrespeito às gestantes no atendimento da rede de saúde pública. “Sobre a questão da violência no parto, o que as mulheres escutam de médicos e enfermeiros é uma coisa horrível e constante. Com a mulher negra é ainda pior”, lamentou. “Eu ouvi relatos de que existem médicos que dizem ter nojo de colocar as mãos em pessoas negras.”
Criticando a falta de assistência às vítimas de violência em São Paulo, a parlamentar cobrou a implantação de delegacias de defesa da mulher em todos os municípios paulistas e a criação de uma secretaria estadual exclusivamente voltada aos direitos da mulher. “É uma violência o Estado de São Paulo não ter uma Secretaria da Mulher”, declarou, lembrando o protagonismo paulista em várias outras esferas. Para ela, a criação dessa pasta permitiria expandir as delegacias especializadas a todas as 645 cidades paulistas. “As mulheres não têm onde reclamar, principalmente nos finais de semana, quando as delegacias não funcionam.”O II Fórum sobre Violência contra a Mulher: Múltiplos Atores continua nesta sexta-feira no Centro de Convenções da Unicamp. O evento é uma realização do Fórum Pensamento Estratégico (PENSES), um espaço acadêmico, vinculado ao Gabinete do Reitor, responsável por promover discussões que contribuam para a formulação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da sociedade em todos os seus aspectos.
UNICAMP

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