domingo, 7 de dezembro de 2014

A bússola dos homens, o sensor das mulheres

JAIRO BOUER
05/12/2014

Se a bússola cerebral masculina parece ter se desenvolvido mais, o nariz delas desponta como bem mais afiado! Esses são os novos resultados de dois diferentes estudos divulgados nas últimas semanas. O interessante é pensar por que, em termos evolutivos, eles investiram mais no espaço, enquanto elas capricharam na identificação dos odores.

Antropólogos da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, avaliaram duas tribos africanas atuais (twe e tjimba, no noroeste da Namíbia). Os nativos com maior habilidade espacial não apenas viajam mais que os outros, como também têm mais filhos. O trabalho foi publicado na revista científica Evolution and Human Behavior.

A capacidade de se localizar, de calcular distâncias e de manipular essas imagens na mente é mais exacerbada entre os homens. Não é preciso ir longe para checar isso. Quem se perde com mais facilidade? Quem tem mais dificuldade em se localizar com mapas de ruas? As  respostas, em geral, são: as mulheres. Esse fenômeno se repete em diversas culturas. Isso fez os cientistas pensar num longo processo evolutivo.

Provavelmente, os homens investiram nessa habilidade ao longo de milênios, para localizar alimentos e procurar novas parceiras sexuais dispersas. Na pesquisa atual, as tribos africanas foram escolhidas porque se deslocam quase 200 quilômetros por ano e ainda têm uma cultura que admite a poligamia, assim como muitos de nossos ancestrais.

No outro trabalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,  pesquisadores mediram, em homens e mulheres,  o número de células do bulbo olfativo, a primeira região cerebral a receber as informações captadas pelo nosso nariz. Confirmaram o que já se suspeitava: o olfato feminino é mais apurado!

Os pesquisadores descobriram que as mulheres tinham, em média, 50% mais neurônios na região do bulbo olfativo que os homens. Isso reforça a hipótese de que elas têm uma sensibilidade maior para sentir cheiros. Os resultados foram publicados na revista Plos One.

Qual seria a vantagem evolutiva dessa habilidade feminina? Provavelmente, identificar a qualidade e o estado dos alimentos, e evitar que seus filhos ingerissem comida estragada. Durante muitos milênios, isso pode ter sido essencial para evitar infecções fatais para a prole.

Se, no campo da biologia e do comportamento, homens e mulheres (ou machos e fêmeas, no caso de outras espécies) têm muitas vezes interesses opostos, na história da evolução eles se complementaram com habilidades específicas que podem ter garantido mais espaço cerebral para ocupar com o que fosse importante para cada um. 

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