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domingo, 14 de dezembro de 2014

O que está aí

Olhe atentamente ao seu redor e reconheça a enorme riqueza de sua condição presente, seja ela qual for.

Publicado em 01/02/2014
POR
Gustavo Gitti

Edição 141
  
Conheço gente que vai em armazéns de cachaça e reclama do vinho ruim ou pede frango para o chef especialista em polvo. Simplesmente não consegue detectar, por cegueira ou rigidez, o melhor de cada experiência. François Jullien, filósofo apaixonado pelo taoísmo, no livro Um Sábio não tem Ideia, elogia a abertura sem fixações que nos dá acesso ao "assim das coisas". E Mooji, professor de advaita (não dualidade), brinca: é inútil trazer nossos pré-requisitos à vida, assim como não faz sentido ir a um restaurante com o menu debaixo do braço.

Somos felizes quando dançamos flexíveis à riqueza de cada lugar, de cada ser. Em vez de reclamar "eu queria que ele se comunicasse mais", percebemos como ele já está se comunicando. O mesmo vale para ajudar uma comunidade: em uma palestra no ted, o empreendedor social Ernesto Sirolli aconselha a esquecer o planejamento e apenas ouvir.

Para celebrar o casamento, por exemplo, às vezes ignoramos nossos próprios desejos, histórias, roupas, lugares, como se não fossem belos o suficiente, como se precisássemos adicionar algo. Ao contratar um buffet sem passado ou futuro (aonde nunca mais voltaremos), cheio de funcionários que não sabemos chamar pelo nome, queremos montar algo diferente da vida mais imediata, o que está aí. Por isso gastamos tanto!

Isabella e eu passamos meses sem saber como reunir poucos familiares e amigos em um casório sustentável. A ponto de desistir, tivemos a sorte de enxergar o que já estava presente debaixo do nariz. Invadimos nossa segunda casa, o Coffee Lab, melhor lugar para tomar café e marcar bons papos. Não alteramos o cardápio para oferecer almoço nem jantar. Chamamos o grupo Pitanga em Pé de Amora, nossa música do coração. A artista e amiga Silvia Strass deixou o ambiente ainda mais humano e lúdico, explicitando as conexões entre os convidados. O traje foi informal: "venha como a gente sempre te vê". Não pensamos na cerimônia. Na hora, falou quem quis. Encontro é isso: cada mão apenas vai em direção a outra, nenhuma leva o som da palma.

Em qualquer condição, boa ou ruim, podemos aguçar nosso olhar, de modo quase malicioso, como se fôssemos um et que acabou de acordar dentro do nosso corpo humano. Baixar a cabeça e visualizar dois pés bem estranhos. Olhar nossas mãos com espanto. Onde estamos? Como os outros seres se movem? Do que eles precisam? Quais as nossas habilidades? Como podemos participar dessa brincadeira maluca?

Gustavo Gitti trabalha com transformação coletiva. Para saber mais sobre seu trabalho, acesse: gustavogitti.com

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