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sábado, 7 de fevereiro de 2015

A droga e seu filho

Se não dessem sensações boas, as drogas não viciariam. Ninguém se vicia em alface, não é?

WALCYR CARRASCO

06/02/2015

Seu filho usa drogas. Ou, se não usa, já teve oportunidade de usar. Mesmo que negue, caso você pergunte. Pais, mães e mesmo educadores costumam agir como se o traficante fosse um malfeitor disfarçado, tipo o pipoqueiro da esquina. Usualmente quem introduz a droga é um amigo ou parente. Adolescentes e jovens sentem a necessidade de aceitação pelo grupo. Usar é uma forma de “estar dentro”. Escrevi um livro, há anos, Vida de droga, adotado em muitas escolas. Fala de uma garota que se envolve com crack, levada pelo namoradinho. Falei sobre isso numa palestra no interior de São Paulo. Um homem emocionado levantou-se: seu filho havia morrido de aids havia uma semana, devido ao uso de drogas injetáveis. Quem o levara ao consumo: o tio.

– Eu não sabia que meu irmão usava drogas e dava para meu filho! – lamentou-se o pai.

Há muitos anos, levei uma peça para uma atriz ler em sua suíte num hotel paulista. Recebeu-me com um prato de cocaína. Sim, um prato inteiro! Cheirava e me oferecia. A certa altura, me disse, irônica:

– Experimenta, não vicia.

Juro, ela acreditava nisso!

Não falo de maconha, cuja liberação caminha a passos largos. A gritaria contra a liberação aqui já se tornou ridícula, porque de fato compra e consumo são livres. Só na teoria que não. Qualquer pessoa compra com facilidade. Há praias onde se fuma a céu aberto. Alguns países e Estados americanos estão se curvando à realidade: melhor ganhar dinheiro com ela. Mas a velocidade com que as drogas sintéticas são criadas desafia as próprias leis. Até serem proibidas, chegaram para ficar. Uma delas, MDA, é dissolvida em água. Não tem cor nem cheiro. Um conhecido foi há anos numa festa, e alguém disse:

– Hoje você vai enlouquecer.

Caretíssimo, pai de família, ele garantiu que não. Bebeu um copo de água. De repente seus olhos pulsavam, sentia coisas estranhas. Fugiu até o carro e até hoje não sabe como chegou em casa. Já fui convidado para festas onde, rigorosamente, não bebi nem água. De medo. Tenho pressão alta e temo o que possa acontecer. Também nunca tive interesse em drogas que alterem o comportamento. Os mais próximos dizem que já sou maluco sem elas.

Mas, durante minha vida toda, soube de pessoas que experimentaram, usaram. E mais, tenho certeza de que devem dar sensações muito agradáveis, caso contrário não viciariam. Ninguém se vicia em alface, não é? Imagino que, com o uso contínuo e a necessidade de conseguir grana para pagar o material, a vida se transforma. Para pior. O corpo se acostuma aos efeitos. É preciso mais e mais. Ninguém se engane, porém: se não for seu filho, alguém muito próximo de você está usando. Soube que mesmo entre os boias-frias o uso de crack é disseminado. Há, na opinião de uma especialista, duas drogas que não permitem o convívio social: o crack e a heroína. As outras animam baladas, mas não impedem que o jovem vá à universidade no dia seguinte. Ou são usadas mais nos fins de semana. Enfim, o comportamento pode ficar mais expansivo, mas os pais não percebem. Só acham que a vida dos filhos anda muito animada, e até gostam disso. As autoridades? Não têm condições de resolver o uso das drogas. Vende-se Ecstasy, chamado carinhosamente de “bala” em boates. Soube que há um grupo no WhatsApp de usuários, que dão dicas de compra e venda. Você vê alguém com uma garrafinha de água numa festa? Deve ter MDA. Um policial do aeroporto de Guarulhos me contou:

– A gente sabe que trazem drogas embaladas em preservativos, dentro de xampus. E pasta de dente. Mas dá para olhar de todo mundo?

Sinceramente, acho que a política contra as drogas, internacionalmente, está falida. Prometer o combate dá votos. E vive-se nessa hipocrisia. Você acha que seu filho não usa, e que os amigos dele também não. Se quer se enganar, pense assim.

Mas a principal droga consumida por adolescentes, absolutamente lícita, é fornecida pelos pais.  É a bebida alcoólica. Pais morrem de medo da palavra maconha. Porém, permitem que os filhos façam um “esquenta” com os amigos, em casa, antes das baladas. Adolescentes e jovens bebem cada vez mais. É proibido vender para menor? Claro. Nem todo dono de bar se preocupa com isso. Ou a família tem um bar em casa. Vodca com energético é o que está em alta. A mistura pode deixar alguém bem doido. Mas você só acha que seu filho e a turma estão exagerando um pouquinho.

Então, talvez o principal fornecedor de seu filho seja você mesmo.

Época

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