Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Acabou ou não acabou?

Mesmo quando tudo parece terminado, ainda temos esperança. Vale a pena?

IVAN MARTINS
11/02/2015


Um amor depois do outro. Em breve, nas livrarias (Foto: Reprodução )
Um amor depois do outro. O segundo livro 
que vem por aí. (Foto: Reprodução )

O amor é uma ocorrência inexata. A gente não sabe quando começa e nem consegue dizer quando termina. Podemos marcar no calendário o dia em que alguém foi embora de casa ou o horário de um telefonema derradeiro, mas o que isso informa sobre nossos sentimentos? Nada. Continuamos ligados, interessados, preocupados. Emocionalmente dependentes de um relacionamento que prossegue, como um rio subterrâneo.

Acabou ou não acabou? Você telefona, ele visita. Às vezes saem para jantar. Outro dia transaram, foi meio triste. Trocam e-mails doces. Ela gostaria que ele fosse feliz, mas tem ciúme. Ele gostaria de sair com alguém, mas tem medo de feri-la irremediavelmente. Há tanta delicadeza nisso, tanta incerteza. Ninguém sabe direito para onde vai, mas ninguém deseja ir longe. O afeto é tamanho. O carinho é imenso. O medo de perder, enorme.

Nos últimos dias, tenho pensado num livrinho que dorme na minha estante há alguns anos. Seu nome é Felicidade, desesperadamente e foi escrito por um filósofo francês chamado André Comte-Sponville. Lembro dele por causa do ataque feroz contra a esperança. Ela nos imobiliza, afirma o filósofo. Nos leva a esperar o impossível. Nos impede de enxergar as coisas como são e reagir a elas. O esperançoso é um tolo, sugere Comte-Sponville. Ao menos foi isso que eu entendi.

Nos últimos dias, tenho pensado que apesar da advertência do filósofo a esperança é inevitável. Ela é parte de nós. Circula em nossos órgãos e irriga a nossa alma a despeito de nosso desejo. Talvez seja como o ar que se respira. Quando namoros acabam e casamentos desabam, quando amizades terminam, é inevitável almejar  que o passado retorne, que o mundo ande para trás ou mesmo avance - renovado - em direções que parecem impossíveis. Quando há afeto, verdadeiro afeto, é impossível não sonhar que ele prevaleça. A esperança encharca as pessoas que amam e já não são amadas.

Entretanto, é preciso viver.

Um dia depois do outro é necessário pôr de lado a esperança, cortar os laços e defrontar-se com o fato de que o outro não está lá de manhã, não voltará de noite, não chamará no celular no meio do dia, não mandará mensagens ao sair do trabalho, não estará ao lado para estender a mão e oferecer uma promessa de paz e felicidade, mesmo frágil e precária.

É preciso admitir a realidade.

Em meio à esperança e ao sentimento do amor que continua, há que entender que as coisas mudaram. Profundamente. Aquilo que existia, da forma como existia, não há mais - e muito provavelmente não voltará. O mundo tem de ser organizado em torno dessa nova realidade. Algo acabou. Admitir isso é o primeiro passo para que algo recomece. Ainda que seja a mesma coisa, renovada. Ou outra coisa inesperada, inventada pela vida.

Nos últimos dias, tenho pensado que somos capazes de muitas coisas simultâneas. Manter os laços. Cultivar a esperança. Admitir as rupturas. Recomeçar.

Nada disso nos impede de sofrer. Nenhum desses sentimentos impede noites em claro e manhãs vazias. Na derrocada dos nossos relacionamentos, parte de nós é levada de roldão, inevitavelmente. Sentimentos são arrastados e não há antídoto contra isso. Nem remédio e nem postura. A gente tem de seguir, simplesmente, da forma que pode.

Nos últimos dias, tenho achado isso bonito. Saber que acabou, mas ter esperança. Estar ligado ao outro e sobreviver à sua ausência. Sorrir, viver, tentar. O que mais nos cabe fazer nesta vale de prazer e lágrimas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário