Da Assessoria de Comunicação da Poli
Um estudante de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica (Poli) da USP, juntamente com uma doutora em Psicologia pela USP e uma mestra em Ciência da Computação pela UFMA, desenvolveu uma plataforma voltada a mulheres que sofrem ou sofreram diversos tipos de agressão, para comunicar os casos subnotificados de violência contra a mulher. A plataforma ganhou uma competição da Câmara dos Deputados e foi premiada, no Salão Nobre da Casa, em Brasília.
Rafael Reis, Daniela Silveira Rozados da Silva e Salete Farias desenvolveram o projeto em uma maratona de programação promovida pela Câmara dos Deputados em 2014. A proposta do evento era desenvolver um projeto que possibilitasse o enfrentamento e combate da violência contra a mulher. A partir dessa temática, os autores foram trabalhando as ideias a partir da perspectiva dos problemas de violência que as mulheres enfrentam cotidianamente. O projeto tem o apoio do Banco Mundial, do Laboratório Hacker e da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados e da ONU mulheres. O link para o site é www.minhavoz.com.
A plataforma Minha Voz é um canal que pretende oferecer às mulheres que sofreram qualquer tipo de violência, seja ela física ou psicológica, informações sobre a experiência que ela passou. Os criadores acreditam que qualquer ação que desrespeite o bem estar moral, psicológico e físico da mulher pode ser considerado uma forma de violência. “Para o Minha Voz, o que interessa é o ponto de vista da mulher que sofreu a violência. A violência contra a mulher é um problema no mundo todo. Se considerarmos todas as formas de violência, desde as que nos fazem ficar mal emocionalmente, até as que nos machucam fisicamente, todas as mulheres já sofreram ou correm o risco de sofrer algum tipo de violência”.
Como funciona
O site funciona como um espaço de primeiro acolhimento da vítima, com ações que a ajudam a entender qual tipo de violência ela viveu. A seguir, oferece informações para que a mulher possa entender mais sobre os crimes que sofreu, os direitos que ela tem e orientações para que ela possa buscar assistência social, psicológica, jurídica e médica nos serviços públicos disponíveis. “A ideia é que a mulher descreva o tipo de violência que sofreu para que possamos ajudá-la. Para facilitar essa tarefa, buscamos ao máximo assumir a perspectiva dela, utilizando perguntas simples que a orientem na busca de informações sobre o ocorrido”, explicam os autores do projeto.
Buscamos ao máximo assumir a perspectiva dela, utilizando perguntas simples que a orientem.
Além das informações sobre o que fazer em caso de violência, a mulher também pode descrever o que aconteceu com ela de modo anônimo. Isso pode se dar de duas maneiras: na primeira, ela pode responder a algumas questões objetivas que têm a finalidade de colher dados para se entender mais sobre o problema da violência contra a mulher no Brasil e, dessa forma, auxiliar na formulação de políticas públicas mais eficazes no combate ao problema da violência. Na segunda, ela pode contar a experiência dela na área para depoimentos e desabafos, bem como ler os depoimentos de outras mulheres. “Criamos esse espaço para que as mulheres se sintam à vontade para contar e compartilhar com outras mulheres as experiências de violência que sofreram, e esperamos que isso tenha um efeito fortalecedor e empoderador na vida delas”, concluem.
Próximos passos
A equipe está trabalhando para melhorar o site, pois ele aborda um tema bastante complexo e que conjuga um grande número de informações – desde redes de atendimento à vítima de violência, passando por questões legais, médicas, psicológicas e de assistência social. “Além da inserção de todas essas informações, um de nossos maiores desafios é no contato com a usuária: pretendemos que o contato da mulher com o site seja o mais confortável possível, e ao mesmo tempo ofereceça informações que podem ser cruciais para sua integridade física e mental. Temos que aliar acolhimento num momento extremamente delicado e doloroso, à busca rápida e acessível das informações que ela precisa”. Neste sentido, explicam, é o site que tem que buscar se adequar à experiência tipicamente de trauma que a usuária enfrenta no momento do uso do site.
“Denominamos essa adequação da ferramenta tecnológica à usuária “acessibilidade psicológica”, pois pretendemos facilitar o acesso às informações levando em conta a perspectiva emocional da mulher vítima de violência. Também adequamos a navegação do site aos diferentes tipos de usuários, ou seja, o site também é acessível às pessoas que tenham alguma deficiência”.
Pretendemos que o contato da mulher com o site seja o mais confortável possível, e ao mesmo tempo ofereceça informações que podem ser cruciais para sua integridade física e mental.
Devido à dimensão que o projeto pretende abarcar, ele levará tempo e muito trabalho para ser feito. Portanto, o grupo está considerando a possibilidade de fundar uma ONG para buscar formas de financiamento e trabalhar com outros profissionais para melhorar o site. “Outro problema muito importante que pretendemos resolver é o de manter o anonimato da vítima de violência. Desde a concepção da versão Beta do Minha Voz na Câmara dos Deputados, desejamos de fato garantir isso. No entanto, sabe-se que o anonimato é uma condição difícil de ser assegurada na internet. Desse modo, estamos trabalhando com o conceito de User Experience para encontrar a melhor solução para as nossas usuárias, ou seja, definindo o problema que precisa ser resolvido (o porquê), para quem esse problema precisa ser revolvido (para quem), e definindo o caminho que deve ser percorrido para resolvê-lo (o como). Assim, estamos remodelando a versão Beta, criada na Câmara dos Deputados, para que não só a plataforma fique mais consistente com a gama de pessoas que irá acessá-la, mas também para que possa atender da maneira mais segura possível ao que estamos propondo: o acolhimento da vítima, sua privacidade e a notificação anônima dos dados a respeito da violência, que até então eram subnotificados”.
Sobre a equipe
Daniela Silveira Rozados da Silva é doutora em psicologia, psicóloga e filósofa pela USP. Atualmente é pós-doutoranda do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Salete Silva Farias é Mestra em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tendo graduação em Ciência da Computação e em Pedagogia também pela UFMA. Atualmente é professora efetiva do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), onde ministra disciplinas como Linguagem de Programação, Software Livre e Estrutura de Dados e Coordena o Curso Técnico de Informática. Rafael Reis da Silva é técnico em informática pelo Colégio Técnico de Campinas da Unicamp e atualmente é estudante de Engenharia Elétrica da Poli.
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