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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

#AgoraÉQueSãoElas

No começo dos anos 1990, o fanzine '02 Neurônio' já empoderava o movimento feminista. É de uma das autoras, Jô Hallack, a crônica que ocupa, sem favor algum, esta coluna


 6 NOV 2015

Ali no começo dos anos 1990, o fanzine 02 Neurônio, de acento punk-rock-feminista, já empoderava o movimento e organizava o carnaval, com muito David Bowie, na Torre do Doutor Zero, bar dançante e moderno de SP. No comando da publicação, o power trio composto por Nina Lemos, Raq Affonso e Jô Hallack. Cada uma ao seu estilo, as meninas seguiram com Bowie & Beauvoir e muita sátira de costumes. Como veremos agora na crônica de Jô, que ocupa, sem favor algum, esta coluna no embalo do #AgoraÉQueSãoElas:

Mea-culpa do macho

Por Jô Hallack*
"Dê amor. Dê segurança. De anca na anca dela. E amanheça de cabeça dentro dela". (Tatá Aeroplano)
Eles ali no chão da sala. Daquele jeito deles, só deles, só deles. Sussurrinho bom no pé do ouvido.
- Vontade de fazer uma loucura.
- Que delícia, lindo. Fazer o quê?
- Um mea-culpa.
Ele era aquele tipo que muitas de nós já conhecemos. Moderninho, mas até hoje lavava a roupa na casa da mãe. "É ela que se oferece!" Não era dos mais fiéis, mas quando ficou sabendo de um chifre, chorou sentado no meio-fio. O resto era aquele combo que a gente tá acostumada e vai levando, sabe como é. Então, esse sujeito está ali, no chão da sala, e ele quer fazer um mea-culpa gostoso.
- Um o quê?
- Um mea-culpa.
- Que foi, dessa vez?
- Nada. É um mea-culpa pelo meu comportamento machista dos últimos anos.
- Dos últimos anos, você diz, desde sempre?
- É a cultura do patriar...
Pois é, pessoal, naquela semana, finalmente, ele tinha se tocado do que as mulheres estavam falando desde o século retrasado. Vamos repetir para ter uma noção temporal bem exata: DESDE O SÉCULO RETRASADO. Demorou um século inteiro pra chegar naquele mea-culpa de meia tigela mas, beleza, vamos ter boa vontade com a rapaziada. Só que poderia ter ficado pra outra hora.
- Que hora?
- Uma hora em que a minha calcinha não estivesse no chão da sua sala.
- A sua calcinha está no chão da minha sala, mas isso não significa, necessariamente, que você esteja querendo fazer sexo. Agora tô a par de tudo.
- Amor, foi você que arrancou a minha calcinha com a sua boca. A gente tava trepando. Falando sacanagem. Bom demais. Vem cá.
- Não, finalmente, agora, eu consigo te ver como uma mulher pensante.
- Você não imagina no que eu tô pensando nesse momento.
- No quê?
- Em pedir um táxi.
Fim.
PS: E quando eles pararem de gentilmente nos ceder espaço? Aí você faz como sempre, baby, chuta a droga da porta.
Xico Sá, obrigada por deixar eu ocupar a sua coluna, mas da próxima vez prefiro uma joia chapeada ou que você me leve pra tomar sorvete. Grata, te amo.
*Jô Hallack escreve, tem o blog defeito.com e faz parte do 02 Neurônio (para sempre).

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