terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Homens e mulheres devem se aposentar com a mesma idade? SIM

Aposentadoria Sim (Foto: Editoria de Arte)


Para a professora e pesquisadora do Ipea Ana Amélia Camarano, no futuro as diferenças de gênero no trabalho vão desaparecer

BEATRIZ MORRONE (TEXTO) E MARCELO MOURA (EDIÇÃO)
03/02/2016
ÉPOCA – Mulheres devem se aposentar ao mesmo tempo que homens?
Ana Amélia Camarano – 
Sim, desde que haja uma regra de transição. A mudança não pode acontecer de repente, sem que seja explicada às pessoas que ainda não entraram no sistema e às que já estão nele. Se a diferença entre a idade de aposentadoria de homens e mulheres é de cinco anos, poderiam diminuí-la em seis meses a cada ano, por exemplo. Ou seja, demoraria 10 anos para que a idade mínima fosse igualada.
ÉPOCA – Por que a senhora defende a igualdade?
Ana Amélia – 
Além de se aposentarem cinco anos mais cedo, as mulheres vivem, em média, oito anos a mais do que os homens. Ou seja, elas passam 13 anos a mais na condição de aposentadas e, consequentemente, contribuem 13 anos a menos para o sistema previdenciário. É preciso diminuir essa diferença.
ÉPOCA – Por que essa diferença antes foi pertinente e hoje, na sua opinião, não é mais?
Ana Amélia – 
A diferença existe historicamente, mas a realidade social está mudando. Antes, nos contratos sociais tradicionais de gênero, a mulher era a cuidadora dos membros dependentes e o marido, o provedor. Quando ele morria, a mulher precisava ser protegida e ter uma renda. Naquela época, a diferença na esperança de vida era muito pequena entre homens e mulheres, já que elas morriam muito no parto.  Além disso, poucas mulheres trabalhavam profissionalmente. As que trabalhavam fora eram responsáveis por cuidar da casa e dos filhos e, por isso, tinham compensação pela dupla jornada de trabalho. O terceiro motivo é que as mulheres que trabalhavam desempenhavam atividades de remuneração mais baixa. Então, havia uma compensação por esse tipo de inserção mais precária no mercado de trabalho. Esses quatro motivos fizeram com que houvesse essa diferença. Eu não posso dizer que os motivos terminaram, mas eles diminuíram de importância.
ÉPOCA – É pelo fato dos motivos ainda não terem sido totalmente superados que a senhora defende a transição gradual, mas não imediata?
Ana Amélia – 
Sim. Aos poucos, a mulher está reduzindo as desvantagens que ela teria em relação à remuneração no mercado de trabalho e está reduzindo a responsabilidade pela dupla jornada de trabalho, já que hoje as mulheres têm menos filhos. Isso justifica a minha insistência para que a mudança seja gradual, até que esses gerúndios se tornem passado.
ÉPOCA – Com o alcance gradual à igualdade de responsabilidades, a expectativa de vida de homens e mulheres também não pode se igualar com o passar dos anos?
Ana Amélia 
– Essa diferença existe por causas congênitas. A mulher vive mais por uma questão biológica. Desde a mortalidade fetal, o feto masculino morre mais do que o feminino. Além disso, a mulher se cuida mais do que o homem. Ela frequenta mais o serviço de saúde do que ele – começa pela maternidade e não sai mais. O homem, por sua vez, vai ao médico mais por medidas curativas do que preventivas. Além disso, a mulher é protegida de ataques cardiovasculares pelo hormônio da menstruação. Outro motivo é o fato dos homens serem mais atingidos por causas externas, como homicídios e acidentes. Causas essas que explicam três anos de diferença. Se não fossem elas, a diferença da longevidade de homens e mulheres poderia ser de cinco anos. Portanto, principalmente pelas causas congênitas, a mulher estará em vantagem em relação ao homem quando o assunto for longevidade.

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