Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

sábado, 2 de abril de 2016

Enquanto não acontece

É importante seguir buscando, sem precipitação e sem culpa. Você não para o relógio da existência se juntando a quem não toca o seu coração.


IVAN MARTINS
30/03/2016 
É fácil passar por insensível quando não se está apaixonado. Alguém chega, fica, sai e você não tem vontade de procurar novamente. Não há nada de errado nos modos ou aparência da pessoa, exceto que você não se envolveu. É possível manter uma relação de amizade ou fazer sexo ocasionalmente, mas o sentimento que poderia levar a um namoro não surgiu.
“Ah, Ivan”, dizia outro dia uma amiga, “se as pessoas esperarem uma paixão arrebatadora para começar a namorar, nunca vai acontecer”!
Ela está certa, claro. Apaixonamento não é uma virose instantânea. Ele não acontece como uma batida de carro, inesperada e violenta.Antes de se apaixonar, a gente tem vontade de ver e estar com o outro. Essa é a pedra sobre a qual se erguem as relações. O desejo de proximidade carrega outras formas de desejo. Depois de um tempo assim – vendo, ouvindo, tocando e convivendo com o outro, alegremente – a gente se percebe apaixonado. Se o desejo de proximidade não existe, o resto nem acontece. Não adianta empurrar que o carro não pega.
A vontade de estar perto é mais que suficiente para começar um namoro. Se você troca mensagens o tempo inteiro, se encontra à toda hora e não enjoa, se pensa naquele sorriso ou naquelas pernas e fica instantaneamente feliz, qual é a dúvida? Eu não teria nenhuma. Esses sintomas iniciais nem sempre levam a um sentimento duradouro e a uma relação estável, mas eles representam um bom presságio e um excelente ponto de partida.
Falo apenas por mim, claro, mas acho que todo mundo gostaria de namorar. É bom. É romântico. É leve. Infelizmente, não acontece toda hora. A magia que une duas pessoas não se manifesta em todos os encontros. Em alguns haverá sexo intenso. Em outros, conversas maravilhosas. Só de vez em quando as coisas se juntarão numa relação que, de alguma forma, tenha fôlego para prosseguir.
O que a gente faz enquanto não acontece?
É importante seguir buscando, sem precipitação e sem culpa. Você não para o tic-tac da existência se juntando a quem não toca o seu coração. As pessoas no século XXI são livres para tentar o quanto quiserem, durante a vida toda. Ninguém é forçado a trair seus próprios sentimentos e muito menos a enganar os sentimentos dos outros. Agora que somos livres, o verdadeiro romantismo finalmente começou, depois de séculos de ficção e repressão.
Muita gente sofre com as incertezas da busca, mas não deveria.Entrar e sair da vida dos outros, ou permitir que os outros entrem e saiam da nossa vida, é uma coisa fundamentalmente simples. O que complica tudo é a carência. Ela nos leva a ter sentimentos exagerados por qualquer um. Por todos que se aproximam, na verdade. Basta um beijo na boca, ou mesmo sexo meia boca, para que a gente, tolamente, se sinta apaixonado. É um erro comum, que alguns de nós repetem ao infinito.
As pessoas deveriam passar pela nossa vida com leveza e intensidade. Uma noite, um fim de semana, um mês de férias. Depois, se não for o caso de continuar, cada um pega o seu rumo cheio de lembranças, mas sem recriminações. Às vezes alguém ficará apaixonado, mas, se a outra parte não ficou, fazer o quê? Não adianta apontar o dedo contra ela ou contra ele. O dedo deveria se voltar para nós mesmos. Somos responsáveis por nossos sentimentos e por nossas atitudes. Quando se trata de amor, a gente (quase) sempre sabe no que está se metendo.
Falo isso tudo, claro, na posição de carente condecorado. Eu já corri atrás de gente que nem lembrava o meu nome e fiquei anos – anos - batendo ponto num sentimento que não estava mais ali. Aconteceu, passou, não há o que fazer, mas a lição é clara: essas coisas foram da minha inteira responsabilidade. Por alguma razão, me deixei iludir e alimentei fantasias com gente que mal conhecia, ou que, tendo me conhecido bem demais, já não estava interessada. Se pudesse, voltaria atrás. Trocaria sem hesitar a tristeza da rejeição pela felicidade da busca. Os dois sentimentos estavam lá, era só escolher o melhor deles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário