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domingo, 3 de abril de 2016

Marina e Maria: As mulheres que foram assassinadas pela conivência social

Raquel Baldo Vidigal
Psicanalista e psicóloga
Publicado: 
MARINA E MARIA
Reprodução














A notícia foi divulgada: Duas turistas argentinas, viajando sozinhas pelo Equador, foram dadas como desaparecidas no dia 22 de fevereiro e encontradas mortas a facadas e pauladas no dia 28.
E nesta triste notícia uma única palavra me chamou a atenção:
Sozinhas?
Por que usar esta palavra?
Elas eram duas amigas adultas e em uma viagem. Quem será que estava faltando nesta história?
Porque duas amigas juntas não é o suficiente?
A ausência do que ou de quem a imprensa e as autoridades se referem?
Fui ler a respeito, e para minha surpresa, encontrei opiniões diversas, até de profissionais da área da saúde e de estudos de comportamento humano, dizendo que"essas duas moças se tornaram facilitadoras para serem atacadas, desde o momento que decidiram esta viagem, pois estariam viajando sozinhas".
É claro que compreendo os perigos que rondam as mulheres, mas a presença de um homem neste caso seria, então, a garantia de segurança delas?
A mulher somente estará segura ao lado de um homem?
E curiosamente, não seria este "mesmo homem" o causador de tanto outras violências?
Milhares de meninas, moças ou mulheres que viajam acompanhadas de homens (amigos, irmãos, pais, namorados) são violentadas mesmo assim. E muitas outras também assassinadas por outros homens aqueles que seguindo a lógica social, deveriam "protegê-las".
Pergunto então: Será que outras mulheres como Marina e Maria seriam "facilitadoras" e estariam apenas igualmente "sozinhas"?
É muito forte e presente ainda a crença social e cultural, que teima em se fixar nas diferenças entre os gêneros como justificativa para explicar certo e o errado.
São ideias formadas por conceitos primitivos, não compreendidos e não questionados, também impositivos e à espera de que o meio aceite e concorde com este comportamento.
Talvez o mais impressionante seja perceber que as pessoas (ainda que muitos não saibam porque fazem ou sintam até certo incômodo em fazer) acabam violentando as mulheres duas vezes, ao reproduzir atos e palavras que estão presas a conceitos repressores.
Onde e quando ser homem ou ser mulher, é mais que do que "ser humano"?
Até quando as pessoas ainda vão se conformar e usar deste conformismo, sem questionar sua capacidade de pensar além?
Por quanto tempo, ainda, as pessoas vão alegar, para si mesmos, que a causa de um ato abusivo contra a liberdade de outra pessoa (sendo ela mulher ou homem, homo ou heterossexual, criança ou adulto, negro ou branco ou asiático ou indígena...) é a escolha dela?
Percebem isso?
Concordamos e dizemos que as mulheres são culpadas por serem abusadas, violentadas ou até assassinadas por que elas fizeram suas escolhas de ir e vir,por usarem tal roupapelo horário que estavam na rua...
E assim sem se dar conta, as pessoas apoiam e são coniventes com os reais culpados da violência, que são os assassinos e os abusadores.
Penso em Marina e Maria, as duas mulheres que tiveram suas vidas interrompidas brutalmente por aqueles estavam interessados em seu próprio prazer e se deram o direito de decidirem sobre a vida de cada uma delas.
Penso também em cada pessoa que diz que Marina e Maria "facilitaram" ou "pediram por isso", unicamente por estarem "sozinhas".
Entendo, com esses pensamentos, que todos os que responsabilizam as vítimas por serem atacadas são, na verdade, coniventes com a violência. São, de certa forma, colaboradores e igualmente abusadores, visto que com apenas uma palavra se mostram compreensíveis com aqueles que praticam o mal e não solidários às vítimas.
Até quando Marinas e Marias ficarão perdidas e sozinhas, não pela ausência de um gênero masculino, mas por estarem abandonadas por uma sociedade conivente com hábitos e costumes preconceituosos e abusadores?

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