Pesquisadoras propõem modelo para desenvolver programas dedicados ao público feminino
por Thomaz Wood Jr. — publicado 20/06/2016
O Brasil tem mais de 5 milhões de mulheres empreendedoras. Segundo um estudo divulgado no ano passado pela Serasa Experian, elas representam 43% dos proprietários de negócios no País. A maior parte, 72,9% do total, comanda micro e pequenas empresas e 0,2% dirige estabelecimentos de grande porte. Um total de 52,1% das firmas localiza-se na Região Sudeste.
Mulheres empreendedoras muitas vezes são líderes em suas comunidades. Elas constituem modelos ou exemplos e sua atividade permite sustentar lares e melhorar o padrão de vida.
A atividade constitui um motor para a inovação, geração de empregos ecrescimento econômico. Segundo uma pesquisa realizada por Gilberto Sarfati, professor de Empreendedorismo da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, nos países desenvolvidos as micro, pequenas e médias empresas são responsáveis por, aproximadamente, 50% do Produto Interno Bruto e empregam 60% da força de trabalho. Nos países em desenvolvimento, entretanto, o peso cai para 10% do PIB e 30% dos empregos, por causa da falta de políticas públicas específicas e apoio institucional.
No Brasil, vários pequenos negócios são suficientes apenas para garantir a sobrevivência do proprietário ou proprietária. O que deve ser promovido é o empreendedorismo de impacto e com potencial de crescimento acelerado, capaz de criar postos de trabalho e gerar valor econômico. Um dos meios mais eficazes para atingir esse objetivo é a educação. As escolas de administração, o Sebrae, o Senai e outras instituições oferecem programas de formação presenciais e a distância. Há, no entanto, poucas alternativas dirigidas às mulheres.
Em texto publicado na revista científica Academy of Management Perspective, Amanda Bullough, Mary Sully de Luque, Dina Abdelzaher e Wynona Heim apresentam uma ampla revisão sobre o empreendedorismo feminino e propõem um quadro conceitual para criar e conduzir programas específicos para mulheres. O trabalho é baseado na experiência das autoras em mais de 20 países em desenvolvimento durante uma década. Elas destacam projetos patrocinados pela Organização das Nações Unidas, Banco Mundial e Banco Goldman Sachs.
Bullough e colaboradoras observam que o desenvolvimento de muitos programas começa pela definição do currículo, com os conteúdos a serem trabalhados. A estrutura curricular é, no entanto, apenas um dos requisitos. Para garantir sua efetividade, é preciso considerar também as características das participantes, o contexto geral e a disponibilidade de recursos. Projetos com excelente conteúdo, mas que não consideram as barreiras institucionais, culturais e burocráticas a serem enfrentadas no mercado pelas participantes, podem ser frustrantes para organizadores, docentes e alunas.
Um bom programa deve ter os impactos esperados bem definidos e as métricas de aferição claramente estabelecidas. Seu conteúdo precisa corresponder às condições e às necessidades específicas do público-alvo. Alguns deles podem oferecer temas amplos, tais como finanças, contabilidade, marketing e gestão de pessoas. Há campo também para modalidades concentradas em habilidades gerenciais, a exemplo de liderança, comunicação e negociação.
O corpo docente deve ser escolhido cuidadosamente, precisa mesclar conhecimento acadêmico e prático e garantir que os facilitadores e as facilitadoras sejam capazes de se comunicar de forma fácil e direta com as participantes. Atividades específicas podem ser acrescentadas para prover apoio extraclasse, tais como tutoria individual ou a pequenos grupos, e formação de redes de apoio.
Muitas empresas criadas por empreendedoras não vão além dos dois primeiros anos de existência. Outras avançam, mas se mantêm por anos no limite de subsistência, sem realizar seu potencial de geração de valor. Oferecer mais e melhores programas para mulheres pode ajudar a reverter esse quadro, com impactos positivos para elas próprias, suas famílias e comunidades.
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