sábado, 11 de junho de 2016

Mulheres gamers se unem para garantir seu espaço

Beatriz Blanco Writer
May 23, 2016
Longe de se intimidarem com episódios de machismo e cyberbullying nos jogos online, as mulheres estão se organizando através da internet para criarem espaços inclusivos para gamers e mudarem esse cenário.
Atualmente existem jogos digitais para todos os tipos de pessoas e gostos, mas infelizmente ainda persiste o estereótipo de que mulheres não se interessam por games. Mas graças a união e persistência das jogadoras, essa visão preconceituosa está com os dias contados. As mulheres atualmente são uma parcela significativa do público de games, sendo que elas já representam 47,1% dos gamers brasileiros segundo a pesquisa Game Brasil 2015, e 44% do público norte-americano segundo a Entertainment Software Association.
Porém apesar de marcarem presença no universo gamer, as moças ainda passam por situações desagradáveis em relação ao seu hobby. O machismo no universo gamer ganhou visibilidade em 2014 em um episódio conhecido como GamerGate, uma onda de cyberbullying desencadeada após o ex namorado da desenvolvedora Zoë Quinn criar um blog difamatório acusando a game designer de trocar sexo por críticas positivas de seu game mais conhecido, Depression Quest. O que começou como um ataque direcionado a Zoë rapidamente se estendeu às mulheres que a apoiaram publicamente, desencadeando uma onda de assédios e ameaças e levando Zoë e outras aliadas a deixarem suas casas e se esconderem, temendo por sua segurança.
O GamerGate chamou a atenção da mídia mundial, especializada ou não, sobre o tratamento agressivo direcionado às mulheres nos espaços gamers, e elas aproveitaram esse momento para trazer a público a discussão sobre essa situação. Em vez de se intimidarem, as mulheres estão cada vez mais assertivas e organizadas para exigirem mais respeito e participação no mundo gamer.
Para fugirem do cyberbullying, as fãs de jogos digitais se organizam em espaços seguros para mulheres, onde são incentivadas a trabalharem na área de jogos e sentem-se llivres para jogar sem serem incomodadas por gamers inconvenientes. Um dos exemplos desse tipo de prática é a iniciativa Women Up Games, que recentemente ganhou o Prêmio Mulheres Tech em Sampapor seu trabalho de inclusão.
“Quando eu comecei a estudar design de games eu de fato percebi o quanto era crítico o número de mulheres na área em geral, tanto para desenvolvedoras quanto para jogadoras. Foi aí que a Women Up Games nasceu, comigo dando palestras abordando o tema ‘Mulheres no desenvolvimento de games’ e percebendo cada vez mais o quanto é difícil para nós mulheres entrarmos em um ambiente onde ainda predomina a maioria masculina.” conta a fundadora e CEO da Women Up Games Ariane Parra, de 26 anos. “A Women Up Games surgiu com o intuito de quebrar tabus, mostrando que mulheres também jogam videogame, também desenvolvem games e também participam de campeonatos de games”.
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A iniciativa promove eventos periódicos para mulheres gamers, como campeonatos e workshops, que são sempre sucesso de público. Segundo Ariane, a mobilização das fãs de jogos digitais surpreendeu desde o primeiro evento. “Tem sido muito gratificante receber cada vez mais mulheres nos nossos eventos. No nosso primeiro estávamos esperando em torno de 30 mulheres e tivemos a felicidade de aparecerem cerca de 80! O intuito é que a nossa rede feminina no mundo dos games cresça cada vez mais e todo mundo é bem-vindo”.

A internet é o principal meio usado para encontrar outras mulheres com a mesma paixão. “A internet é tudo para nós, cada evento que programamos e cada contato que nos mandam são feitos através do nosso site ou redes sociais” afirma Ariane.
E as amizades feitas nas comunidades online e nos eventos são determinantes para que as mulheres persistam jogando. A blogueira e vlogger Gaby Wolks, 29 anos, que escreve sobre games desde 2010 no site Cadê o Controle? diz que considera as amigas que faz com seu trabalho a parte mais gratificante dele. “Nós acabamos dando força umas às outras e continuamos o ciclo do empoderamento. É contagiante. Fiz muitas amizades para a vida jogando online. Conheci muitas meninas desde que comecei a falar sobre jogos, algumas delas investiram na carreira e hoje são profissionais na área. Vibro com cada vitória, sinto orgulho e felicidade”.
Gaby representa um outro caminho encontrado pelas mulheres para mudar a mentalidade machista do meio: a criação de uma crítica especializada em games da perspectiva feminina, em que as gamers falam sobre os jogos que amam chamando a atenção para a representação das mulheres nos títulos e para as profissionais que trabalham nesse mercado.
“É importante porque, querendo ou não, mulheres percebem certas coisas que na maioria das vezes passam despercebidas em relação ao tratamento das personagens femininas (das roupas ao papel na história).  Acredito que são necessárias várias visões incluindo gêneros e etnias diferentes, para que se possa ter uma verdadeira crítica sobre algo” diz Daniela Rigon, 26 anos, redatora dos sites ESPN Games, MinasNerds e Drops de Jogos e co-fundadora da organização de narração Impetus eSports.
Mulheres como a Daniela e a Gaby acabam virando inspiração para outras gamers que querem se aventurar a produzir conteúdos sobre jogos mas ainda se sentem um pouco intimidadas pela exposição. Letícia Motta, que começou recentemente o canal LetxPlay, acredita que ver outras mulheres produzindo é motivador. “Acho que é extremamente importante ter mulheres falando sobre o tema principalmente como uma espécie de inspiração para que outras garotas se arrisquem. O medo de se expor é bastante comum, mas é algo que nós temos que combater. E é por isso que eu acredito que nós temos que mostrar que somos mulheres nos jogos, nos debates, até porque isso acaba de certa forma nos fortalecendo ainda mais.”
E para aquelas gamers que pensam em desistir dos jogos por causa de comentários machistas, as profissionais recomendam persistência e união. “Eu sei que é árduo, é difícil,mas é também algo que precisamos enfrentar” diz Letícia. Gaby concorda “Somos consumidoras, desenvolvedoras, designers, jornalistas, publicitárias, executivas, estagiárias, professoras, criadoras de conteúdo, freelancers. Movemos essa indústria queiram ou não. Estamos ampliando nossa representatividade. O machismo não vai diminuir enquanto estivermos nos escondendo. Vamos nos apoiar umas às outras.”
E Daniela tem uma dica. “Encontre grupos com outras mulheres para conseguir jogar e discutir sem estresse e, em casos graves, deixe uma janela do seu navegador aberta com um GIF de gatinhos”.

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