HQ descreve a escritora em meio ao caos da favela
por Rosane Pavam — publicado 29/07/2016
Carolina Maria de Jesus cata papéis em meio ao lixo. À noite, após combater violências contra seus iguais, faz literatura nas folhas recolhidas. Esta é a artista afrodescendente que ainda espelhamos, aqui e em dezenas de países nos quais sua imagem se faz reconhecível, como os Estados Unidos. Este é o personagem que a pesquisadora Sirlene Barbosa e o desenhista João Pinheiro alcançam com zelo na HQ Carolina. Sua escritora é um anseio. Ela parece jamais deixar a favela, sobre a qual faz um samba em que exalta a vedete.
A história em quadrinhos mostra também momentos variados de sua iconografia e de suas “escrevivências”. Carolina diz: “A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra”. A escritora aprendeu a literatura do século XIX no colégio público mineiro Allan Kardec. Sua sala de aula era aberta. Durante toda a vida, leu os folhetins, cujas tramas buscou mimetizar.
Quando desembarcou em São Paulo, achou que as pessoas pareciam fugir umas das outras. Lutou toda a vida para ser publicada. Segundo a pesquisadora Elena Pajaro Peres,Carolina havia sido entrevistada pelo menos duas vezes antes de conhecer Audálio Dantas, o jornalista que a levou a descrever seu cotidiano em Quarto de Despejo – Diário de uma favelada (1960). A reportagem “Carolina Maria, poetiza preta”, de Willy Aureli, foi publicada na Folha de S.Paulo em 1940, reeditada em A Gazeta 20 anos depois.
A segunda, “Carolina, a poetisa negra do Canindé”, saiu em 1952, no jornal Última Hora de São Paulo. Os estudos sobre Carolina apenas começam. Mas já sabemos que ela sempre desejou ser poeta.
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