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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Quando a cultura do estupro está nas instituições: delegado pergunta para a vítima se ela é habituada a fazer sexo grupal

28 de maio de 2016

Conhecendo a cultura machista do Brasil, vendo o intervalo de tempo entre o estupro e a ida ao hospital, sabendo que crime de estupro exige prova material, eu sabia que esse caso grotesco iria ter este enredo: a vítima será mais uma vez responsabilizada pelo crime que sofreu.

Ela já foi responsabilizada nas redes e está sendo na condução do caso.

Vejamos este trecho da Folha antes da leitura da matéria publicada hoje em El Pais e mais uma vez convido a todos a refletir sobre a cultura do estupro. O que adianta os mais conservadores em suas pautas populistas proporem castração química? A guria relata que foi estuprada também com objetos. E o delegado do caso parece estar disposto a não punir os culpados.
folha
Advogada de garota carioca: “Vou pedir a saída do delegado do caso”

Por Flávia Marreiro, El Pais

Eloisa Samy, que acompanha adolescente vítima de estupro, considera conduta imprópria Alessandro Thiers é titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática

São Paulo
28/05/2016

Eloisa Samy, advogada da adolescente carioca que teve imagens de sua violação distribuídas pela Internet, anunciou que vai pedir a saída de Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Polícia Civil do Rio, sob o argumento de que ele adota uma conduta inadequada para o caso. “Há machismo do próprio delegado. Ele perguntou para ela se ela tinha por hábito fazer sexo grupal.” Samy elogia a responsável pela Delegacia da Criança e Adolescente Vítima, Cristina Bento, que também acompanha. “Ela foi irreprochável, a pessoa mais sensível, ao lado do psicólogo. Agora o delegado coloca mais três homens na sala. Mesmo com a comoção em torno do caso, isso aconteceu”, contou ao EL PAÍS neste sábado.
Ativista de direitos humanos, a advogada ofereceu assistência jurídica à garota e sua família. Para Samy, a insistência de Thiers de que é necessário um exame de corpo de delito para falar em estupro não é aceitável. “A palavra da vítima basta em caso de estupro de uma mulher. Se tivesse sido um furto de celular, de um relógio, isso não aconteceria. O que precisava além do vídeo que mostrando a moça desacordada, nua, para que a palavra da vítima fosse reconhecida e legitimada? As imagens são cristalinas.“
No vídeo publicado na Internet, a moça aparece desacordada em uma cama, enquanto homens a filmam. Um deles exibe sua pelves ensanguentada. “Olha como que tá. Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou de marreta.” A divulgação das imagens, em que os envolvidos também mencionam que “mais de 30” a “engravidaram”, deram origem à apuração do caso.
Na sexta, três suspeitos de envolvimento no caso prestaram depoimentos e foram liberados. Um deles, Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, que teve relacionamento com a adolescente no ano passado, afirmou à polícia que não manteve com a moça relações sexuais com penetração. Segundo o Estado de S. Paulo, o advogado de Santos, Eduardo Antunes, admitiu que Souza expôs foto da jovem no WhatsApp. Raí de Souza, de 18 anos, disse ter mantido relações sexuais consentidas com a adolescente e afirmou que as imagens foram feitas por seu celular, mas que não é responsável pela divulgação.
“A polícia só vai pedir algum tipo de prisão se for comprovada a existência do crime e se houver necessidade”, afirmou o delegado Thiers, segundo a Folha. “A gente está investigando se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram. A polícia não pode ser leviana de comprar a ideia de estupro coletivo quando na verdade a gente não sabe ainda”, disse.
Após prestar depoimentos, todos foram liberados, o que foi criticado por Samy. “Como essas imagens chegaram na Internet, por mágica? Eles confessaram que compartilharam“, diz a advogada. Divulgar imagens de menores de idade – a garota tem 16 anos – é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com pena de prisão de três a seis anos. Em 2009, a lei 12.015 do Código Penal Brasileiro foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos não consentidos como crime de estupro.
Santos e Souza afirmam que a moça não foi estuprada – referindo-se à prática sexual com penetração – e afirmam que um grupo chegou à casa em que se cometeu o crime na Zona Oeste do Rio após um baile funk. A adolescente diz que, depois de encontrar Souza, acordou no imóvel rodeada de homens armados. De acordo com a advogada Eloísa Samy, o crime aconteceu no domingo, e não na sexta dia 20, como a garota havia dito inicialmente. No primeiro depoimento, ainda de acordo com Samy, ela ainda estava confusa, sob efeito de dopagem. “Ela segue sendo alvo de ameaças verbais no Facebook. O vídeo segue sendo compartilhado. Ela começa a apresentar sinais de síndrome do pânico”, afirma a advogada.
“Fui a um baile. Fui ao encontro ao meu ex na casa dele e dormi. Quando acordei, acordei em outra casa. A luz estava acesa e havia um montão de gente em cima de mim”, disse, em entrevista ao jornal O Globo. Ela disse ter sido violentada “em todos os lugares em que você possa imaginar”, inclusive com objetos. “Tem outro vídeo, só dos objetos… eu chorei e fiquei batendo neles”.
Não é a primeira vez que a advogada Eloísa Samy e o delegado Alessandro Thiers se cruzam em um caso. Samy esteve entre as 23 pessoas denunciadas à Justiça e que chegaram a ter a prisão decretada em 2014, sob a acusação de planejar e participar de protestos violentos no Rio durante a Copa do Mundo. Thiers foi o responsável pelo inquérito, que os acusava de formação de quadrilha.

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