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sábado, 10 de setembro de 2016

Vamos falar sobre suicídio?

É possível que recentemente você tenha recebido a notícia da perda de uma pessoa próxima. Aconteceu comigo

CRISTIANE SEGATTO
10/09/2016

Não virei a página do jornal de hoje quando passei pelo artigo da jornalista Paula Fontenelle, na Folha de S. Paulo. Desviar os olhos do texto sobre suicídio poderia ter sido um gesto automático para quem ainda mastigava o café da manhã. Reconheço que o tema é indigesto, mas ignorá-lo não o tira da sala.

Em períodos de crise econômica, o número de suicídios tende a crescer. Não duvido que recentemente você tenha recebido a notícia da perda de uma pessoa próxima. Aconteceu comigo. No ano passado, um vizinho e duas colegas se foram.

Duas jornalistas com quem, anos antes da tragédia, tive o prazer de trabalhar. Uma se foi depois dos 50 anos. Outra, pouco além dos 30. A mais jovem havia retornado ao Brasil depois de concluir um concorrido mestrado nos Estados Unidos.

Minha primeira reação, após o choque, foi procurar respostas. Uma busca tola. Corri ao Facebook para reler comentários e trocas de mensagens. Como não percebemos indícios de que o sofrimento era tão profundo? Poderíamos ter feito alguma coisa? Onde erramos tão absurdamente?

Se existia um traço comum nas últimas postagens dessas duas mulheres que não se conheciam era o profundo desencanto com o estado geral das coisas. Elas compartilhavam o peso da perda das ilusões políticas e da falta de perspectivas num mercado profissional em frangalhos. Um sentimento comum a tantos brasileiros neste momento.

A causa foi essa? Especular seria inútil. Julgar é desumano. Embora a relação entre suicídio e transtornos mentais (depressão, abuso de álcool, entre outros) esteja comprovada, muitos dos casos ocorrem impulsivamente em momentos de crise.

As pessoas tiram a própria vida quando perdem a habilidade de lidar com fatores altamente estressantes. A origem da dor (problemas financeiros, emocionais, violência, discriminação etc) e a capacidade de suportá-la variam. São as sutilezas de cada história.

A soma dessas sutilezas faz do suicídio a segunda causa de morte na faixa etária dos 15 aos 29 anos. São mortes evitáveis. Amanhã, dia 10, será o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. “Conectar. Comunicar. Cuidar” é o lema da campanha da Organização Mundial da Saúde.

Conectar, comunicar e cuidar é o que podemos fazer para evitar perdas que deixam, atrás de si, feridas abertas para sempre. 

A jornalista Paula Fontenelle, autora do livro Suicídio: o futuro interrompido (Geração Editorial) dedicou-se a estudar o tema depois de perder o pai. É dela a melhor das recomendações:
“Se achar que existe alguém vulnerável próximo a você, faça duas perguntas simples: Onde dói? O que posso fazer para ajudá-lo?”

De coração aberto, sem julgamento.

(Cristiane Segatto é repórter especial de ÉPOCA e comentarista do Boletim Saúde e bem-estar da Rádio CBN)

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