Normalmente, quando digo minha idade, 58 anos, recebo em troca um “não parece mesmo!” em retribuição. Espero que não estejam todos mentindo só para me agradar, mas o que mais chama a atenção no cumprimento é a negação que ele embute: por que não posso parecer ter 58 anos? Aliás, por que não posso ter a minha idade? E, finalmente, por que envelhecer ainda é tabu? Numa variação sobre o mesmo tema, quando em conversa com amigas eu me refiro ao fato de sermos cinquentonas, invariavelmente uma devolve um quase protesto: “mas nós estamos muito bem!”. Ótimo que estejamos bem, mas isso não tira um mísero ano da nossa história. E ainda nos traz um desafio: como continuar assim nas próximas décadas? Esse é o ponto de partida deste blog: discutir e debater essa nova maturidade.

A humanidade ganhou 30 anos de expectativa de vida ao longo do século XX. Foi uma enorme conquista, mas também traz questões desafiadoras para o século XXI. Em 2050, 22% dos habitantes do planeta terão mais de 60 anos; no Brasil, os idosos representam 13% da população e, nos próximos 40 anos, esse contingente vai dobrar.

O IBGE tem o perfil da pirâmide etária brasileira (veja imagem no site do IBGE) até 2050 e a primeira imagem é a da década de 1980, com uma larga base composta de jovens – afinal, esse era o país do futuro. Mas um clique no botãozinho que vai dar animação a esta pirâmide mostra como, em 2050, o desenho dela vai se modificar totalmente e haverá muita, muita gente, na parte superior! Aliás, de pirâmide não vai ter nada.

A geração que está na casa dos 50 e 60 anos se sente cheia de vitalidade e energia. Dá para incluir também setentões com esse mesmo perfil, um grupo que não para de crescer. É uma geração que está envelhecendo mais e melhor que seus pais e avós.  São adultos ativos no mercado de trabalho e que pretendem continuar atuantes profissionalmente. São consumidores que continuarão movimentando o mercado e demandando novos serviços, provavelmente com mais dinheiro no bolso e na poupança do que seus filhos e netos, porque sabemos que os mais jovens enfrentam um mundo de emprego mais escasso.

Por tudo isso, essa geração tem uma missão pela frente: reinventar o envelhecimento. A infância, que até o começo do século XX era praticamente um estorvo do qual um ser humano deveria se libertar o quanto antes, foi redescoberta e hoje reina absoluta. A adolescência tal como existe foi criada pelos baby boomers, os nascidos entre o fim da 2ª. Guerra e o início da década de 1960, forjando uma distância abissal em relação à geração anterior. Agora estamos diante da revolução da longevidade e a sociedade ainda não se deu conta da extensão dessa mudança. A velhice terá que ser reinventada por quem está chegando lá: essa geração que derrubou dogmas e é dona do próprio nariz, e que não está nem um pouco disposta a ter um papel secundário no cenário mundial.

Como me ensinou o professor Alexandre Kalache enquanto estivemos juntos na ancoragem do programa 50 Mais CBN, o envelhecimento é resultado do chamado curso de vida, a trajetória de cada um com as escolhas que vão impactar a saúde, as relações afetivas e a segurança financeira – e quanto mais cedo fizermos as opções corretas, melhor será o futuro. A proposta dessa coluna é ambiciosa e, ao mesmo tempo, otimista: ser um fórum sobre o curso de nossas vidas, tratando de todos os temas relacionados com a maturidade. Não tenho a menor pretensão de fazer isso sozinha. Desde já convido todos a contribuir com esta discussão. E vamos à luta!

G1