domingo, 6 de novembro de 2016

Violência de gênero em casa preocupa especialistas em seminário

04/11/2016

Major Cláudia Moraes alerta sobre os casos de estupros no lar  Professora Giovana Xavier comentou a questão racial durante seminário de violência de gênero

A evidência do racismo na sociedade, a opressão do homem na relação do casal e a exposição sexual das mulheres na Internet foram questões levantadas no primeiro painel do segundo dia do Seminário Internacional de Violência de Gênero, nesta sexta-feira, dia 4, promovido pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj). O evento, que começou na quinta-feira, conta com a participação de magistrados, representantes das Polícias Civil e Militar, professores e três pesquisadoras espanholas: a professora Maria Luiza Maqueda, Patrícia Laurenzo e Encarna Bodelón. A coordenação do seminário é da juíza Adriana Ramos de Mello.

“As Mulheres Negras e a Cultura do Estupro” foi o tema da primeira palestra no painel “As Várias Formas de Violência Contra a Mulher”. A professora Giovana Xavier, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pós-doutora em História, acentuou a existência do racismo para expor a violência sofrida por mulheres e homens negros.

“Falar da cultura de estupro é falar da desigualdade racial. A história da escravidão no Brasil é marcada pela violência contra a mulher”, disse a professora, que acrescentou. “O racismo criminaliza as mulheres negras e elas somente aparecem como vítimas quando perdem seus filhos para a violência”.

Índice de estupros é alto dentro de casa, afirma major PM

Já a major da Polícia Militar, Cláudia Moraes, do Instituto de Segurança Pública, comentou a alta incidência de estupros ocorridos nos lares, ao ministrar a palestra “Violência Sexual nas Relações Domésticas”. Segundo ela, 10% das ocorrências feitas pela PM são de estupros cometidos contra a mulher por companheiros ou ex-companheiros. Inicialmente, a major fez um relato histórico da repressão sexual sofrida pela mulher na sociedade. No século 19, a manifestação da sexualidade feminina chegou a ser considerada de origem patológica. “O prazer sexual foi negado às mulheres. A mulher não podia ter prazer”, comentou a oficial, acrescentando que a vítima de estupro ainda sofre com a dúvida das autoridades e da própria sociedade, de que tenha havido consentimento no ato sexual.

Cláudia Moraes disse ainda que estatísticas apontam que 70% das agressões contra a mulher ocorrem em casa. A delegada Sandra Ornellas, mediadora do painel, disse que o número de registros de violência contra a mulher é maior no lar do que nas ruas. “Não é apenas uma relação de sexo. O estupro é o exercício do poder”, disse a policial.

Internet se tornou ambiente de hostilidade e conflitos, avalia juíza

A terceira palestra do painel reuniu a professora Giovanna Dealtry, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e a juíza Andréa Pachá, ouvidora geral do TJRJ, na abordagem do tema “Cyberbulling e a Violência contra as Mulheres na Internet”. Giovanna analisou ataques misóginos, sexistas e pedófilos que mulheres e crianças são vítimas nas redes.

“Há uma desumanização da mulher na internet. Meninas são expostas pelos namorados em cenas fazendo sexo”, disse a professora.

A juíza Andréa Pachá confessou ter acreditado, no início, que a Internet seria um espaço democrático de fortalecimento da luta pelos direitos da pessoa. “Mas passou a ser um espaço hostil, com as contradições da humanidade, em virtude da falta de filtros”.

“A violência de gênero é assustadora neste espaço. É preciso bloquear em razão do grau de ódio e violência contra os direitos humanos e o feminismo. Meninas têm se suicidado quando são expostas nessa rede social. A pedofilia avança, é um ambiente onde os iguais se encontram. É preciso fazer uma reflexão sobre a Internet”, concluiu a magistrada. 

O painel “As Várias Formas de Violência contra a Mulher” contou ainda com a participação dda professora Cecília Soares, da UFRJ.

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