sexta-feira, 12 de maio de 2017
Artigo de Vanderlan da Silva Bolzani, professora titular do IQAr Unesp, vice-presidente da Fundunesp e da SBPC e Helena Bonciani Nader, presidente da SBPC e professora titular da Unifesp
Temos hoje um quadro bastante claro de como evoluiu nos últimos anos a participação das mulheres no espaço da universidade no Brasil. No plano geral, os dados mostram resultados positivos, inclusive na comparação com outros países. Anos consecutivos em que mulheres têm se igualado ou superado os homens no número de ingressantes nos cursos de graduação reduziram de forma significativa a desigualdade de gênero nesse patamar. A presença em projetos e grupos de pesquisa aumentou, da mesma forma, sinalizando que nos próximos anos teremos também aqui uma participação mais expressiva de mulheres.
A desigualdade aparece, entretanto, quando fechamos o foco em áreas específicas desse quadro. Os cargos de direção nas universidades, nos institutos de pesquisa, academias internacionais, nacionais e estaduais de ciência, associações científicas e órgãos de administração continuam, em sua grande maioria, sendo ocupados por homens. Quando se avança em direção ao topo da carreira de professor e pesquisador, um processo de seleção “natural” reduz progressivamente o número de mulheres nos níveis médio e alto. Isso se reflete, por exemplo, no número de mulheres que obtêm as bolsas de produtividade nível 1A concedidas pelo CNPq. Elas somam apenas 24% do total. Na área conhecida como STEM (da sigla em inglês para Science, Technology, Engineering and Mathematics) mantém-se a marcante diferença, com expressivo predomínio masculino. Assim como o número de mulheres exercendo a atividade profissional nessas áreas está distante da igualdade.
O tema é objeto de muitas análises em busca de ações que possam mudar tal realidade, presente não somente no Brasil, mas também em sociedades de economia avançada. Uma mudança cujo valor além de humanitário é econômico, já que nenhuma sociedade moderna e sustentável deveria prescindir da contribuição de integrantes que representam metade do corpo social.
Alguns fatores surgem com maior frequência nas análises. Um dos mais destacados é o peso da tradição social e cultural que forma meninas e meninos de forma desigual. Enquanto eles são estimulados a se interessarem por ciência e pela ascensão profissional, elas são levadas a associar seu papel feminino com atividades de cuidadora da família e de ensino. Mas esse padrão cultural pode ser alterado, como vem sendo, aos poucos, por políticas públicas e programas de apoio e estímulo à criatividade e ao conhecimento para ambos.
Se considerarmos a linha do tempo, a situação atual registra um avanço qualitativo nas práticas e na visão que a sociedade incorporou frente a necessidade de oportunidades iguais para homens e mulheres.
É nesse contexto que hoje se torna importante ampliar o debate sobre como a universidade deveria se estruturar para atuar mais efetivamente nesse processo de evolução. Que respostas podemos encontrar para questões como a descontinuidade da carreira acadêmica das mulheres em razão da maternidade em todo o mundo? Desafio que se impõe de maneira marcante em alguns países, onde jovens promissoras e talentosas são levadas a abrir mão de seu desenvolvimento profissional.
Quase no final da segunda década do século XXI, desejamos que o dia das mães simbolize também uma consonância de toda a sociedade por uma nova mentalidade em torno da questão de gênero. Uma mentalidade que leve a novas ações que incentivem as jovens a exercerem, sem conflitos, suas identidades de cientistas e de mães. Que mulheres cientistas de reconhecido talento não se sintam alijadas do reconhecimento natural no topo de suas carreiras, tendo sempre o mérito como base em qualquer competição.
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