domingo, 4 de junho de 2017

‘Tenho a responsabilidade de representar todas as mulheres’, diz treinadora da Seleção Brasileira em entrevista exclusiva

Por Maurício Targino
04/06/2017
A chegada de Emily Lima ao cargo de treinadora da Seleção Brasileira de futebol feminino não representou apenas uma troca de comando após o quarto lugar nos Jogos Olímpicos Rio-2016: foi um símbolo da ascensão da mulher no esporte do país, que nunca havia visto uma mulher ser técnica da equipe nacional feminina em trinta anos de história.
“É uma conquista para todas as mulheres que trabalham com futebol feminino”, diz a treinadora de 36 anos, que se coloca como uma representante delas. Ela avalia seu trabalho no comando da Seleção, a nova fórmula do Campeonato Brasileiro e outros assuntos na entrevista exclusiva para o espnW Brasil que você confere a seguir.
espnW: Como você avalia estes seus primeiros meses à frente da Seleção Brasileira?
Emily Lima: Foi um bom início de trabalho. Passamos a nossa metodologia para as meninas nas duas convocações e elas estão assimilando. Estamos montando uma base na equipe e precisamos observar atletas pontuais
Em sua apresentação, você afirmou que faria tudo diferente do que viveu. Que mudanças você conseguiu aplicar? O que você acha que melhorou?
Como sempre fiz na minha vida, busco ser profissional por onde passo e é isso que estou fazendo com as jogadoras na Seleção Brasileira. Dentro de campo, temos trabalhado muito a parte tática e tenho deixado elas muito à vontade para criar do meio para frente.
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(Lucas Figueiredo / CBF)
O novo formato do Campeonato Brasileiro, com duas divisões e calendário mais amplo, já reflete de alguma forma na seleção?
O novo formato da competição deu mais equilíbrio às duas divisões. Eu e minha comissão técnica temos acompanhado o maior número de jogos tanto da Série A1 quanto da A2 e temos visto uma melhora na qualidade das partidas, principalmente na primeira divisão. Essas análises nos deram a ideia de criar as Convocações de Observação Regional, em que convocamos atletas de determinada região, baseada nas análises, para uma semana de trabalho e observação mais de perto na Granja Comary.
Quais tem sido suas maiores dificuldades no cargo?
Por enquanto não encontro dificuldades, temos recebido todo o apoio que precisamos.
Como ter uma mulher no comando da Seleção Brasileira pela primeira vez na história mexeu e mexe com as jogadoras?
Sinceramente acho que dentro de campo não muda muito, pois a linguagem é a mesma: o futebol. Acho que o que elas tiveram foi uma identificação maior, como eu já fui atleta, sei das dificuldades que elas passam, por exemplo, e elas se sentem mais à vontade para me procurar.
Ainda sobre esse assunto, uma mulher treinando a Seleção Brasileira feminina é uma conquista ou uma consequência? Por quê?
Os dois. Trabalhei muito, me dediquei muito nos clubes pelos que passei até chegar aqui, então por isso é uma consequência. Mas por outro lado, é uma conquista para todas as mulheres que trabalham com futebol feminino. Eu trabalhando na Seleção Brasileira, tenho a responsabilidade de representar todas elas e de fazer um bom trabalho para abrir mais portas para mais mulheres aqui na CBF.
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(Lucas Figueiredo / CBF)
Na sua opinião, quais as razões que explicam o fato de o Brasil ainda não ter conquistado uma medalha de ouro ou um Mundial no futebol feminino? O que precisa melhorar para quebrar esse tabu?
A cultura brasileira nunca pensou em desenvolver a modalidade do país e mesmo assim temos duas medalhas de prata olímpicas e um vice-campeonato mundial. É preciso melhorar o desenvolvimento do futebol feminino. Hoje temos duas divisões no Campeonato Brasileiro, as federações estão se movimentando para fazer os Estaduais, e os clubes estão buscando investir em suas equipes.
O fato de as duas maiores competições do futebol feminino serem disputadas em anos subsequentes ajuda ou atrapalha?
Ajuda para ter continuidade no planejamento e no trabalho.
Quais são as três melhores seleções do mundo na atualidade? Por quê?
Se você pegar pelo ranking da FIFA, os Estados Unidos e a Alemanha ainda estão muito a frente. Mas a França tem feito um excelente trabalho, tem crescido muito e ainda vai sediar a Copa do Mundo.
É mais difícil ser jogadora ou treinadora?
Nenhuma das duas funções é fácil. Jogadora, pois você se preocupa em treinar e fazer um bom jogo. A treinadora precisa preparar um bom treino, se preocupar em o time jogar bem, vencer e ainda cuidar de todos o bastidor.

espnW

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