Em: 14.07.17
(Por Claudia Corbett)
(Por Claudia Corbett)
A violência doméstica ainda é crescente na cidade de Campinas/SP. De 2009 a 2015, os números de casos notificados aumentaram cerca de 100%, segundo dados do Sistema de Notificação de Violência em Campinas (SISNOV). Deste montante, 71,3% são vítimas do sexo feminino, sendo que a maioria tem até 19 anos. Neste período, o número de crianças e adolescentes (de 0 a 17 anos) vítimas do mesmo ‘mal’ chegou a 1.043, sendo que as mais vulneráveis estão na faixa etária de 0 a 11 anos.
Há mais de três décadas o SOS Ação Mulher e Familia, entidade parceira da Fundação FEAC, nascia com o propósito de atender mulheres que viviam situações de violência doméstica, sexual e social.
Atualmente, a instituição inclui em seu portfólio um trabalho de prevenção com a realização de palestras ministradas em universidades, escolas, empresas e instituições que têm como tema a violência doméstica e relacionamento abusivo. “Muitas pessoas fazem contatos conosco pelas redes sociais. Em muitos casos são jovens que identificam seu relacionamento com os nossos posts informativos. Percebemos que a violência está crescendo também entre casais de namorados”, alertou Gislaine Rossetto, coordenadora geral do SOS.
O SOS Ação Mulher e Família faz parte do Serviço Especializado de Proteção Social à Família (SESF) que acolhe, orienta e acompanha famílias vítimas de violência. Para isso, conta com uma equipe multidisciplinar composta de profissionais, representantes das áreas jurídica, psicológica e serviço social para a promoção do atendimento de mulheres, homens e suas famílias em situações de violência de gênero (espancamento, ameaças de morte, crimes de natureza sexual, violência psicológica, estupros, discriminações,). Atende pessoas de toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC), sendo uma grande parte provenientes das regiões Sudoeste e Sul de Campinas.
Dados informados pelo SOS evidenciam os principais agravamentos da violência. Entre eles, a cultura machista, o consumo excessivo de álcool e drogas, desemprego e baixa renda familiar. Já sobre o perfil da usuária, em sua grande maioria são mulheres arrimo de família. As demais estão desempregadas, têm baixo nível de escolaridade e não têm profissão definida; vivem uma situação econômica dependente, motivo pelo qual se tornam vulneráveis à violência do parceiro.
A organização tornou-se referência neste serviço e foi se adaptando conforme as demandas sociais exigidas. Em 1982, passou a realizar ações não somente de auxílio à mulher, mas com um olhar também para a família da vítima. Os casos atendidos indicavam que a violência não se restringia somente à mulher, mas também a outros membros familiares, atingindo ainda crianças e adolescentes, jovens e idosos. Para estes atendimentos diferenciados, a entidade criou projetos voltados a crianças de 4 a 11 anos e a adolescentes e jovens de 12 a 18 anos. Hoje, ainda em número reduzido, realiza atendimento também ao agressor. Segundo Aline Romero Figueiredo, assessora social da Fundação FEAC, este desafio está presente na discussão das políticas públicas. “A cultura do machismo e as relações de tensão ou pressão que vivenciamos são fatores que contribuem com a prática da violência. Proporcionar momentos e espaços de reflexão aos autores de violência faz com que repensem suas condutas e rompam ou minimizem a reincidência da violência”, esclareceu.
Projetos
No início da acolhida, a entidade investe em ações que passam a empoderar as mulheres oportunizando vivências profissionais. Para isso criou o projeto Atendimentos Essencial, que por meio de um conjunto de ações socioassistenciais e terapêuticas promove o protagonismo, buscando minimizar ou interromper a história de violência.
Para este fortalecimento das mulheres e capacitação para o trabalho a instituição promove cursos profissionalizantes. “Muitas das mulheres que nos procuram chegam tão vulneráveis que não acreditam na capacidade delas de produzirem algo para gerar sua própria renda. Preferem manter um relacionamento violento, pois não têm como se manter sozinha ou com os filhos”, contextualizou Gislaine Rossetto, coordenadora geral da entidade.
Com a complexidade dos casos atendidos, e o envolvimento de crianças e adolescentes, a instituição sentiu a necessidade de criar projetos que atendessem este público.
O projeto Gira-Vida é voltado para adolescentes e jovens de 12 a 18 anos que vivenciam situações de violência na família ou na comunidade, seja ela psicológica, física, sexual ou de negligência. De 2002 a 2016 realizou 4.065 atendimentos. De caráter psicoeducativo, propõe a reflexão sobre as vivências cotidianas para a elaboração de novos sentidos e significados. Com isso, busca possibilitar um posicionamento frente às questões centrais de sua vida para enfrentar melhor as adversidades.
Crianças de 4 a 11 anos e suas famílias que vivem em situação de violência e vulnerabilidade social participam do projeto Recriando Vínculos. Realizado em uma brinquedoteca, utiliza do lúdico e do diálogo despertando novas possibilidades de convívio na família por meio de informação, reflexão e mobilização de potencialidades dos envolvidos, promovendo o fortalecimento dos vínculos e resgate de competências dos membros da família e a reafirmação da função protetiva junto aos cuidados da criança. De 2001 a 2016 este projeto atendeu 802 crianças e 644 responsáveis.
Paralelamente, a entidade desenvolve pesquisas sobre a condição feminina, relações de gênero, papéis sexuais. Além disso, promove cursos, formações, workshops, palestras, campanhas, intercâmbios com grupos de mulheres e instituições. Está na sexta edição do Concurso de Fotografia que evidencia temas que levem a reflexão sobre a violência em todas as suas vertentes.
Reconhecimentos
Pelos serviços prestados, a entidade recebeu prêmios como a Medalha Dorcelina de Oliveira Folador, dedicado à antropóloga Maria José Taube, uma das fundadoras do SOS Ação Mulher e Família, concedido pela Câmara Municipal de Campinas (2003); Diploma Santos Dias – Direitos Humanos e Cidadania – concedido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (2002); Medalha de Ouro Milton Santana – Direitos Humanos, concedido pela Câmara Municipal de Campinas (2001) e Diploma e Troféu Soroptimista Internacional – Mulher Ajudando Mulher, concedido pela Câmara Municipal de Campinas (2001).
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