domingo, 23 de julho de 2017

Fundo Graça Machel: Acabar com a fome na África é a chave para destravar o potencial completo das crianças.

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 Christine Muyama - 29.06.2017 | Graça Machel
Embora se saiba que a nutrição é condição para a sobrevivência e o desenvolvimento de qualquer ser vivo, quando temos o privilégio de não sofrer com a fome, desconhecemos o quanto, na prática, ela pode nos enfraquecer e travar o crescimento de crianças em fase de formação. O que no Brasil já constitui um problema, considerando a imensa desigualdade social do país, em algumas nações do continente africano é o principal obstáculo a ser superado antes mesmo de questões relativas à educação ou à economia, por exemplo.
Graça Machel, ativista moçambicana de direitos humanos, lidera diversas organizações humanitárias buscando auxiliar essas pessoas a conquistarem os direitos básicos de que carecem. O Fundo Graça Machel, uma dessas entidades, trabalha pela lógica da ajuda humanitária, mas também do empoderamento e da capacitação de mulheres e crianças africanas.
Após reunião de líderes mundiais colocando o fim da fome na África como prioridade nos objetivos estabelecidos até o ano de 2030, o Fundo Graça Machel mostrou atenção e preocupação com as atitudes práticas que devem ser tomadas para além desse pronunciamento de impacto. Confira abaixo o artigo na íntegra.
Líderes globais dizem que a hora de agir para acabar com a fome é agora. Os líderes do G7 recentemente concordaram que acabar com a fome, alcançar segurança alimentícia, melhorar a nutrição e promover agricultura sustentável até o ano 2030 são os seus principais objetivos. Foram unânimes no encontro do G7 em Taormina, na Sicília, sobre a necessidade de levantar um apoio coletivo para segurança alimentícia, nutrição e agricultura sustentável na África subsaariana através de ações, tais como aumentar a assistência de Desenvolvimento Oficial, melhorar o direcionamento e medir intervenções alinhadas com recomendações de segurança alimentícia e nutrição que alcancem mulheres e meninas, subsidiando esforços para atrair investimentos privados responsáveis e recursos adicionais de outros agentes de desenvolvimento para reduzir a fome em países subdesenvolvidos.
Essas iniciativas do G7 irão retirar 500 milhões de pessoas da fome e da desnutrição em países em desenvolvimento em 2030. O objetivo de terminar com todas as formas de desnutrição começa em desenvolver o suporte necessário suficientemente cedo. As intenções do G7 em ajudar as populações mais vulneráveis no mundo são, portanto, merecedoras de aplausos.
Nós, do Fundo Graça Machel, temos esperança de que esse documento do G7 não seja esquecido nas prateleiras. Em 2015, o G7 se comprometeu em retirar 300 milhões de pessoas da fome e da desnutrição em países em desenvolvimento, sem o mesmo comprometimento financeiro e sem uma fonte de fundos clara. Apesar de terem feito um comunicado de impacto em Taormina, prometendo agir contra a pobreza e a fome, a parte preocupante é que ainda não há garantias claras novamente. O G7 segue dizendo que está rapidamente mobilizando assistência humanitária e continuará a apoiar processos políticos que ajam nas causas subjacentes das crises. Eles estão comprometidos em fortalecer o sistema humanitário internacional para prevenir, atenuar e preparar melhor para crises futuras, enquanto fortalecem o engajamento na construção de resiliência.
Promessa de impacto
No Fundo Graça Machel, acreditamos que todas as crianças devam crescer para atingir seu completo potencial e que a melhor forma de garantir isso é uma nutrição adequada. O mundo também será capaz de acelerar a proteção, o empoderamento e a provisão de iguais oportunidades para crianças através de segurança alimentícia e nutrição adequada. Esperamos que os líderes mundiais cumpram o que prometem.
Quando celebramos o Dia da Criança africano, é crucial lembrar que as crianças são o grupo mais vulnerável a questões de segurança alimentar e desnutrição. Pesquisas demonstram que durante os primeiros cinco anos de vida de uma criança, uma nutrição balanceada é essencial para o desenvolvimento cerebral, o crescimento saudável e o desenvolvimento de um forte sistema imunológico.
A desnutrição precoce tem consequências devastadoras que incluem dano irreversível ao desenvolvimento cerebral e crescimento muscular da criança. Isso pode ter impacto na qualidade de vida do indivíduo em áreas como o ambiente de trabalho, além de mais complicações de saúde. Isso pode afetar negativamente as economias emergentes da África. De acordo com o Relatório Global de Nutrição de 2016, dos 667 milhões de crianças abaixo dos cinco anos no mundo, 159 são muito baixas para sua idade e 50 milhões pesam menos em relação à sua altura devido a desnutrição. Essa situação deve se agravar, uma vez que a ONU declarou que 20 milhões de pessoas estão passando fome no sul do Sudão, Iêmen, Nigéria e Somália, devido a guerra civil e a instabilidade econômica, muitas das quais são crianças. O número de crianças com problemas de desenvolvimento abaixo dos cinco anos está diminuindo em todo o mundo, menos na África e na Oceania.
O mesmo relatório demonstra mais adiante que a desnutrição e dietas pobres são o maior causador de doenças no mundo. As perdas de PIB relacionadas a baixo peso, alta mortalidade infantil e deficiências de nutrientes chegam a 11% na Ásia e na África.
As consequências da desnutrição são terríveis, mas podem ser prevenidas, se os líderes e suas comunidades assumirem responsabilidade coletiva e agirem em garantir uma nutrição adequada para todas as suas crianças.
O Fundo Graça Machel
O Fundo Graça Machel é uma associação de defesa que trabalha em todo o continente africano para proporcionar mudanças positivas nos direitos das mulheres e crianças, bem como governança e liderança. Através de nosso apoio a iniciativas locais e de nossas ações em conectar agentes-chave em níveis regionais, nacionais e subnacionais, ajudamos a catalisar a ação onde ela é necessária. Usando nosso poder de conhecimento, o Fundo possui o objetivo de dar voz às mulheres e crianças na África; influenciar a governança; e promover as contribuições das mulheres e a liderança no desenvolvimento social, econômico e político da África.

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