By Ana Beatriz Rosa
08/08/2018
A justificativa? As mulheres abandonam a profissão mais cedo para cuidar dos filhos.
A Universidade de Medicina de Tóquio interferiu em todas as notas do vestibular japones a partir de 2006, pelo menos. A informação faz parte dos resultados de uma investigação sobre propinas e corrupção na instituição e foi divulgada pela imprensa japonesa na última terça-feira (7).
De acordo com a instituição, prevalecia a ideia de que as mulheres "abandonariam o curso precocemente" para cuidar dos filhos e família. Logo, era preciso limitar o número de alunas por turma.
Os atuais diretores negaram conhecimento sobre o esquema e classificaram a situação como "séria". Durante coletiva de imprensa, eles disseram que consideravam admitir retroativamente todos aqueles que teriam passado nos exames, mas não explicaram como isso seria feito.
"Pedimos sinceras desculpas pelas graves irregularidades envolvendo os exames de admissão que causaram preocupação e problemas para muitas pessoas e traíram a confiança da sociedade. Houve uma falta de sensibilidade para as regras da sociedade moderna, em que as mulheres não devem ser tratadas de forma diferente por causa de seu gênero", disse o diretor administrativo da escola, Tetsuo Yukioka, em entrevista coletiva.
Esquema de propina e sexismo
As alterações nas notas das candidatas foram descobertas durante a investigação de um caso de propina dentro da instituição.
Antigos personages do alto escalão da universidade, Masahiko Usui, ex-presidente do conselho de administração, e Mamoru Suzuki, ex-presidente da instituição, foram acusados de elevar as notas do filho de Futoshi Sano, ex-funcionário do Ministério da Educação, em troca de tratamento preferencial em um programa do governo. Eles foram acusados pelo crime de suborno.
De acordo com o Guardian, a investigação constatou que a universidade havia reduzido em 20% as pontuações dos testes da primeira fase das candidatas. Já as notas do candidatos eram infladas artificialmente em pelo menos 20 pontos.
Não está claro quantas mulheres foram prejudicadas nesse esquema. No país, 50% das japonesas possuem diplomas de universidade, mas elas encaram dificuldades na hora de conseguir uma vaga no mercado de trabalho.
O resultado da investigação reforçou as alegações de sexismo institucional no Japão. O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, quer propor políticas para criar uma sociedade "na qual as mulheres possam brilhar".
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