segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Diálogos GN: Discutir maternidade também é política

No segundo vídeo da série, quatro mulheres e mães discutem, a partir de suas experiências e trajetórias, políticas possíveis para melhor experiência da maternidade no mercado de trabalho

Da Redação Gênero e Número
01/11/2018
Quais são as experiências das mulheres que têm filhos e, depois da licença-maternidade, retornam ao mercado de trabalho? Um período maior de licença é realmente o que interessa às mulheres? A partir desses questionamentos surgiu o segundo vídeo da série Diálogos GN Política 2018. Quatro mulheres bem sucedidas em suas áreas de atuação discutem, independentemente de ideologia política, quais os melhores rumos para a experiência da maternidade.

A pesquisadora e professora Cecília Machado, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), divide algumas reflexões feitas a partir da pesquisa produzida na instituição intitulada “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil” (em inglês). O estudo analisou dados sobre quase 250 mil mulheres que tiraram licença-maternidade entre 2009 e 2012 e traçou um panorama de como funciona o retorno das mulheres ao trabalho e como a maternidade impacta a trajetória profissional.

O papo é mediado pela codiretora da GN Giulliana Bianconi. A jornalista Daniela Silva divide suas experiências
O papo é mediado pela codiretora da GN Giulliana Bianconi (à esq.). A jornalista Daniela Silva divide suas experiências
“Existe um cumprimento da legislação, no sentido de que no período da licença-maternidade as mulheres continuam vinculadas a um determinado emprego, no qual elas tiraram a licença-maternidade. Mas a partir do fim do período da licença, por volta do quinto mês, a gente começa a observar uma saída do mercado de trabalho”, explica Machado.
A saída das mulheres, ela contextualiza, pode ser uma escolha delas enquanto funcionárias ou, ainda, refletir algum tipo de demissão após o período legal da licença. Sobre o aumento do período de licença, Machado explica que a evidência dessa necessidade é “um pouco mista”. A pesquisadora destaca a depreciação que existe quando a pessoa que trabalha se afasta muito tempo do seu posto, independentemente do gênero. “Muita licença não é positivo e nenhuma licença é negativo, então existe um balanço a ser considerado”, afirma.
A jornalista Daniela Silva ressalta a importância de pensar em políticas que considerem as diferenças e pontos de proximidade que há entre mulheres de classes econômicas mais altas e mais baixas:
 Não conheço nenhuma mulher de direita, esquerda, rica ou pobre que achou fácil voltar ao trabalho depois da maternidade. É difícil quando a gente está cercada de privilégios e estruturas, e eu imagino o quão difícil é para mulheres que não têm esse tipo de estrutura e esse tipo de privilégio que muitas de nós temos”
Silva relata sua experiência dividindo o contexto da fundação em que trabalha, onde há licença parental. Significa, segundo ela, que a organização enxerga todos os funcionários como potenciais pais ou mães, e que portanto nenhuma mulher é avaliada no momento da contratação com o peso do “evento maternidade”, o qual, como se sabe, é muitas vezes explicitamente citado pelos contratantes como um possível “obstáculo” para a carreira das mulheres.

Giovana Xavier é professora da UFRJ e analisa realidade de mulheres mães a partir dos relatos que ouve em sala de aula.
Giovana Xavier é professora da UFRJ e analisa realidade de mulheres mães a partir dos relatos que ouve em sala de aula.
Complementar à fala da jornalista, a professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Giovana Xavier analisa como este tem sido um momento importante para a discussão da responsabilidade acerca de uma criança. “Tem muito a ideia de que a maternidade e a criança são de responsabilidade natural da mulher, seja ela de direita ou de esquerda. Toda a sociedade tem rediscutido esses sentidos.”
Xavier chama a atenção para a necessidade de, além da licença-maternidade, também serem discutidas outras políticas públicas que podem beneficiar mulheres que são mães. “É muito importante que tenham políticas em que a ideia de licença-maternidade não fique restrita ao tempo de afastamento do trabalho para os primeiros cuidados. Precisa ter investimento sério na permanência, porque a maternidade é para sempre, assim como a paternidade”, analisa.
Confira o vídeo e as análises completas no vídeo abaixo.

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