Reese Witherspoon, Eva Longoria, Salma Hayek e Ashley Judd, no Globo de Ouro realizado em 7 de janeiro de 2018.STEVE GRANITZ (GETTY IMAGES)
Em Hollywood, há alguns anos, o feminismo era uma nebulosa. Um universo no qual só transitavam corajosas como Patricia Arquette, que se expunham nas cerimônias de premiação para lutar por salários dignos, enquanto a plateia aplaudia entre surpresa e quase obrigada.
Agora, felizmente, tudo mudou. O feminismo está presente. Também a denúncia. A queixa. Até o grito. A queda das barreiras da vergonha. A aceitação da naturalidade e também da fúria. E muito disso foi estimulado pelo movimento Me Too. As denúncias contra o produtor Harvey Weinstein e seus abusos de poder em Hollywood provocaram isso há dois anos. A sempre pacata e complacente indústria cinematográfica sofreu então uma implosão que a abalou profundamente e que continua 24 meses depois.
O desentupimento da tubulação trouxe uma explosão de imundície. Há dois anos o planeta contempla, boquiaberto, algumas das mulheres mais famosas, poderosas e admiradas de Hollywood relatarem como foram humilhadas, desprestigiadas, subjugadas e, nos casos mais extremos, até estupradas. E os nomes que vieram à luz depois desses atos não deixaram de causar a mesma estupefação: o ator Kevin Spacey, o fotógrafo Terry Richardson, o músico R. Kelly, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo ou, entre os mais recentes, o tenor Plácido Domingo.
O desentupimento da tubulação trouxe uma explosão de imundície. Há dois anos o planeta contempla, boquiaberto, algumas das mulheres mais famosas, poderosas e admiradas de Hollywood relatarem como foram humilhadas, desprestigiadas, subjugadas e, nos casos mais extremos, até estupradas. E os nomes que vieram à luz depois desses atos não deixaram de causar a mesma estupefação: o ator Kevin Spacey, o fotógrafo Terry Richardson, o músico R. Kelly, o jogador de futebol Cristiano Ronaldo ou, entre os mais recentes, o tenor Plácido Domingo.
Uma das primeiras a levantar a voz foi Mira Sorvino, que contou o assédio que sofreu por parte de Weinstein e como rejeitá-lo fez sua carreira soçobrar. Ela resumiu, com um sentimento que muitas outras provavelmente compartilhariam, como esse movimento tinha sido “maravilhoso, mas traumático”. “Eu não havia resolvido os traumas do passado. Eu realmente não tinha procurado a ajuda que precisava. Portanto, este último ano e meio foi um período muito interessante e difícil para mim”, disse ela em uma conversa ao lado do governador de Nova York em junho, explicando como ela mesma é “vítima de abuso sexual e sobrevivente de um estupro durante uma reunião”.
Sem atingir a gravidade de um estupro, as palavras assédio e abuso foram as mais repetidas por dezenas de atrizes. “Claro que enfrentei o assédio. Não acho que exista uma só mulher no mundo que não o tenha feito. Estou nessa há 30 anos, era muito normalizado quando comecei”, disse Reese Witherspoon dias atrás a uma rádio britânica. “Era quase uma condição de trabalho olhar para o outro lado quando te faziam esses comentários, ou inclusive coisas mais ofensivas”. O começo de Charlize Theron também não foram simples: em maio contou como, com 18 anos, em um teste, um produtor se excedeu com ela. Jennifer Lawrence também contou que, no começo da carreira, havia vivido “momentos humilhantes e degradantes”.
Não parece que as revelações acabarão no curto prazo. A verdade é que conseguiram ser um estímulo: tornaram-se a gasolina que empurrou para reclamar outros modelos de comportamento. Para começar, inclusive na maneira de se vestir. No Globo de Ouro de 2018, apenas três meses depois do Me Too, todas — e quase todos — estavam vestidos de preto. Naquele ano o prêmio de honra foi concedido a Oprah Winfrey, a primeira mulher negra a conquistá-lo, que proclamou: “Chegou a hora”. “Obrigado a todas as mulheres que aguentaram e suportaram anos de assédio. Como minha mãe, tinham filhos para alimentar e contas para pagar e sonhos para tornar realidade. São as mulheres cujos nomes nunca ouviremos”, proclamou.
Nos tapetes vermelhos não surpreendem mais os pés descalços ou as mulheres sem se depilar e sem se maquiar. Em uma época em que todos os corpos são louvados e não apenas aqueles canonicamente perfeitos, a empresa de lingerie Victoria’s Secret teve que dar um passo atrás e cancelar seu desfile em busca de opções mais inclusivas, como a Fenty, a elogiada linha de Rihanna.
Jessica Chastain pede igualdade salarial para ela e suas colegas: “Não há desculpa”. Priyanka Chopra confessou: “Eles me rejeitaram muitas vezes, eu chorei, me disseram que as atrizes são substituíveis nos filmes porque sempre vão atrás de um rapaz. Ser sexy não é nossa única força”. Até Meryl Streep questionou o sistema ao exigir por carta a vários congressistas “igualdade de salário, de direitos, na proteção dos abusos sexuais”. Penélope Cruz e Isabel Coixet usaram leques reivindicativos na entrega do prêmio Goya de 2018, com as hashtags #NiUnaMenos e #MasMujeres. E haverá mais. O Me Too entrará na história como a espoleta do fim de uma era caduca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário